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27 DE ABRIL DE 1973 5243

Mesmo assim, o Sr. Deputado Araújo Correia não quis deixar de dedicar-se à obra que engrandeceu durante quase quarenta anos. E pôde assim, com grave sacrifício dos cuidados que devia ter consigo mesmo, e numa altíssima noção do seu mandato de Deputado, pôde assim, felizmente, elaborar os relatório das contas, quer as respeitantes ao ultramar, quer à metrópole.
O que nós vamos discutir são as contas gerais do Estado, mas a base do nosso estudo ainda é o trabalho do Sr. Deputado Araújo Correia.

Vozes - Muito bem!

O Sr. Presidente: - Creio que a Mesa não exorbita dos seus deveres de não intervenção na discussão das matérias presentes à Assembleia, prestando homenagem muito sincera ao zelo, à dedicação e ao talento do Sr. Deputado Araújo Correia, que continuam a permitir esclarecer a Assembleia sobre um dos mais graves e importantes temas dos seus trabalhos: a apreciação das contas do Estado.

Vozes: - Muito bem! Muito bem!

O Sr. Presidente: - Tem a palavra o Sr. Deputado Roboredo e Silva.

O Sr. Roboredo e Silva: - Sr. Presidente, Srs. Deputados: Porque é a última vez que ergo a minha voz na Assembleia Nacional, as considerações que vou desenvolver a propósito das contas públicas de 1971, que permitem algum espraiar de ideias, serão uma espécie de testamento parlamentar e, se abordo alguns aspectos novos, peço desde já vénia pelos que venha a repisar. Debruçar-me-ei depois sobre as despesas militares, como fiz nos anos anteriores, e farei igualmente ligeiras considerações sobre a marinha mercante.
Antes de tudo seria ingratidão não voltar a endereçar uma palavra de alto apreço ao nosso eminente colega engenheiro Araújo Correia, pelo valioso trabalho com que mais uma vez mimoseou a Assembleia, ainda mais de salientar em face do seu precário estado de saúde. Este nosso colega dá bem o exemplo dos deveres que todos temos para com a Pátria, que é de todos nós e é digna dos maiores sacrifícios, pondo de banda egoísmos e incompreensões. Torno extensiva esta modesta homenagem aos distintos colegas que constituem a Comissão, designadamente ao Deputado Dr. Martins da Cruz, pelo seu trabalho complementar.

O Sr. Alberto de Alarcão. - Muito bem!

O orador: - E a propósito do egoísmo ocorre-me, um comentário sobre uma passagem do discurso que a nossa brilhante colega D. Raquel Ribeiro aqui proferiu quando tomou posição sobre o aviso prévio relativo à toxicomania. Disse então que num inquérito levado a cabo em França por uma professora do ensino secundário, de nome Jeanne Delais, o qual abrangeu 200 jovens seus alunos entre os 15 e os 16 anos, inferiu que três em cada quatro desejavam não se tornar adultos.
As razões alegadas foram várias, sobretudo contra o ódio e a violência, concluindo que "desejavam fazer parar o tempo, permanecendo na mesma idade".
O mais impressionante do caso é que a nossa colega resolveu fazer um teste entre jovens portugueses da mesma idade e o resultado foi semelhante. Desconheciam a palavra "fé" - os franceses, pelo menos -, só conhecendo o sentido da palavra "amor". Desejavam construir o seu futuro sobre o amor, e que não seria amor como os adultos o compreendem no mau sentido. Como são diferentes da minha estas gerações! Na minha geração, que educada no ambiente carinhoso mas austero da casa dos nossos pais, onde só se recebiam bons exemplos, de trabalho, moral e devoção à Pátria, todos ansiávamos por nos tornarmos adultos, terminar os nossos cursos para ganhar a vida e ser alguém.
Serão várias as ilações que podem ser tiradas dos resultados deste inquérito, mas para mim sobressai, desde logo, um grande egoísmo. Não assumir responsabilidades, não ser adulto e, portanto, não suportar as consequências de uma vida ao serviço da grei, da família e da Nação não me pode levar a conclusões diferentes. Por mim, encaro com tristeza, particularmente no nosso país, um tal estado de alma entre os nossos jovens, mormente na época tão crucial que a Nação é forçada a enfrentar, cheia de dificuldades que não provocou, mas lhe foram impostas pelas forças do mal apostadas em fazer do mundo português um verdadeiro inferno.
E aqui tem de surgir uma vez mais o problema da defesa do ultramar, que tão erradamente é compreendido por alguns maus portugueses, felizmente poucos. E são, todavia, individualidades estrangeiras, bem destacadas nos seus países, que nos fazem justiça. Ainda recentemente Jacques Soustelle, no seu livro Lettre ouverte aux victimes de la décolonisation, sobre as independências prematuras dos países africanos francófonos, entre outras coisas muito válidas, incluindo um capítulo dedicado ao nosso país, com o título "Conspiration international à 1'assaut de l'Afrique Portugaise", escreveu o período, que traduzo:

Os anos passaram, muitos outros decorrerão e a História, como se costuma dizer, julgará. No que me respeita, afirmo que a "descolonização" tal como foi executada será considerada como um dos episódios mais catastróficos, mais desonrosos e mais estúpidos da história do Ocidente. Para este, desde logo, mas ainda e sobretudo para os próprios descolonizados, para o que se chama o "Terceiro Mundo".

Não pode passar pela cabeça de ninguém, pela categoria intelectual e moral do autor e a sua imensa experiência colonial, que a publicação do livro não seja espontânea, sentida e realística.
Este livro, que está longe de ser um tratado, merecia, contudo, a reflexão de tanto transviado e mormente de larga difusão nos países socialistas do Ocidente, com primazia para os escandinavos.
A recente Conferência de Oslo, sob a égide da O.N.U. e O.U.A., com a assistência de delegados dos movimentos sediciosos e terroristas que nos atacam e aos dois países africanos de Governo branco da África Meridional, na sua sessão de encerramento, congratulou-se por ter sido reconhecida "a inevitabilidade da luta armada" em África. Isto não obstante os resultados terem sido algo decepcionantes, em relação ao que inicialmente esperavam.
E é para sessões subversivas como esta que nós pagamos a fim de manter a famigerada O.N.U., ou antes, a "Organização das Nações Desunidas".

Vozes: - Muito bem!