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1420 I SÉRIE - NÚMERO 43

entanto, está aqui! Está o Sr. Ministro, creio que o Sr. Ministro, João Salgueiro...

Uma voz do PSD: - Que palhaçada!

O Orador: - No entanto, admite-se que venha, de forma pouco explícita - que não se note muito; vem um de cada vez: vem o ministro agora, logo vem o secretário. Nem sim, nem sopas. Proponho que venha disfarçado, como surgiu ontem naquela reunião de líderes. Proponho que João Salgueiro venha disfarçado de merceeiro, Marcelo de contínuo. Basílio de hortelão, Viana Baptista de mestre de obras, Angelo Correia camuflado à GOE (Grupo de Operações Especiais) e Baião com fato de macaco. Assim teremos um governo a fingir que não é.

Uma voz do PPM: - Mas que falta de gosto!

O Orador: - Fazemos a vontade a todos menos ao povo, que não quer de facto que ele seja e que não vai em conversa de disfarces.

Uma voz do PSD: - Isto parece um delírio autêntico!

O Orador: - Sr. Presidente, Srs. Deputados: Só há uma posição digna da oposição. Exigir a dissolução da Assembleia da República, a nomeação de um governo de gestão sem AD e inviabilizar este golpe AD/Eanes, este golpe contra o povo.
Se o PS e o PCP permitirem que isto vá para a frente mostram que estão preparando a aceitação do pacto social para depois das eleições.
A gestão da AD até Maio não é patriotismo, como disse Mário Soares, é golpismo.
Vamos dar-lhe aval? Acho que não. Para nós, UDP, negativo! Não iremos nesta conversa. A UDP não colaborará nesta farsa. A UDP denunciou claramente as razões políticas que levaram a que isto aconteça e, em devida altura no princípio da discussão -, apresentou uma forma de não se discutir este Orçamento Geral do Estado e permitir a dissolução sem mais governo/AD a governar.

O Sr. Presidente: - Tem a palavra a Sr.ª Deputada Helena Cidade Moura.

A Sr.ª Helena Cidade Moura (MDP/CDE): - Sr. Presidente, Srs. Deputados: A etapa política que vamos encerrar caracterizou-se por um quotidiano doloroso e frustrante, mas foi também a certeza de que os homens e as ideias não se torcem à força de um poder governamental que, não servindo o País, não encarnando os valores sociais que são o cerne da realidade, tente, carregado de interesses individuais, impor o seu peso e vergar os objectivos que são, em sim, a própria dinâmica social.

Pausa.

ma voz do PSD: - Continue, Sr.» Deputada!

A Oradora: - Estou à espera que o Sr. Ministro tenha a bondade de me ouvir.

Uma voz do PSD: - Talvez não valha a pena!

A Oradora: - O período que acabamos de viver foi ainda um verdadeiro pesadelo sob o ponto de vista cultural.
O discurso do poder discorreu ao arrepio do entendimento colectivo e todo o país foi uma caixa de ressonância de confusas historinhas medíocres e partidárias, como se o País fosse, todo ele, uma telenovela, com meia centena de actores e os restantes meros figurantes ou simples espectadores desinteressados.
A cultura actuante, indispensável à vida de um povo, foi estruturalmente asfixiada pelo esquema ideológico e pela expressão governativa de que são responsáveis os partidos da AD.
Eles pousaram sobre nós, sobre o País, um olhar falsamente intelectualizado, falsamente mundividente, distante e repleto de mediocridade.
A cultura é, na sua essência, inter-relação, comunicação, assimilação e, como tal, a imagem que de nós os outros têm, é factor determinante da dinâmica social, como da identidade individual.
Os partidos da AD espalharam sobre o País um pensamento paralisante, vazio de conteúdo, descrente e sem dignidade. Para saber que isto é verdade basta para tanto analisar a forma como o governo se relacionou com esta Assembleia e a imagem que dela nele se reflectiu.
A Assembleia da República foi um órgão incómodo, embora com uma maioria formalmente presente, ela representou o tal povo português que sempre sobrou nos cálculos da AD, mas o governo simplificou esquematicamente essa incomodidade.
Os deputados foram divididos em 2 classes: os que reproduzem o discurso do poder e os outros que não eram para ouvir, alguns destes pertencem ou pertenciam mesmo à maioria, foram-se calando um a um, subindo a passo e passo as escadas do hemiciclo cada vez mais próximos da porta de saída, enquanto os medíocres preenchiam os seus lugares.
Mesmo na hora da despedida o Governo não foi capaz de ter uma atitude frontal perante esta Assembleia: reúne com os deputados da maioria e mandata membros do seu governo para missões especulativas junto da oposição perante a qual se apresenta com a linguagem da incerteza, da falta de objectivos concretos, da falta de memória, evitando mesmo um papelinho no bolso que possa comprometê-lo. O poder exibe a sua retórica até ao momento em que, finalmente, tira da cartola um coelho de plástico, igual a um que já lá tínhamos no gabinete, e fomos incumbidos da tarefa de analisar ao microscópio e encontrar as diferenças. O Governo ficou feliz porque, no seu entender, isto é um acto político e isto lhe basta para se sentir inteligente e eficaz.
Sr. Presidente, Srs. Deputados: Aos partidos da AD, de facto, de nada lhes serve a experiência. A verdade, porém, é que o País está em ruínas, os homens desesperados ou inertes.
Os partidos da AD iniciaram uma viagem com uma rota ao arrepio das ondas, dos ventos e das marés, destroçaram o que encontraram na sua curta navegação e acabaram por apodrecer agarrados ao cais do medo! É grande a força do nosso povo.
Os partidos da AD cercaram o seu medo de fantasmas, contra os quais investiram: primeiro, foi o Conselho da Revolução - desapareceu; depois, era a Constituição de 1976 - alteraram-na; agora, o último fantasma, o último reduto das suas transferências, vai-se dissolver, a Assembleia da República vai fechar e o vazio cresce e aperta-se em volta dos políticos do PSD e do CDS.