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4072 I SÉRIE - NÚMERO 106

o resolvemos definitivamente; pusemos simplesmente as bases daquilo que poderá uma integração num determinado espaço económico. É porque a verdade é que poderíamos inverter a relação: se do cultural chegámos ao político, vamos ver se seremos capazes de do político passar ao económico. Essa é a questão das questões.
Tenho para mim que há três grandes problemas que vamos enfrentar. O primeiro problema designá-lo-ei como o problema da concorrência.
Seremos capazes de concorrer com os produtores estrangeiros?
Seremos capazes de concorrer com as empresas nacionais ou multinacionais de outros países?
Seremos capazes de correr o risco vencendo os obstáculos e as dificuldades?
Seremos capazes de uma mudança de mentalidade nas nossas empresas, na nossa agricultura?
Seremos capazes ou não de exportar além de importar, como vai ter de acontecer pela própria fragilidade dessa nossa posição?
A segunda questão é a da convivência. A verdade é que nós temos de nos habituar a conviver. A conviver politicamente no Parlamento Europeu, a conviver nas estruturas da CEE, a conviver culturalmente de uma forma desinibida. E nessa medida nós temos de perder os complexos.
É que a convivência, para nós, é uma tradição histórica: foi-o com a África, foi-o com as Américas, foi-o com o Oriente e nós poderemos conviver na Europa.
A terceira grande questão designá-la-ei como a questão da diferença. Nós temos de assumir as nossas diferenças, as diferenças que fizeram a Europa, porque a Europa é um espaço plural, é um espaço plurinacional, plurilinguístico, é um espaço pluricultural e até mesmo pluricivilizacional.
Essas diferenças são nacionais, por um lado, e regionais, por outro. Se nós formos capazes de articular essa diferença nacional com as diferenças regionais, poderemos, na verdade, inserir-nos no espírito europeu. Mas para isso temos apenas de ousar estar como somos na Europa.
No que respeita à Cultura, penso que quer a liberdade de circulação de bens culturais, quer a liberdade de estabelecimento, por exemplo, permitirão que nós sejamos, se assumirmos a concorrência e a convivência, diferentes e por isso estimados.
Gostaria de apresentar aqui, como paradigma dessa diferença, o poeta que felizmente este ano nós, no cinquentenário da sua morte, começamos a ver reconhecido universalmente e na Europa.
Talvez tenha sido simbólico que a data da adesão tenha sido a de 12 de Junho de 1985, quando Fernando Pessoa nasceu em 13 de Junho de 1888. É que, na verdade, a data de 13 de Junho é a data da entrada na Europa embora sujeita a esta ratificação pela Assembleia da República.
A geração de Pessoa, a geração do Orfeu foi naturalmente europeia. Foi naturalmente europeia através de Mário de Sá-Carneiro como o foi através de Almada Negreiros, que, aliás, eram reconhecidos, quer no espaço português, quer num espaço mais largo.
Nós poderemos dizer que a grande questão que se punha a Pessoa e à geração do Orfeu era a de conseguir justamente no plano económico e no plano social aquilo que já havia reconhecido no plano cultural.

Não foi por acaso que em estudos como o intitulado «Como organizar Portugal», em estudos na Revista da Contabilidade e Administração, através do ensino profissional de que Pessoa foi, aliás, um estudioso na África do Sul, tenham sido postas por Fernando Pessoa as grandes questões da organização de Portugal.
Penso que o problema que se põe agora para nós é o de saber se de facto nós vamos organizar Portugal no quadro da Europa, se vamos organizar-nos politicamente, se vamos organizar-nos economicamente porque civilizacional e culturalmente nós somos europeus - e volto aqui a repetir os belos versos de Afonso Duarte: «Somos europeus num canto qualquer de Portugal.»

Aplausos do PSD, do PS, do CDS e da ASDL

O Sr. Presidente: - Para formular pedidos de esclarecimento, tem a palavra o Sr. Deputado Carlos Brito.

O Sr. Carlos Brito (PCP): - Sr. Presidente, Srs. Deputados, Srs. Membros do Governo: Ouvi a intervenção que o Sr. Deputado José Augusto Seabra acaba de fazer e fiquei surpreendido com alguns momentos da sua exaltação.
Suponho que a questão de que nós não somos europeus não foi aqui levantada. E creio que quem aqui introduziu a dúvida, e até reservas e restrições, foi exactamente o Sr. Deputado.
Acompanho o Sr. Deputado naquilo que afirmou em relação ao europeísmo do Orfeu. Mas pergunto-lhe: e a Geração de 70? E os simbolistas portugueses? O Eugénio de Andrade e o Eugénio de Castro não foram também europeus?
Por esse lado, não entendi bem a sua intervenção, embora não esteja, evidentemente, em desacordo com ela, mas gostaria que o Sr. Deputado aprofundasse um pouco mais esta questão de saber o porquê, digamos, desta defesa da nossa qualidade de europeus. Ou seja, gostaria de saber se lhe parece que é isso que está em causa em relação a esta integração económica e em relação aquilo que é a CEE, que não é uma organização cultural.
Portanto, ninguém aqui contesta a nossa qualidade de europeus tanto geográfica como culturalmente. É um dado. Por que é que o Sr. Deputado levanta estas questões? Acha que a dúvida se pode colocar?

O Sr. Presidente: - Para responder, tem a palavra o Sr. Deputado José Augusto Seabra.

O Sr. José Augusto Seabra (PSD): - Sr. Deputado Carlos Brito, suponho que não me escutou porque uma das referências que fiz, e logo no início, foi a referência a Antero de Quental, que é um expoente da Geração de 70.
Citei-o exactamente quando me referi à Conferência do Casino, em que ele põe o problema de saber o que é que é necessário para readquirirmos; outra vez, o nosso lugar na civilização, para entrarmos outra vez na comunhão da Europa culta. Portanto, o «outra vez» significa que nós já tínhamos feito parte dessa Europa culta.
Por outro lado, Sr. Deputado, a dúvida - até dúvida metódica... - é exactamente um índice de europeidade; é o que diz Almada, que eu citei: «É um europeu quem pergunta porquê Portugal, que foi o melhor dos europeus nos tempos em que a Europa co-