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156 I SÉRIE-NÚMERO 7

O Sr. Presidente: - Inscreveram-se, para pedir esclarecimentos, os Srs. Deputados António Osório e Joaquim Domingues. Acontece, todavia, que o Sr. Deputado Agostinho Domingues já não dispõe de tempo para responder, pelo que pergunto aos dois Srs. Deputados que referi se mesmo assim desejam usar da palavra para pedir esclarecimentos.

O Sr. António Osório (PCP): - Prescindo, Sr. Presidente.

O Sr. Joaquim Domingues (PSD): - Sr. Presidente, atendendo a que o Sr. Deputado Agostinho Domingues já não dispõe de tempo e também que não há possibilidade de cedência de tempo por parte do meu grupo parlamentar, prescindo do pedido de esclarecimento.

O Sr. Presidente: - Nesse caso, tem a palavra, para uma intervenção, o Sr. Deputado José Manuel Mendes.

O Sr. José Manuel Mendes (PCP): - Sr. Presidente, Srs. Deputados: Cinco minutos, nesta Câmara política, para evocar um poeta. Cinco minutos apenas, tão ocupados ou alheados andamos que para mais não são as estrelas propícias. Que perdure, ainda assim, o sinal agora emitido.
Ele disse, o poeta: «Se eu não morresse, nunca! E eternamente buscasse e conseguisse a perfeição das cousas!»
Morto, em nós vive e por nossa voz incita à arquitectura do belo, do justo, do autêntico, essa impostergável porfia da nossa precariedade vingada. Vivo, porque assim o quiseram sucessivas gerações e assim o queremos, continua o seu percurso desafiador, insubmisso, transfigurativo.
Chamava-se Cesário, filho de José António e Maria da Piedade; pereceu, verde nos anos, grande e imperecível na obra, há um século, três meses e doze dias. Partilhou as fundas inquietações sociais e estéticas dos audazes do seu tempo, assumindo a ruptura com as retóricas do romantismo desviçado do último quartel de oitocentos, opondo-se à poética dessorante do sentimentalismo convencional. Povoou os seus versos de gente com vísceras, novos referentes, construções inusitadas. Fecundou de modernidade antimodística o ventre da literatura pátria. Trouxe à convivência de cada um os operários calceteiros e a engomadeira irmã de tantas tísicas definhando de solidão e abandono, os camponeses, os negociantes, os piqueniques de burguesas, os simples, olhados sem miserabilismo, nem o véu fácil da lágrima piedosa, os cenários múltiplos do quotidiano, os entes concretos e os fantasmas de entre sonho e pesadelo. E, numa emoção solidária mas desprovida dos excessos de representação formal, cantou--os assim:
Povo! No pano cru rasgado das camisas Uma bandeira penso que transluz! Com ela sofres, bebes, agonizas; Listrões de vinho lançam-lhe divisas, E os suspensórios traçam-lhe uma cruz!
E assim também:
Vazam-se os arsenais e as oficinas; Reluz, viscoso, o rio, apressam-se as obreiras; E num cardume negro, hercúleo, galhofeiras, Correndo com firmeza, assomam as varinas.
Ou ainda:
Em pé e perna, dando aos rins que a marcha agita,
Disseminadas, gritam as peixeiras;
Luzem, aquecem na manhã bonita,
Uns barracões de gente pobrezita
E uns quintalórios velhos, com parreiras.

Bom tempo. E os rapagões, morosos, duros, baços,
Cuja coluna nunca se endireita,
Partem penedos, voam-lhe estilhaços.
Pesam enormemente os grossos maços,
Com que outros batem a calçada feita.

Aedo dos impulsos fundamentais para a mudança e a inovação, menestrel da inconformação e do rigor, cantor inigualável de Lisboa, do quotidiano da urbe e dos seus contrastes, Cesário influenciou, determinantemente, os Pessoas e Gomes Ferreiras, das nossas cintilações duradoiras, os que, por diversas veredas e opções, sobretudo no quadro do realismo, fizeram e continuam fazendo os sobressaltos enriquecedores da arte que nos ajuda a gostar de viver.
De acções escassas e omissões significativas se têm matizado as comemorações em curso do centenário. É essa uma face simétrica da do descaso, do descuidar dos vivos agentes do amanhã das grandezas colectivas. Porque é duro o facto, e seguramente condenável, na circunstância se refere. Pugnaremos para alterar os traços da moldura cinzenta e melhor honrar o Autor, que nos é tão vizinho e fraterno, do nós e das cristalizações.
Cinco minutos, Sr. Presidente, Srs. Deputados. Decerto parcos para memorar um poeta. Um nome que mora entre os que, de modo inquestionável, profundo e metamorfoseador, dão luz hialina ao Portugal que somos. Oxalá bastantes, apesar de tudo, para gerar as necessárias repercussões dinamizadoras.

Aplausos gerais.

O Sr. Presidente: - Ainda para uma intervenção, tem a palavra o Sr. Deputado Vasco Marques.

O Sr. Vasco Marques (PRD): - Sr. Presidente, Srs. Deputados: Esta minha intervenção visa chamar a atenção desta Assembleia para um facto de grande prestígio para o nosso país: o reconhecimento do trabalho, altamente especializado em várias áreas, realizado pela nossa transportadora nacional a TAP-Air Portugal.
É habitual que referências a esta empresa pública nos órgãos de comunicação social se verifiquem aquando de conflitos laborais (inexistentes há muito tempo); por ocasião da substituição dos seus gestores (e já houve, desde 1974, mais de meia centena de ocupantes dos cargos adminstrativos); ou sempre que algum cidadão - o que acontece com alguma frequência - vem a público defender a sua reprivatização.
Num país como o nosso, por norma considerado como exportador de mão-de-obra não especializada, direi mesmo semelhante à que se encontra disponível no terceiro mundo, é de realçar o prestígio que tem sido granjeado pelos trabalhadores da TAP.
A título exemplificativo, e que constitui o cerne desta minha intervenção, quero realçar a grande capacidade demonstrada no âmbito da manutenção e engenharia da nossa transportadora aérea nacional, no respeitante a inspecções periódicas e também a grandes inspecções de aeronaves.