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11 DE JULHO DE 1995 4071

não o digo. Mas esse problema pode ser de uma gravidade muito grande e não há «Jardins» que aguentem.
Em relação ao concentrado de tomate, quero dizer que é uma das áreas em que podemos dizer que não estamos propriamente afectados. Mas o nosso mercado para o concentrado de tomate sempre foi potencialmente favorável. Quanto aos preços, eles não são beneficiados grandemente pela Comunidade. No entanto, esse sector não é criticável. Só que o problema está em que o concentrado de tomate, na globalidade dos nossos produtos agrícolas, dos nossos problemas económicos, em termos de dependência em relação ao exterior, em termos de grau de autoabastecimento e, até, de expressão económica que as nossas exportações têm, dispõe de uma dimensão relativa. O que é o concentrado de tomate no contexto dos problemas que se colocam à nossa agricultura?

O Sr. Jorge Lemos (PCP): - Muito bem!

O Orador: - As coisas têm a sua dimensão e não podem alterá-las.
Quanto ao leite, e para concluir, queria apenas acrescentar que temos uma produtividade baixa, sem dúvida. De qualquer modo, em termos comparativos com a CEE, é das produtividades, em média, mais aproximada das produtividades europeias.
Temos uma dimensão de exploração muito pequena, mas devo chamar-lhe a atenção para o facto de que aqueles que mais consomem alimentos compostos e fabricados com produtos importados nem sequer são, curiosamente, as nossas explorações leiteiras, mas, sim, por exemplo, os bovinos de engorda.
Disse que não podemos proteger artificialmente as explorações não rentáveis. Dir-lhe-ei, Sr. Deputado, que, em nosso entender, o que temos fundamentalmente de proteger é a garantia da produção efectiva do que podemos produzir no nosso país, para que a nossa dependência em relação ao exterior não se agrave. E, quer o Sr. Deputado queira, quer não, a verdade é que a estrutura produtiva leiteira é aquela que temos e se a destruir não temos nenhuma outra alternativa, nem esta se constrói em 5 ou 10 anos. Se a destruirmos, em lugar de produzirmos 80% das nossas necessidades de leite, vamos ter de importar esses mesmos 80%a.
Sr. Deputado, não meta mais água, porque isso, realmente, não o leva a lado nenhum!

Aplausos do PCP.

O Sr. Presidente: - Para uma intervenção, tem a palavra o Sr. Deputado José Augusto Seabra.

O Sr. José Augusto Seabra (PSD): - Sr. Presidente, Srs. Deputados: A adesão à Comunidade Económica Europeia por parte de Portugal vai ser um facto depois do voto desta Assembleia.
Mas, como apoiante que sou desde há muito, desde a década de 60, deste grande movimento tendente à integração europeia, não posso deixar de fazer aqui algumas reflexões, que, penso, vêm à mente dos Portugueses.
O Sr. Deputado Sottomayor Cardia pôs ontem aqui em evidência, de uma forma clara, que não há nenhum problema quanto a Portugal ser um país europeu.
Somos europeus desde a origem da nacionalidade, fomos europeus nas épocas de maior expansão e problematizamos sempre a nossa posição nacional em termos de relação com os países europeus - a começar pela Espanha e depois com a França, com a Inglaterra.
A questão que se põe é que, se nós civilizacional e culturalmente somos europeus, não fomos capazes de resolver um problema histórico que foi o da integração em espaços de desenvolvimento económico e social que naturalmente teriam permitido, se Portugal a eles acedesse, que nós superássemos um atraso que já se tornou atávico.
Há mais de um século Antero de Quental, nas Conferências do Casino, punha esta questão: «Que é necessário para readquirirmos o nosso lugar na civilização, para entrarmos outra vez na comunhão da Europa culta?»
Esta pergunta de Antero continua a ser actual como era actual no início deste século quando a primeira grande geração europeia do século XX, a geração do Orfeu, se apresentou como sendo europeia naturalmente.
Fernando Pessoa dizia: «Nós somos portugueses que escrevem para europeus.» Chegou a assinar muitos documentos não com Portugal mas com Europa. E Almada Negreiros definia, nessa altura, qual era a questão fundamental para nós podermos ou não dizermo-nos europeus: «É um europeu quem pergunta porquê Portugal, que foi o melhor dos europeus nos tempos em que a Europa começava, não o é hoje também quando a Europa entra já na maturidade?»
Esta questão de Almada continua a ser actual. Nós só poderemos dizer-nos europeus se questionarmos esta grande dificuldade histórica.
Mas a verdade é que a concepção da Europa dessa primeira geração europeia do século XX era uma concepção universalizante.
Vejamos que, por exemplo, Fernando Pessoa escreve: «A nossa época é aquela em que todos os países, mais materialmente do que nunca e pela primeira vez intelectualmente, existem todos dentro de cada um; em que a Ásia, a América, a África são a Europa.»
Repare-se que se trata de uma visão que ultrapassa a de um espaço geográfico, a de um espaço económico, a de um espaço político, para ser uma visão de um espaço civilizacional.
Mas mesmo nas relações mais imediatas com a vizinha Espanha nós tivemos problemas a enfrentar não apenas no quadro peninsular, mas no quadro europeu, como, aliás, aconteceu recentemente com a adesão simultânea dos dois países - e é bom não esquecê-lo!
O Prof. Agostinho da Silva pôs muito claramente a questão, quando disse que «resta saber se, na realidade, antes de resolver o problema em face da Europa, nós não o teremos de resolver em face de nós próprios», de nós próprios portugueses, e Agostinho da Silva dizia também «de nós próprios ibéricos».
Quando a geração que viveu a última guerra punha a questão da Europa, essa questão era dramática.
Adolfo Casaes Monteiro, que intitulou precisamente um dos seus livros Europa, escrevia este belo poema:
Europa sonho futuro Europa manhã por vir Fronteiras sem cães de guarda Nações com o seu riso franco Abertas de par em par Europa sonho futuro Se algum dia há-de ser.
Pois bem, nós já resolvemos este problema que Casaes Monteiro levantava no fim da guerra. !Vias não