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Uma, é que a população do nosso país sabe perfei-
tamente por que razão se deu o malogro do Governo.
E avaliou-o de tal forma negativamente que outra coisa
não esperava senão a sua queda. Até o Sr. Deputado,
na medida em que falou mais adiante no pântano para
que esta política conduzia o País, parece ter reconhe-
cido que a responsabilidade do malogro deste governo
resulta da sua política e unicamente disso.
Por outro lado, é neste quadro que o Sr. Deputado
sustenta que, embora admitindo eleições legislativas an-
tecipadas, este governo malogrado deve permanecer.
Parece que da insistência do Sr. Deputado quanto à
necessidade de vir aqui ser explicado o malogro e as
razões da crise deste governo, se terá de tirar a con-
clusão de que o Sr. Deputado sente, no fundo, uma
certa melancolia pelo fim dele. Sente tanta melancolia
que, mais à frente, embora defendendo eleições legis-
lativas antecipadas, o Sr. Deputado defende a manu-
tenção deste governo. 15to significa, portanto, que a
oposição do CDS a este governo e à sua maioria seria
afinal uma meia oposição, uma oposição colaborante
em vez de ser uma oposição clara ao Governo e à sua
maioria, o que é tanto mais estranho quanto é certo
que o Sr. Deputado não pode naturalmente separar o
Governo da sua maioria e esta tem caracterizado, tanto
como aquele, a política desenvolvida perante o País.
A perda de credibilidade do governo e da maioria re-
sultam da acção solidária de ambas as forças, visto que
o Governo contou sempre com o apoio dela para fa-
zer aprovar as suas propostas e não é possível separar
a actuação de um e de outro. 15to é ainda agravado
pelo facto de o Sr. Deputado ter reconhecido que existe
uma manipulação da comunicação social, quando se re-
feriu à presença repetida de representantes políticos do
PS e do PSD na televisão.
Sendo assim, é difícil compreender como é que um
governo destes poderia assegurar a limpidez, a hones-
tidade e a lisura de um debate eleitoral futuro.
Finalmente, gostaria ainda de perguntar ao Sr. Depu-
tado se ao falar na responsabilidade pelo pântano
que este governo ajudou a criar no País, tem em conta
apenas o pântano dos últimos 2 anos ou aquele que
vem dos 3 anos anteriores do Governo da AD.
O Sr. Deputado aludiu mais do que uma vez à coli-
gação, como a aliança, da social-democracia e do so-
cialismo. Em relação ao socialismo, o Sr. Deputado
afirma isto pelo facto de um dos partidos da coliga-
ção se chamar PS? É que só por graça é que se pode
dizer que em Portugal existe algum socialismo porque,
como o Sr. Deputado sabe, o próprio líder do PS há
muito que afirmou que tinha metido o socialismo na
gaveta e não consta que de lá o tenha retirado.

O Sr. Presidente: - Tem a palavra o Sr. Deputado
Ângelo Correia.

O Sr. Ângelo Correia (PSD): - Sr. Presidente,
Srs. Deputados: Creio que a presunção do Sr. Deputado
Lucas Pires, como ele próprio afirmou, era fazer uma
declaração importante. Na prática, creio que o con-
teúdo e o alcance das suas palavras estão nos antípo-
das da sua presunção.
Começou o Sr. Deputado Lucas Pires por manifes-
tar estranheza perante duas circunstâncias: a primeira,
é o Parlamento ser marginalizado neste processo de,
como referiu, auto-dissolução da Assembleia; a segunda,

a não apresentação de soluções. Creio que as duas

1 SÉRIE - NÚMERO 93

circunstâncias apresentadas pelo Sr. Deputado Lucas Pires são falsas e escondem outra realidade política.

O Sr. Deputado Lucas Pires sabe que o vice-presidente da Comissão Política do meu partido aqui nesta Assembleia e o presidente do Grupo Parlamentar do PS e membro da sua Comissão Permanente - e não tenho mandato para falar em nome do PS, mas é o mínimo de constatação política que se faz, nesta Assembleia e há algum tempo - explicaram, logo a seguir ao eclodir da crise, e deram as razões perante o local próprio, onde o problema teria sido posto.

Quereria porventura o Sr. Deputado Lucas Pires que se transformassem todos os períodos de antes da ordem do dia no que se está a passar hoje? Quereria ele que se transformasse numa eventual chicana política, de modo a que se diminuísse o papel, o alcance e a natureza do próprio Parlamento perante a opinião pública portuguesa, um lavar da roupa suja? Será que isso era dignificante para o próprio Parlamento?

O Sr. Manuel Moreira (PSD): - Muito bem!

O Orador: - Será que ele queria antecipar o papel do Parlamento quando tiver de aprovar o eventual novo governo até às eleições? Porque é que o Sr. Deputado Lucas Pires quis uma translação da função parlamentar em termos de a diminuir, em termos de diminuir o papel e o estatuto do próprio Parlamento.

Em segundo lugar, o Sr. Deputado Lucas Pires manifestou estranheza perante a não apresentação de soluções. Deve andar ocupado com outros problemas porque, com certeza, reparou e ouviu que ambos os partidos da maioria - ou da anterior maioria - explicitaram ao País aquilo que queriam e adoptaram a solução normal em democracia, e não o Sr. Deputado Lucas Pires, que quis vir aqui fazer uma apologia da democracia. Então, se é assim, sejamos consequentes com o mecanismo normal da democracia, que é dar a palavra à população, para se expressar em termos de correlação e ponderação das forças políticas. Ou quereria o Sr. Deputado que encontrássemos soluções de bastidor, de corredor, contrárias àquilo que o Sr. Deputado afirmou como método normal de vivência e de travejamento da própria democracia? Está a criticar-nos pelo processo correcto e, se porventura, o não fizéssemos, estaria talvez a criticar-nos por utilizarmos um processo incorrecto.

No fundo, a lógica do Sr. Deputado Lucas Pires é querer acusar-nos de «estar preso por ter cão ou por não o ter».

Mas o que o Sr. Deputado Lucas Pires afirmou - e é grave, em democracia, que o tenha afirmado - é que ele, na sua lógica de partido, esteve com o Partido Socialista em 1978 para liquidar o socialismo. Ou seja, o Sr. Deputado Lucas Pires defendeu que a posição do CDS era uma posição de má fé política, isto é, estava numa coligação por ser contra ela e para destruir a essência e a lógica do pensamento do seu parceiro de coligação. Quererá o Sr. Deputado Lucas Pires que outros partidos do cenário político português assumam a mesma atitude de má fé e deslealdade interpartidária? Será esse o dignificante e nobre exemplo de democracia que nos está aqui a propor?

Vozes do PSD: - Muito bem!