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3 DE JUNHO DE 1989 4555

Julgava que ia encontrar, pela voz do Sr. Deputado Jorge Sampaio, uma. oposição viva; uma oposição substantiva, uma oposição esclarecedora e esclarecida mas, de facto, não encontrei. Encontrei o mesmo deputado Jorge Sampaio, secretário-geral do PS, a pensar e a falar tanto no quotidiano que não sabe que há futuro neste país.

O Sr. José Magalhães (PCP): - Que grande frase!

O Orador: - Quer o Sr. Deputado Jorge Sampaio que o Governo responda. Para o Governo responder é preciso fazê-lo de acordo com o valor das perguntas. Ora o que V. Ex.ª conseguiu aqui foi fazer com que o Governo acrescentasse valor às perguntas, isto é, o Governo teve de as adivinhar, porque V. Ex.ª não conseguiu dirigir uma pergunta direita, sequer.
Ainda pensávamos que o candidato João Cravinho viesse aqui animar o debate e trazer alguns conceitos novos de paradigma; mas não veio, foi V. Ex.ª que repetiu os conceitos velhos. Esperamos que o deputado João Cravinho corrija àquilo que V. Ex.ª não disse.
O discurso que V. Ex. e apresentou é um discurso rico? Rico nos adjectivos, com certeza, porque é um discurso pobre e vazio no conteúdo. Continua a sê-lo e V. Ex.ª não consegue mudar isso.
Mas quando se faz uma interpelação assim é o País que perde, porque, quando se faz oposição e quando. faz uma interpelação deste modo é a oposição da nossa tristeza que se manifesta.

Vozes do PSD: - Muito bem!

O Orador: - Concluímos que o Governo governa e que o PS fala. Assim será durante muito tempo, pensamos, para nossa tristeza e para tristeza, com certeza, do PS. Hoje, esperávamos um PS diferente. Ainda não foi hoje e dificilmente o será, com certeza.
Esta maioria está, de facto, e tem motivos pára isso, preocupada com o valor da oposição que este PS manifesta. V. Ex.a, Sr. Deputado Jorge Sampaio, resolva-nos este problema, crie oposição, seja Oposição, seja-o devidamente e tenha uma linguagem diferente, porque esperamos isso de si.

Aplausos do PSD.

O Sr. Presidente: - Para um pedido de esclarecimento, tem a palavra o Sr. Deputado Silva Marques.

O Sr. Silva Marques (PSD): - Sr. Deputado Jorge Sampaio, não vou repetir uma crítica que me parece fundada e absolutamente pertinente relativamente ao seu discurso (e não apenas este) que é a crítica da generalidade e da abstracção e, inclusivamente, da tendência para o discurso moralizante, para a lição de moral. Repito as principais ideias que, com frequência, afloram no seu discurso: diálogo, educação, criatividade, promoção da ciência e tecnologia, resolver a conflitualidade. Abordou também a questão do combate à inflação e, a este propósito, o que disse foi diálogo social, cidadania activa, etc. Falou também de saúde, equidade, gestão correcta, participação, descentralização, actuar com seriedade e, depois, em concentrar esforços para resolver os problemas da habitação, em soluções, em reforçar a capacidade dos agentes (para variar) e aumentar a sua capacidade, etc.

Risos do PSD.

Mas, Sr. Deputado Jorge Sampaio, respondendo ao desafio, moral de V. Ex.ª, o dirigente máximo do PS - e porque o PS é um partido que respeito e julgo ser um pilar fundamental para o presente é futuro do nosso país -, questiono-o sobre algumas questões concretas relativamente às quais o Sr. Deputado Jorge Sampaio, sobretudo porque as abordou, tem obrigação de dizer algo mais do que fazer simplesmente uma referência de estrita crítica ao Governo.
O Sr. Deputado referiu-se à regionalização criticando que nós não queremos a regionalização. O Sr. Deputado tinha a obrigação intelectual de, a este propósito, fazer uma referência ao facto de um dos principais acontecimentos do seu campo político, mais; um acontecimento em que o Sr. Deputado esteve envolvido e em que tomou como resolução fundamental, em matéria de regionalização, realizar uma petição nacional a reclamar as regiões, ainda hoje não tem sido feita. E o Sr. Deputado, como os seus companheiros, têm a obrigação intelectual, se quiser a obrigação moral e política, ao abordarem criticamente a. nossa posição em matéria de regionalização, sem que nós tenhamos de vos pedir isso e até por uma questão de credibilidade intelectual e política face ao país e de dignificação do discurso político, de explicarem imediatamente porque é que a vossa petição não foi feita. É que, Sr. Deputado, se é fácil a regionalização, meu Deus, não há-de ser muito mais fácil fazer um abaixo assinado?!

Risos do PSD.

Outro ponto que queria abordar, Sr. Deputado, é o seguinte: há acontecimentos vivos, vivíssimos, que o País tem seguido e relativamente aos quais tem tomado posição. Ontem, fui à Repartição de Finanças em frente à Assembleia da República para comprar o selo para o meu carro, aliás, para os meus carros, porque tenho mais do que um; estive na «bicha» durante duas horas e assisti às reacções das pessoas.

Uma voz do PS: - Diziam que tudo. está bem?

O Orador: - Não, não diziam «tudo bem». Por exemplo, havia uma senhora que dizia: «Espero que quem tem o poder de decidir não vos aumente nem um tostão, porque vocês obrigam-me a estar aqui duas horas. Porque é que não estiveram a trabalhar?!». Estava, comigo o Sr. Deputado Ferro Rodrigues que assistiu a tudo isto.

O Sr. Presidente: - Sr. Deputado, já terminou o seu tempo.

O Orador: - Vou terminar, Sr. Presidente.
O Sr. Deputado Jorge Sampaio, ao fazer o discurso sobre o estado da Nação, tem obrigação de fazer o discurso sobre o estado da Nação actual, aquela em que está a viver e tomar posição relativamente às questões que o País está a viver. Qual é a vossa posição sobre a greve das alfândegas e sobre a posição do Governo relativamente ao conflito? Qual é a vossa posição sobre as questões que o País está a viver, ...