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1930 I SÉRIE - NÚMERO 49

tema Educativo, que deu autonomia a estas escolas e que não consagra a existência dos institutos politécnicos.
Como sabe, em cada distrito há uma ou duas escolas politécnicas e não se justifica a existência desta entidade supra-escolas que cria a existência destes problemas.

O Sr. Presidente: - Para responder aos pedidos de esclarecimento, tem a palavra o Sr. Deputado António Barreto.

O Sr. António Barreto (PS): - Sr. Presidente, Srs. Deputados: Permitam-me que diga que, em relação ao desafio que fiz aos Srs. Deputados dos vários partidos, creio que estamos esclarecidos.
A propósito de duas ou três perguntas mais precisas, queria começar por dizer ao Sr. Deputado Jorge Patrício que estou de acordo quanto à existência de uma tentativa de controle político como referiu. Quanto às acções para ultrapassar este problema queria dizer-lhe, Sr. Deputado, que há dois tipos de acções para o fazer: as políticas e as legislativas. Estou habilitado para já, e por enquanto, a responder às acções legislativas; estou convencido de que é possível em Comissão da Educação e no Parlamento encontrar, com relativa brevidade, meios de acção legislativa para impedir e ultrapassar alguns destes problemas. Quanto aos meios políticos poderá haver também e o tempo o dirá.
Sr. Deputado Cardoso Ferreira, aguardo com ansiedade o dia de amanhã, infelizmente não poderei fazer perguntas, pois a nossa mecânica de perguntas ao Governo não permite que, em plena acção, qualquer deputado possa fazer perguntas, mas encontraremos maneira de nos esclarecermos uns aos outros. Queria, apesar de tudo, agradecer a sua rectificação. O que eu disse foi «a Câmara Municipal apresentou a sua solidariedade» o que é um facto inegável, dado que foi aprovada uma moção por maioria.

O Sr. Cardoso Ferreira (PSD): - Não disse o contrário, Sr. Deputado!

O Orador: - Tomo nota da sua rectificação e de que esses votos não foram a favor, mas o facto de que também não foram votos contra a moção de solidariedade já é significativo, Sr. Deputado.
Sr. Deputado Bártolo Campos, se entendi bem a sua pergunta pareceu-me haver entre as linhas do seu comentário algo com que eu estaria de acordo e que é a relativa urgência na revisão da orgânica dos institutos politécnicos no seu conjunto como entidade, na sua relação com as escolas superiores de educação e na suas eventuais, possíveis ou improváveis, relações com as universidades. Se é isso que está subjacente ao seu pensamento, estou de acordo com a necessidade urgente dessa revisão.

O Sr. Presidente: - Para uma intervenção, tem a palavra o Sr. Deputado Gomes Guerreiro.

O Sr. Gomes Guerreiro (PRD): - Sr. Presidente, Srs. Deputados: Parece-me interessante trazer-vos as primeiras notícias de um seminário de elevado nível científico realizado a semana passada em Vilamoura, no concelho de Loulé, com a presença de especialistas estrangeiros da área do Mediterrâneo. Nele se partiu
do conceito de antropologia ecológica para apoiar o ordenamento e o desenvolvimento da região do Algarve. Em todas as sessões foi dado relevo especial aos problemas da regionalização, da agricultura e do turismo.
A regionalização do Algarve foi defendida dos pontos de vista histórico e bioclimático, tendo-se concluído pela conveniência de se instalar, desde já, uma administração regional, com poder de decisão e competências próprias e delegadas pelo poder central, capaz de enfrentar e resolver os problemas específicos da região.
Foi lembrado que o Algarve, antigo Al-gharb, fez parte do andaluz, com o qual comungava de uma civilização de elevado nível, tendo como centros principais as cidades de Córdova, Sevilha e Silves, civilização que, de acordo com vários autores, se adiantou cerca de quatro séculos ao renascimento italiano dos séculos XV e XVI. O espaço entre Silves e Sevilha constituía um «corredor» densamente povoado, como de resto ainda é hoje, incluindo numerosas aldeias, vilas e cidades.

Silves era então a cidade mais monumental, opulenta e de maior nível cultural do ocidente peninsular banhado pelo Atlântico. Em toda a região se processou um notável surto das ciências, das artes e da literatura. Silves, Loulé, Estômbar e São Brás de Alportel foram berços de grandes homens, em especial de poetas, cujas obras chegaram aos nossos dias.
Conquistado o Algarve por D. Afonso III em 1249, a nobreza visigoda, guerreira e cristã, substitui a nobreza árabe, intelectual e islâmica; e o «corredor» que ligava o andaluz ocidental ao oriental foi bloqueado. A partir de então o Algarve, sem contactos internacionais, sem comércio e sem actividade cultural, ficou emparedado entre um mar repleto de piratas, uma fronteira defendida pelos fortes de Castro Marim, Alcoutim e Mértola e, a norte, uma serra infestada por malfeitores. Assim, isolada, a região caiu, durante sete séculos, numa apagada e vil tristeza.
Durante este período o Algarve, reino sem rei, perscrutava o Norte e esperava. Distante do mundo, o seu património desmoronou-se, a sua memória apagou-se, a sua identidade quase se perdeu, restando-lhe apenas a tradição oral das lendas tristes e chorosas de moiras encantadas; mas recebeu, isso sim, um quinhão no que diz respeito a fome, doenças, saques, terramotos e até a Inquisição. A qualidade de cristão e a designação de reino foram a paga sáfara deste isolamento de sete séculos, que originou uma estagnação cultural e económica que chegou até aos nossos dias.
Contra a assimetria gravosa no espaço, que é comum a toda a faixa raiana, o Algarve sofreu os efeitos de uma assimetria no tempo. Só no século passado, com a abertura de algumas vias de acesso pela charneca alentejana, o algarvio pôde iniciar visitas ao Norte e dele receber notícias do mundo. Surgem então, já em pleno século XIX, os primeiros caminheiros, corajosos, à procura dos centros de aprendizagem e de cultura erudita: deles lembro a esta Câmara apenas os nomes de João de Deus e de Teixeira Gomes, figuras nacionais diferentes, mas igualmente de indiscutível mérito. Ambos se deslocaram a Coimbra e aí frequentaram o seminário, como trampolim para a universidade. O próprio António Aleixo, guardador de rebanhos e cauteleiro, só foi grande, a ponto de ser hoje o vulto mais respeitado da literatura popular portuguesa, por ter contraído uma tuberculose e ter a felicidade de possuir