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19 DE JUNHO DE 1985

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Foi esse o sentido da minha intervenção. E o moral não é criticar que um deputado venha aqui por o problema mais grave e actual da vida portuguesa; o grave e o imoral é que os deputados da maioria tentem evitar e combater que o problema da queda deste Governo seja trazido a este Parlamento. 15so é que é grave.

O Sr. Ângelo Correia (PSD): - Dá-me licença, Sr. Deputado?

O Orador: - Faça favor, Sr. Deputado.

O Sr. Ângelo Correia (PSD): - Sr. Deputado, mais uma vez, há um equívoco: nós não criticámos o facto de V. Ex.ª vir aqui trazer o problema. O que nós criticámos foi a afirmação de que nós não o tínhamos trazido ao Parlamento.

Mas há uma opção de fundo: V. Ex.ª disse, na sua intervenção, que era preciso que neste Parlamento se fizesse a autópsia da coligação. Ora, é essa visão necrófila e masoquista da política que nós não temos.

O Orador: - Sr. Deputado Ângelo Correia, acho que aquilo que acabou de dizer acrescentou algum toque literário à sua intervenção mas, salvo isso, ficámos exactamente na mesma.

Risos.

É evidente que é sempre bom saber que os engenheiros são bons juristas ou bons literatos, como é o caso de V. Ex.ª Mas, realmente, isso não acrescenta muito à situação.

O Sr. Ângelo Correia (PSD): - É pior saber que um jurista é um mau analista político, como V. Ex.ª

O Orador: - Queria dizer-lhe ainda outra coisa: podem ter os candidatos que queiram e todos os líderes que queiram, mas não falem em nome do CDS porque é muito natural que se venham a arrepender disso.

Não falem em nome do CDS porque o CDS tem quem fale em seu nome e, felizmente, não por adjudicação de quem quer que seja - sejam vocês ou outros -, mas por conquista legítima e afirmação democrática daqueles que se batem nesta tribuna e se batem perante o País nestas circunstâncias.
Que a sua social-democracia queira expropriar muitas coisas em Portugal é coerente com o seu projecto. Mas que queira expropriar o único projecto que não é social-democrata nem socialista, isso não, Sr. Deputado Ângelo Correia porque, seguramente, nós não deixaremos. E pode ter a certeza de que não haverá aqui necessidade de falar em nome de ninguém, nem mais que os jornais que falam em seu nome e no do seu partido. Não, Sr. Deputado, nós não seremos a sombra de ninguém, seremos apenas a nossa própria voz, com dignidade, altura, elevação e sentido do combate até ao fim. É que não é uma manobra nem um maquiavelismo aquilo que nós aqui dizemos ou aquilo que nós sempre diremos ao povo português. Disso pode ter a certeza, Sr. Deputado.

O Sr. Ângelo Correia (PSD): - Não, é uma displicência!

O Orador: - De resto, Sr. Deputado, houve uma coisa boa na sua intervenção, que foi o facto de ter falado em nome do Partido Socialista e do Partido Social-Democrata. Estava a estranhar que já não houvesse aqui nenhum porta-voz comum dessa maioria. Ainda bem que defendeu, enfim, uma virgindade algo estragada mas, em todo o caso, respeitável...

Risos.

... desses dois partidos, ao fim de 2 anos de Governo, ao fim de 2 anos insuportáveis de Governo, em que a crise foi permanente, em que a rejeição do povo português foi permanente. Por muito que o PSD esteja habituado a ser oposição e Governo ...

Risos.

... ao mesmo tempo - e, neste caso, mais oposição que Governo, ainda que há 15 dias mais Governo do que oposição - não é isso que esconderá, para ninguém, essa responsabilidade.
Aliás, uma das razões porque eu defendia que o PS e o PSD continuassem no Governo é que o PSD está tão habituado a ser oposição e Governo ao mesmo tempo que nenhum mal fazia mais um período desse tempo.

Risos.

E uma última coisa, Sr. Deputado: acredito que os projectos nos dividem; acredito que a social-democracia seja a alma, portanto, musculada e vertiginosa ou segundo outro modelo qualquer. Tivemos um Partido Socialista que sempre prezou muito o exemplo gaulês, francófono, e isso tem um anedotário todo à sua conta; temos agora uma social-democracia vigorosa, à alemã. Ainda bem que a social-democracia é assim, que se assume, que é anti-liberal e que é «anti» essas coisas todas. Muito bem! Mas, para nós, Sr. Deputado, o socialismo ou a social-democracia são apenas um meio colectivismo.
Como disse um nosso antepassado teórico, o Sr. Ludwig Ehrardt, o socialismo ou a social-democracia é como estar meio grávido: é uma coisa que não existe e, sobretudo, não é fértil.

Risos do CDS e do PS.

Portanto, do socialismo ou da social-democracia, nada esperaremos para Portugal, por muitos, bons e capazes que sejam os governantes do PS e do PSD ou por muito literários que sejam os seus porta-vozes nesta Assembleia.

Aplausos do CDS.

Entretanto, assumiu a presidência o Sr. Presidente
Fernando do Amaral.

O Sr. Ângelo Correia (PSD): - Sr. Presidente, peço a palavra.

O Sr. Presidente: - Para que efeito deseja usar da palavra, Sr. Deputado?

O Sr. Ângelo Correia (PSD): - Para o exercício do direito de defesa, Sr. Presidente.

O Sr. Presidente: - Tem a palavra, Sr. Deputado.