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81 25 DE OUTUBRO DE 1986

A população do Caramulo sente este problema, mas demonstrou já repetidas vezes que nunca cederá perante quem não a respeita, nem sequer lhe querendo reconhecer o direito de escolher os próprios representantes.
Perante a crise instalada, perante a incompreensão de quem insiste em não aproveitar as enormes potencialidades da região caramulana, perante a negação sistemática de infra-estruturas básicas, como estradas, escolas, agências bancárias ou serviços públicos, a população do Caramulo não desiste de lutar.
Recentemente mais um episódio insólito veio alertar para a difícil situação existente.
A fundação privada proprietária do Museu do Caramulo anunciou com solenidade a possibilidade de encerrar ao público o respectivo Museu.
O motivo invocado residiria numa eventual falta de diálogo da parte do poder político e na alegada obstrução da Junta de Turismo do Caramulo.
A surpresa foi geral na região, até porque o responsável por aquela Junta de Turismo é considerado unanimemente uma personalidade independente competente, dinâmica e activa.
A reacção das entidades públicas demorou a sentir-se.
Foi necessário que uma organização particular de Tondela, a ADEPTO, Associação de Defesa e Propaganda do Concelho de Tondela, se movimentasse, contactando os responsáveis e sensibilizando a opinião pública para que surgissem as primeiras posições oficiais, quer da Câmara Municipal, quer das Secretarias de Estado da Cultura e do Turismo.
À medida que as semanas foram passando, começou a ser mais claro o motivo do anúncio do encerramento do Museu - afinal, tudo se resumia à Junta de Turismo do Caramulo, que, no entender da citada Fundação, não apoiava, não dialogava, não permitia que o Museu funcionasse.
De repente, estava encontrado o bode expiatório. Desde a Câmara Municipal até à Secretaria de Estado do Turismo considerou-se que era preciso substituir o responsável pela Junta.
No fundo, o problema era esse mesmo: a substituição de um homem.
Desencadeou-se uma vasta operação pública e política, apenas com o objectivo de operar o afastamento de alguém para quem o único senhor sempre foi um só - o Caramulo e o seu progresso e desenvolvimento.
O Museu do Caramulo foi entretanto encerrado para férias, depois de diversas acrobacias pessoais e informativas.
A Junta de Turismo do Caramulo está ameaçada de morte, tendo já começado o respectivo desmantelamento.
A freguesia do Guardão, o concelho de Tondela e o distrito de Viseu correm o risco de ficar mais pobres, com a eventual amputação de uma infra-estrutura importante.
Por isso mesmo, não podemos calar o nosso protesto e, sobretudo, não podemos deixar de condenar a actuação cúmplice de todos aqueles para quem a política é um mero jogo de defesa de interesses pessoais e particulares.
No nosso país parece, por vezes, que determinadas personalidades e organizações teimam em não querer acatar as regras mais elementares da vivência democrática.
Permanecem agarradas a velhos fantasmas, na convicção de que ainda é possível manter o poder absoluto, nem que para tal necessitem de recorrer a métodos de pressão e intimidação inaceitáveis e intoleráveis.
O facto em si não é demasiado grave, atendendo à circunstância de que não é fácil fazer desaparecer num curto espaço de tempo as marcas deixadas por 48 anos de autoritarismo.
O que já é grave é o facto de tais comportamentos obterem, por vezes, acolhimento favorável do poder político democrático, gerando equívocos e ambiguidades que não deveriam existir.
Estou certo que a população de Tondela, com tantas provas dadas a favor da democracia, dá tolerância e do pluralismo, não deixará de julgar com severidade aqueles que tentam aproveitar-se da confiança neies depositada para servir alguns, ao invés de servir a comunidade.
Importa unir esforços no sentido de preservar o património cultural da Beira Alta e também contribuir para o seu urgente desenvolvimento e modernização.
O Governo não pode lavar as mãos, como Pilatos, no que respeita ao problema mencionado, nem muito menos preterir o interesse público relativamente ao interesse particular.
A Junta de Turismo do Caramulo tem de ver a sua existência assegurada, em ordem a continuar a importante acção que vem levando a cabo no sentido da promoção da região.

O Museu do Caramulo não pode fechar as suas portas ao público.
O interesse do distrito, da região e do País assim o exigem.

Aplausos do PS, do PCP e do MDP/CDE.

O Sr. Presidente: - Para formular pedidos de esclarecimento, tem a palavra o Sr. Deputado Carlos Matias.

O Sr. Carlos Matias (PRD): - Sr. Deputado Raul Junqueiro, pretendo sobretudo esclarecer que a Junta de Turismo do Caramulo, assim como todas as juntas de turismo daquela zona, designadamente a de São Pedro do Sul, foi extinta, e já há seis ou sete meses, com a criação da Região de Turismo de Lafões. Portanto, o que está em causa não é a extinção ou o desaparecimento de uma junta de turismo que por lei já foi extinta há muitos meses.

O Sr. Presidente: - Para responder, tem a palavra o Sr. Deputado Raul Junqueiro.

O Sr. Raúl Junqueiro (PS): - Sr. Deputado Carlos Matias, agradeço a sua intervenção. No entanto, devo dizer-lhe que o que está em causa não é o nome da estrutura local, mas a ameaça concreta de extinção da junta de turismo, uma vez que ainda não foi criada a delegação da comissão regional de turismo de Lafões na freguesia do Guardão e no Caramulo. Repito que o problema está em que há uma ameaça concreta, nomeadamente por parte do Sr. Secretário de Estado do Turismo, no sentido de deixar de existir no Caramulo. Repito que o problema está em que há uma ameaça concreta, nomeadamente por parte do Sr. Secretário de Estado do Turismo, no sentido de deixar de existir no Caramulo qualquer delegação turística, nomeadamente qualquer delegação da comissão regional de turismo de Lafões.