O texto apresentado é obtido de forma automática, não levando em conta elementos gráficos e podendo conter erros. Se encontrar algum erro, por favor informe os serviços através da página de contactos.
Não foi possivel carregar a página pretendida. Reportar Erro

19 DE JUNHO DE 1985

3445

O Orador: - Resumidamente, pode-se dizer que o tom da sua intervenção foi o de alinhar o próprio CDS na desresponsabilização do PS e do PSD que formavam o bloco central e, também, do CDS - que com o PS governou em 1978 e que durante 2 anos e meio governou com o PSD - relativamente à situação política a que se chegou e que resulta de uma política completamente errada, como o Sr. Deputado Lucas Pires sabe muito bem.
É esta a questão central.
A sua intervenção, Sr. Deputado Lucas Pires, não se destinou a criticar a maioria pela sua irresponsabilidade mas, pelo contrário, destinou-se a dizer à maioria: «Vejam lá se ainda conseguem resolver isto. Vejam lá se encontram uma forma de se aguentarem porque nós, CDS, e eu, deputado Lucas Pires, estamos interessadíssimos em que vocês prossigam.»
É esta questão que é o centro da sua intervenção.
O Sr. Deputado Lucas Pires sobe à tribuna dizendo: «Vamos discutir na Assembleia a crise e as soluções» e não faz nem uma coisa nem outra. Não discute a crise porque não lhe interessa, porque participa nela, e não discute as soluções porque não é o que quer ou porque não as tem.
Ora, o que lhe pergunto é se este é um esforço de clarificação da situação política.
Até lhe pergunto mais: sendo certo que o CDS manifestou ou, pelo menos, disse publicamente que o PS e o PSD, embora fundamentalmente o PS, manipulavam a comunicação social, que tinham na mão os instrumentos fundamentais, nomeadamente a RTP e RDP, como é que o Sr. Deputado Lucas Pires pode sustentar que seja este governo a permanecer em funções num período de eleições, num período de campanha eleitoral? 15to é, que ao longo de todo este tempo tal Governo permaneça em funções com toda a possibilidade e capacidade de manipulação da opinião pública, utilizando abusivamente alguns dos meios da comunicação social em seu próprio favor.
Como é que o Sr. Deputado Lucas Pires consegue conciliar as críticas que, em nome do seu partido, têm sido feitas ao uso abusivo da comunicação social com a proposta de que este governo se mantenha em funções?
Este é um ponto que me parece que o Sr. Deputado tem de explicar demoradamente.
15to é, tem de explicar como é que consegue ser favorável a um quadro eleitoral isento quando aqueles que manipulam a comunicação social são quem detém o comando do Governo.
Um segundo ponto. Como é que o Sr. Deputado Lucas Pires concebe que um governo que acusa de irresponsável, constituído por partidos que considera irresponsáveis, coloque perante o País e perante o infortúnio de Portugal a aprovação de um tratado com a importância que tem o Tratado de Adesão à CEE?
15to é, o PS e o PSD, este governo, são ou não irresponsáveis?
Ou será que são irresponsáveis perante o País para efeitos menores, mas já não são responsáveis para efeitos maiores, para os que têm maior incidência no nosso futuro?

A Sr.ª Ilda Figueiredo (PCP): - Boa pergunta!

O Orador: - O Sr. Deputado Lucas Pires, pode, eventualmente, ter feito esta intervenção também para veicular a sua postura no que toca às negociações

prévias em torno dos actos eleitorais ou para demonstrar que, respondendo aos deputados um a um e gastando este tempo, estava numa posição de liderar. Mas a questão que se coloca neste momento não é a de liderar ou não liderar. A questão que se coloca é uma e tão-só a de saber como resolver a crise política em termos de encontrar uma solução governativa que implique e assegure isenção face aos actos eleitorais próximos que são da maior importância para o País.
Quer o Sr. Deputado Lucas Pires explicar aqui com clareza qual é o pensamento do CDS, quer clarificar finalmente qual é o pensamento do CDS ou, pelo menos, qual é o seu pensamento?

Vozes do PCP: - Muito bem!

O Sr. Presidente: - Para responder, tem a palavra o Sr. Deputado Lucas Pires.

O Sr. Lucas Pires (CDS): - Sr. Presidente, Srs, Deputados: Quanto às soluções, devo dizer que já me referi a elas e, então, vou resumi-Ias mais uma vez. Do nosso ponto e vista, as soluções são: eleições gerais antecipadas e a manutenção do actual Governo até às próximas eleições.
Esta última solução, que é a que causa mais dificuldades de compreensão ao Sr. Deputado João Amaral, no fundo, tem três razões principais.
Uma delas é uma razão de economia - e devo dizer que não são razões do ponto de vista do CDS, admito - pois, os actuais ministros já conhecem os dossiers respectivos e ainda por cima, segundo consta, todos eles querem continuar a gerir os seus dossiers.

Risos do CDS.

O Sr. Narana Coissoró (CDS): - Essa está boa!

O Orador: - Esta solução é uma solução económica visto que qualquer novo ministro que assuma uma destas pastas vai estar 4 meses a apreender os dossiers respectivos...

O Sr. José Magalhães (PCP): - A manipular!

O Orador: - ... o que significa que só conhecerá esses dossiers quando sair, depois das eleições que vai haver.
Por ouro lado, trata-se de uma solução estável. E porque é que é uma solução estável? Porque significa que só vai haver dois governos que são este que já existe e o outro que vem a seguir. Não vai haver nenhum governo no meio, nem vai lançar sequer a confusão no eleitorado que pode vir a ser consultado nas próximas eleições. Pois pode pôr-se a questão: mas que governo é que estamos a julgar? É muito simples, é aquele que continua a funcionar, é o Governo do PS e do PSD. 15so é muito simples...

O Sr. Narana Coissoró (CDS): - 15so é o que o PC não quer!

O Orador: - ... é muito lógico, porque se houvesse algum novo governo no meio o eleitorado ia-se interrogar: mas afinal temos um novo governo, qual é o governo que estamos a julgar?