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19 DE JUNHO DE 1985 3453

O Orador: - Sr. Deputado Lucas Pires, ainda a propósito de social-democracia, V. Ex.ª criticou a social-democracia e o socialismo. Tem todo o direito disso, tem todo o direito de fazer uma crítica. É óbvio. Simplesmente, em nome de que coerência o fez? Não foi V. Ex.ª que também ajudou a consolidar a social-democracia em Portugal? Curiosamente, referiu um facto significativo, o de o PSD, com 24 % dos votos ter tido um primeiro-ministro e com 27 % não ter tido. Pois é, teve um primeiro-ministro com 24 % dos votos, com o apoio de V. Ex.ª e do seu partido que, com isso, ajudaram a consolidar uma versão que também tinha vectores sociais-democratas!
Como pode, V. Ex.ª, estar hoje a inibir-se ou a fazer críticas a alguém, a um projecto e a um protagonista que, na prática, protagonizou um projecto que V. Ex.ª atravessou, cruzou e viveu, até no plano social?! Com que lógica democrática, pessoal e ética, pode V. Ex.ª fazer hoje essa intervenção?
Mais, Sr. Deputado Lucas Pires: no plano parlamentar, V. Ex.ª criticou o PSD por agora romper uma coligação e não continuar com ela.
Mas, Sr. Deputado Lucas Pires, toda a gente sabe e V. Ex.ª, que é um líder político possivelmente informado da política portuguesa, também sabe que o PSD esteve na coligação por duas razões essenciais: uma, para colmatar uma situação financeira difícil, que foi vencida - e não há duvida de que está vencida - e, num segundo plano, para fazer reformas de fundo, ou seja, aquilo que V. Ex.ª disse ser «a necessária coragem das reformas de fundos».
Sr. Deputado Lucas Pires, a partir do momento em que sentimos que as reformas de fundo não caminhavam com a celeridade, a amplitude e o alcance que, nós próprios. nos tínhamos auto-proposto, é óbvio que o argumento que utilizou para a ruptura da coligação estava, na prática, manifesto e expresso. V. Ex.ª, Sr. Deputado, é que deu uma das razões fundamentais para que a própria coligação não vingasse: não foi V. Ex. a que a considerou em certo tempo, algo que não podia subsistir? Pois não subsistiu, mas com uma razão de fundo e de lealdade, que tivemos: é que, enquanto VV. Ex.ªs estiveram na coligação - como disse - de má fé, para liquidar o socialismo, nós estivemos - e estaríamos, noutras circunstâncias, num quadro interpartidário - com o Partido Socialista, de boa fé, para se cumprir algo com que ambos concordámos.

Vozes do PSD: - Muito bem!

O Orador: - A diferença fundamental entre nós, Sr. Deputado, é que V. Ex.ª partilha à priori de um ponto de vista de má fé em relação a quem quer que seja e nós temos, à partida, um ponto de vista de boa fé. Queremos provar, de prova provada, que as coisas não se cumprem para então as podermos levar às inevitáveis consequências.

A Sr.ª Amélia de Azevedo (PSD): - Muito bem!

O Orador: - Desse modo, Sr. Deputado Lucas Pires, quando V. Ex.ª quis colocar o problema de os deputados do PSD fazerem hoje algo diferente daquilo que fizeram há 2 anos... Oh Sr. Deputado Lucas Pires, não atire a primeira pedra! Então, não foi V. Ex.ª, em 1978, que votou a favor do governo PS/CDS - é

certo, com má fé - para daí a 6 meses dizer o contrário? Como é que nos pode atacar hoje de uma prática política que nos esperámos de boa fé quando, V. Ex.ª, há 6 ou 7 anos atrás, fez exactissimamente o mesmo? É claro, V. Ex.ª dirá: previsão política, foi a inteligência que eu tenho, que ao fim e ao cabo, em 6 meses, percebemos que não valia a pena. Não Sr. Deputado Lucas Pires, é que há 7 ou 8 anos, V. Ex.ª esteve de má fé e quem o diz não sou eu, mas a sua própria intervenção. Hoje, V. Ex.ª demonstrou o falseamento básico na postura democrática da inter-relação entre partidos. É que, na prática, temos de estar de boa fé, uns com os outros, sejam eles quem forem, desde que possamos partilhar ideias conjuntas. E nós partilhamos muitas ideias com o Partido Socialista e também muitas com o CDS. Mas, ai de nós, posicionarmo-nos como V. Ex. e está hoje a fazer, num ghetto político!
E aqui concluo: Sr. Deputado Lucas Pires, a sua intervenção é, em parte, o resultado do Congresso da Figueira da Foz porque uma das conclusões políticas fundamentais dos últimos 2 meses ë que a candidatura do Prof. Freitas do Amaral e a vitória do Prof. Cavaco Silva, no PSD, diminuem a manobra táctica pessoal de V. Ex.ª e, eventualmente, do CDS.

Uma Voz do PSD: - Exacto!

O Orador: - O que V. Ex.ª hoje vem aqui fazer é, parafraseando alguém, o seguinte: eu falo, logo existo. V. Ex.ª vem fazer um esbracejamento político,...

Risos do PSD.

... sem qualquer nível de consistência e de propositura. Mais: neste momento, se perguntar a muitas bases do CDS, talvez elas estejam contra aquilo em que V. Ex. e está a meter o CDS, ou seja, num ghetto político, ...

Vozes do PSD: - Muito bem!

Vozes do CDS: - Não apoiado!

O Orador: - ... num maximalismo: ou ganhamos, ou somos ou não somos mais nada!
V. Ex.ª não tem nada que falar em nome do CDS e talvez em muitas áreas do seu partido, ele próprio lhe questione e pergunte se V. Ex.ª não está a esbracejar demasiado para mostrar que está vivo e manda em alguma coisa.
Sr. Deputado Lucas Pires, na prática, as coisas medem-se pelo seu resultado. V. Ex.ª está a fugir para a frente; está talvez numa óptica de arrependimento de 2 anos em que foi uma oposição, não suficientemente forte, nem credível em termos políticos, para hoje em dia poder ser a alternativa que, no seu discurso, quer ser sozinha.
Mas talvez o Sr. Deputado Lucas Pires esteja a ma-
nifestar hoje, perante esta Câmara e perante o País,
o seu grande temor perante os resultados da Figueira
da Foz e pela candidatura do Prof. Freitas do Amaral.
Cada um tem os temores que tem; esse é o temor de V. Ex.ª, não é o nosso.

Aplausos do PSD.