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19 DE ABRIL DE 1989 2229

Que era desgraça sentiam-no os milhares e milhares de transmontanos que não suportaram continuar a ser o símbolo vivo do subdesenvolvimento e resolveram um dia procurar novos céus e montes que não conheciam, mas que adivinhavam menos avaros.
Que era virtude pressentiam-no os velhinhos que sempre viveram agarrados à terra que amavam, desafiando os céus e contemplando as estrelas, na esperança de verem a sua brilhar.
Muitos foram os que adormeceram para sempre, envoltos neste sonho lindo!
Mas os seus netos - os jovens de hoje -, que já viram o Marão rasgar-se, que já sentem a Serra da Nogueira estremecer com os salavancos dos Buldozers, que vêem desenha-se nos horizontes transmontanos a silhueta esbelta da sua Universidade, a do seu Instituto Politécnico e a de outras escolas, que sentem os efeitos das pequenas unidades industriais que aqui e além vão dando vida a algumas das nossas terras, acreditam que podem ter amanhã.
Acreditam, mas têm pressa e querem que o seu amanhã seja hoje e, ao mesmo tempo, em todos os lugares.
Os de Mirandela queixam-se que o desenvolvimento só chega a Vila Real e daí não passa, os do Planalto Mirandês e do Douro superior dizem que o progresso ainda paira demasiado longe das suas terras e duvidam que chegue a tempo de evitar a perda de outros comboios...
Quem tem razão? Talvez todos, pois uns e outros irão partir para a grande corrida da Europa/92 de posições distintas.
Todavia - e na certeza de que todas as grandes questões não se compadecem com o silêncio -, quero daqui chamar a atenção do Governo para alguns pontos que merecem reflexão séria.
Está em curso a elaboração de um programa de desenvolvimento das regiões fronteiriças, com o auxílio dos fundos comunitários.
Seria desejável a sua articulação com idênticos projectos elaborados pelos vizinhos espanhóis, para conseguir uma integração correcta e implantar no terreno as rodovias e o tipo de planeamento mais adequado a uma vasta região Transfronteiriça, organizando e aproveitando as diversidades características de cada zona?
Ganharíamos todos, pois seriam melhor acautelados e compatibilizados os interesses de ambos os povos, especialmente no que concerne à melhoria dos eixos rodoviários.
Antes de passar à acção, deveria esse ambicioso plano integrado ser profusamente divulgado, especialmente ao nível dos agentes económicos locais, para que estes fiquem a saber claramente que tipo de indústrias ou culturas podem ser implementadas nas suas terras e em que condições.
É que, hoje, o cidadão comum tem muitas dúvidas sobre o que pode ou deve ser criado, o que pode e deve ou não ser cultivado, por forma a permitir uma livre e salutar concorrência, alicerçada numa melhor qualidade e maior produtividade.
Supomos ter chegado a altura de poder concluir, com satisfação, que os responsáveis pelo planeamento e ordenamento do território nacional deixaram de perspectivar uma grande parte do Nordeste Transmontano como uma vasta reserva, onde talvez não valesse a pena intervir, porque demasiado longe do litoral.. (Refiro-me à área situada a Nascente e Sul do IP 4, que abrange cerca de 4000 km2).
Na verdade, há agora outro enquadramento territorial e outros mercados mais próximos que conduzem à necessidade de equacionar novas soluções com vista ao progresso económico e social destas paragens, onde já nada é como há 30 anos, mas onde ainda tudo caminha a passos demasiado lentos, devido talvez à inércia dos agentes económicos locais, que ainda não souberam aproveitar os incentivos que o Governo já colocou à sua disposição.
Estamos a cerca de três anos da plena adesão à CEE e temos sérias razões para nos preocuparmos com o futuro dos agricultores nordestinos, que parecem não se aperceber da dureza da luta em que brevemente se verão envolvidos.
Continuarão eles a cultivar o trigo e o centeio para obter produções exíguas, como as actuais, ou a cultivar batatas em condições bem diferentes das que se praticam na vizinha Espanha? Dedicar-se-ão exclusivamente à criação de gado, sem que possam produzir pastagens que cheguem para o ano inteiro? Ou será preferível que ocupem o seu tempo na florestação dos 500 000 ha com aptidões para o efeito?
Não seria mais rentável a exploração dos recursos cinegéticos que, para além da componente económica e social, apresenta, um apreciável valor desportivo e turístico, que urge incrementar? Será que o turismo rural constituirá o complemento económico da nossa débil agricultura, que assenta em explorações cuja dimensão média não ultrapassa os 8 ha?
Há 36 610 explorações agrícolas! Para quando o tão necessário emparcelamento, aconselhamento, aconselhado pelos técnicos e rejeitado pelas mentalidades individualistas que ali têm profundas raízes?
Com alguma perseverança, imaginação, perspicácia e engenho é possível acelerar tarefa tão necessária quão delicada, para evitar que a economia agrícola transmontana bata no fundo para depois se soerguer do caos.
A resposta pronta a estas e outras questões não poderá iniciar-se com seriedade, enquanto ali continuarmos a ter uma formação profissional agrícola e uma investigação científica incipientes.
Ninguém duvida que o progresso do Nordeste Transmontano se desenvolverá, primeiramente, ao longo do eixo do IP 4, que caminha a bom ritmo. Já são bem nítidos os sinais desta certeza.
Mas se os fundos comunitários não chegarem para serem afectados à construção das indispensáveis barragens agrícolas, que nos faltam, e à reconstrução dos itinerários complementares e secundários previstos no Plano Rodoviário Nacional e doutros que ali não constam, quem se atreverá a afirmar que o desenvolvimento económico e social da periferia será uma realidade a médio ou mesmo a longo prazo?
Tantas perguntas pressupõem gigantescas e complicadas tarefas, quer ao nível da engenharia do planeamento, quer ao nível das decisões políticas.
Não desconhecemos que o desenvolvimento de uma região terá de processar-se por etapas e em obediência a certas regras e prioridades; só que, no nosso caso, as prioridades foram sistematicamente alteradas por muitos governantes deste país - que não os actuais - e sempre que os interesses de outras regiões mais desenvolvidas impunham o nosso sacrifício e as regras sempre nos desfavoreceram.