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4 DE FEVEREIRO DE 1983 1435

O Orador: - Quanto ao Sr. Deputado António Guterres, devo dizer que gostei muito da intervenção que fez em resposta à minha modesta intervenção.
Queria, no entanto, chamar-lhe a atenção para o facto de que embora eu seja um economista de empresa - me parece que foi em 1976,1977 e 1978 que se processou o período de recuperação da primeira crise petrolífera.
O Partido Socialista aproveitou-se realmente desse facto, tendo feito uma gestão razoável, que não contesto, para a economia nacional.
No entanto, o Sr. Deputado esqueceu-se de que em 1979 surgiu uma nova crise petrolífera. Como surgiu, tivemos que a suportar e ultrapassar.
Não queria chamar aqui, para juntar a tal facto, o problema do mau ano económico que tivemos em 1981. E não queria chamar porque, como o Sr. Deputado sabe, as importações, nesse ano, foram extraordinariamente elevadas, no sentido de satisfazer as necessidades dos Portugueses, o que era uma obrigação nossa.
Não queria também deixar de chamar a atenção para o facto de que a crise energética, resultante de más condições climatéricas, afectou bastante, nesse ano, a balança de pagamentos nacional, o que se reflectiu nos anos seguintes e se irá reflectir ainda este ano. De facto, ainda iremos viver um ano de crise energética, dado o estado actual das nossas barragens. Não vale a pena camuflar isto, Sr. Deputado.
Sabemos e reconhecemos que o Partido Socialista geriu como pôde e que obteve os resultados que obteve.
O Governo da responsabilidade da Aliança Democrática obteve os resultados que obteve e que não foram tão maus como se diz. Poderiam, talvez, ter sido melhores. Não sei. A história o dirá.
Quanto à fuga às responsabilidades, devo dizer-lhe, Sr. Deputado, que não é à minha bancada que se tem que dirigir. Se alguém foge, não somos nós. Falei em nome da minha bancada. Reafirmo: nós responsabilizar-nos-emos.

Aplausos do PSD.

O Sr. Presidente: - Tem a palavra, para protestar, o Sr. Deputado António Guterres.

O Sr. António Guterres (PS): - Sr. Deputado Portugal da Fonseca, é verdade que o mundo sofreu até hoje 2 chamados choques petrolíferos: o primeiro, em fins de 1973; o segundo, em fins de 1979. Ambos tiveram um impacto sobre a economia internacional, o que é bem conhecido de todos.
Simplesmente, a verdade é que nunca em relação ao primeiro choque petrolífero se verificou, como consequência, um desequilíbrio externo das nossas contas como aquele que se veio a verificar em circunstâncias paralelas com o segundo.
Mais grave do que isso é o facto de o desequilíbrio externo que hoje verificamos estar -em comparação com o de um conjunto de outros países, também eles afectados por esse mesmo choque petrolífero muito acima daqueles que se verificam em todos os países da zona da OCDE.
Sofremos em 1982 ano em que não se verificou qualquer subida do preço do petróleo e que não houve um período de seca particularmente grave, ano em que se verificaram, no plano internacional, algumas circunstâncias favoráveis para permitir a nossa recuperação uma nova degradação da situação económica em relação àquela que j á tínhamos verificado em 1981.
É necessário dizê-lo para que se faça justiça. De facto, há muitos que sendo responsáveis por bastante do que se passou procuram agora «tirar a água do capote» e apontar apenas as responsabilidades dos que hoje têm a seu cargo a governação.
Do meu ponto de vista, tudo começou em 1980, quando - no momento em que o choque petrolífero se produzia, em que se verificava internacionalmente que era preciso ser cauteloso e em que tudo a isso aconselhava - em Portugal se seguiu uma política de esbanjamento económico, que teve as mais graves e sérias repercussões.

Vozes do PS: - Muito bem!

O Orador: - Quando se está em descida e se acelera é inevitável que se empurra o carro para o fundo dessa descida, que pode mesmo ser o abismo.
O que às vezes muito me espanta é verificar que os responsáveis pela gestão económica em 1980 são hoje, também eles, os que se levantam para criticar os actuais responsáveis, os quais já herdaram uma situação muito deteriorada e que, infelizmente, não saberão talvez fazer invertê-la como deveriam.

Vozes do PS: - Muito bem!

O Orador: - Naturalmente que não pretendi, Sr. Deputado, atingir neste momento a sua bancada em termos de fuga às responsabilidades. No entanto, também me parece que a forma precipitada como o Sr. Primeiro-Ministro - líder do partido a que pertence o Sr. Deputado - apresentou o seu pedido de demissão, sem que o OGE estivesse preparado, e a forma como o Governo atrasou a apresentação do Orçamento a esta Câmara , fazendo-o passar para além das eleições autárquicas, em muito contribuíram para a situação que estamos neste momento a viver.

Vozes do PS: - Muito bem!

O Sr. Presidente: - Tem a palavra, para responder, o Sr. Deputado Portugal da Fonseca.

O Sr. Portugal da Fonseca (PSD): - Sr. Deputado António Guterres, quanto à gestão de 1980 estarei um poucochinho em desacordo com V. Ex.a
O que é facto é que os relatórios internacionais, quando analisaram a situação económica portuguesa de 1980, também se admiraram de como foi possível projectar a economia portuguesa, num só ano, para os níveis e para os índices que ela apresentou.

Vozes do PSD: - Muito bem!

O Orador: - Não sei se tal gestão foi boa ou má. Não emito juízos de valor. Não sei se acelerou ou se desacelerou. Estou unicamente a reportar-me a relatórios internacionais e esses elogiaram essa gestão, que era da responsabilidade de um ministro do meu partido, um ministro de quem a minha bancada se orgulha e que obteve, realmente, bons resultados.

Aplausos do PSD.