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814 I SÉRIE - NÚMERO 23
Câmara, à votação do voto de pesar n.º 99/V, relativo à morte de Madalena Perdigão, e subscrito pelos Srs. Deputados dos vários grupos parlamentares.
Submetido à votação, foi aprovado por unanimidade, registando-se a ausência de Os Verdes e dos deputados independentes Carlos Macedo, João Corregedor dá Fonseca, Pegado Lis, Helena Roseta e Raul Castro,

É o seguinte:

Voto n.º 99/V

A Assembleia da República tomou conhecimento da morte de Madalena Perdigão.
Não pode a representação nacional deixar de interromper os seus trabalhos para prestar homenagem a tão destacada figura da vida cultural portuguesa das últimas décadas. Talvez ninguém se tenha batido com tamanho ânimo pela valorização da musicologia no ensino e no enriquecimento do conceito de formação cultural dos Portugueses.
O seu nome fica definitivamente ligado à história da Fundação Calouste Gulbenkian, mas o Estado pôde também directamente beneficiar da: sua inteligência, dedicação e empenhamento em altos cargos da Administração Pública. Todavia, o que mais releva na personalidade e na acção de Madalena Perdigão foi a sua vocação para informalmente representar a cultura portuguesa como lídima embaixadora de valores nossos.
A Assembleia da República exprime o seu voto de pesar pelo desaparecimento de tão forte e rica personalidade.
Para uma declaração de voto, tem a palavra o Sr. Deputado Carlos Lélis.

O Sr. Carlos Lélis (PSD): - Sr. Presidente, Srs. Deputados: Há formas do nosso comportamento comum, de cidadãos comuns, que são quase amargas porque, ao contrário da justiça, «da justiça de cada dia nos dai hoje», estamos sempre prontos a reconhecer com probidade o mérito daqueles que o destino leva e somos bastante mais restritivos e comedidos ao aplaudir-lhes as atitudes e os gestos enquanto vivos. Assim é as mais das vezes.
A Fundação Gulbenkian, embora internacional, é emblemática do nosso país e de Lisboa como capital de cultura, onde devem acontecer culturalmente muitas coisas, coisas de expressão cultural qualificada.
Madalena Perdigão, directora do Serviço de Animação do Museu de Arte Moderna da Gulbenkian; era o promotor, o animador, de quanto, no âmbito daquele centro, a Fundação tem sido mecenas.
Todas as artes a interessavam, de maneira envolvente, entendidas as artes como novos «cavaleiros da Távola Redonda», proporcionando a nós, fruidores, experiências multidisciplinares enriquecedores e de vanguarda.
O Museu é - terá de ser -, nesta vertente do século, um «lugar vivo». Madalena Perdigão dedicou a esta afirmação uma dinâmica própria, uma visão polivalente, uma acção constante e toda a coragem dos seus últimos tempos a acompanhar a doença.
Em muitos passos culturais deixará Madalena Perdigão a marca do seu empenhamento, o sinal da sua vocação.
Como seu companheiro de trabalho na fase polémica do seu afastamento da Fundação, curvo-me, magoado e comovido pela notícia que nos chega.
Em nome da minha bancada e das preocupações de acção cultural que nos acompanham, sentimos a grande perda, o espaço que tão bem sabia preencher.
Que outra homenagem podemos agora prestar-lhe além de esperar, neste momento de evocação, que alguém siga o seu exemplo de trabalho e dedicação aos valores que abraçou e defendeu.
Que assim possa vir a ser!

Aplausos gerais.

O Sr. Presidente: - Tem a palavra o Sr. Deputado Raúl Rêgo.

O Sr. Raúl Rêgo (PS): - Sr. Presidente, Srs. Deputados: A actividade cultural portuguesa pode dividir-se em dois grandes períodos: antes e depois da Fundação Gulbenkian.
O mecenato também entra nessa actividade cultural e, felizmente, hoje não há a pobreza que havia porque o estímulo que a Fundação Gulbenkian deu às artes plásticas, à parte científica, a todos os sectores da cultura, é realmente grande e não pode ser ignorado seja por quem for.
Nesse ponto, o Dr. Azeredo Perdigão encontrou a companheira perfeita na sua actividade cultural, no estímulo às artes plásticas, à música e em todos os sectores da vida cultural portuguesa. Por isso a Assembleia da República não pode alhear-se da personalidade de Madalena Perdigão e aprova o voto de pesar pela falta que ela faz a todas as actividades culturais portuguesas.

Aplausos gerais. -

O Sr. Presidente: - Tem a palavra o Sr. Deputado Adriano Moreira.

O Sr. Adriano Moreira (CDS): -Sr. Presidente, Srs. Deputados: Julgo que a Assembleia da República pratica hoje .um acto de justiça quando presta homenagem à Dr.ª Madalena Perdigão. Eu próprio senti esta manhã que estava cumprindo um dever quando fui visitar a câmara-ardente onde se .encontra.
Excomungando de uma observação, que me parece extremamente importante, do Sr. Deputado Carlos Lélis, que tomou a iniciativa deste voto, eu diria que há, de facto, em Portugal um traço que por vezes nos angustia: é que para os Portugueses o mérito é uma virtude retroactiva. É somente depois de as pessoas morrerem que, em geral, o mérito se reconhece.
Mas em relação à Dr.ª Madalena Perdigão isso não foi inteiramente assim, felizmente para ela e para alguma confiança nas nossas virtudes cívicas. Foi repetidamente reconhecido o papel relevante que ela desempenhou na vida 'cultural portuguesa e que eu gostaria de sublinhar com a seguinte afirmação: na vida portuguesa, sobretudo a partir da década de 60, o único projecto cultural alternativo, definido, estruturado e prosseguido com independência e firmeza foi o encabeçado pelo Dr. Azeredo Perdigão, que teve ao seu serviço a Fundação Calouste Gulbenkian, que também se deve ao seu talento e devoção patriótica.
E é provavelmente o único exemplo na vida portuguesa de um homem acompanhado da sólida colaboração da sua mulher - Madalena Perdigão foi a «mulher forte» de que fala a Bíblia; um homem que, sem participar do poder político, sem ter qualquer função política, sem transigir