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9 DE MAIO DE 1990 2427

tudos, conduziram um eleitorado cansado de sacrifícios a penalizar fortemente o PS, erigindo o PSD em partido mais votado com os seus 29% de sufrágios.
Finalmente, aproveitando-se de ingénuas cumplicidades, o PPD/PSD era governo sozinho, com um futuro atapetado de facilidades, profetizando um governo de 100 anos.
De facto, a conjuntura não podia ser melhor. Na OCDE talvez nenhum País fosse mais beneficiado por ela do que Portugal. Além da situação de franca recuperação herdada do governo anterior, o novo executivo beneficiou da acentuada baixa dos preços do petróleo, da baixa do dólar, da baixa dos preços da carne e dos cereais, da baixa das taxas de juro, das remessas da CEE, da melhoria dos fluxos turísticos, da espectacular recuperação do comércio mundial, enfim de uma variação na relação dos termos de troca internacionais tilo favorável a Portugal como há décadas não havia memória.

Vozes do PS: -Muito bem!

O Orador: - Deslumbrado, o PPD/PSD, com a modéstia que caracteriza os seus responsáveis, invocou a genial infalibilidade governativa como causa de tão benéfica conjuntura internacional.

Vozes do PS: - Muito bem!

E, mais uma vez, outros lhe facilitaram a vida, provocando, imponderadamente, a sua queda e abrindo caminho a novas eleições. Aproveitando as eleições, o PPD/PSD carregou nas tintas da demagogia, utilizou a numerosa clientela que entretanto arregimentara e, sem problemas de tesouraria - pois até nas despesas da perdida campanha presidencial poupara -, investiu a fundo numa campanha em que prometeu aos Portugueses que, se tivessem juízo, se fossem obedientes e se votassem PPD/PSD, todos seriam ricos a curto prazo. Começou aqui o descalabro. Não se pode prometer tanto a tantos.

Vozes do PS: - Muito bem!

O Orador: - É certo que alguns ficaram ricos. Outros estarão ficando. Porém, o seu número, que talvez chegue para eleger meia dúzia de assembleias de freguesia, é insuficiente para eleger maiorias parlamentares.

Vozes do PS: - Muito bem!

O Orador:-Entretanto, o Governo, perdido o álibi da falta de apoio maioritário, com um Presidente da República de que se não pode queixar, obtida em negociação leal, por parte do PS, a revisão constitucional, não consegue mais mascarar a sua incompetência, a sua falta de estratégia, a sua incapacidade para responder aos desafios postos pela necessidade de uma Administração moderna, democrática, transparente.

Vozes do PS: - Muito bem!

O Orador: - Na CEE é o falhanço da tarefa de mobilizar o País para, durante o período de transição, levar a cabo as alterações estruturais que lhe permitam libertar-se da situação deprimente de ser o primo pobre e afastado de uma família rica. Longo é o rol. São as fraudes grosseiras e suspeitas nos dinheiros do FSE.

Vozes do PS: - Muito bem!

O Orador: - É a oportunidade perdida na agricultura, onde o combate «revanchista» a um colectivismo agrário em decadência, numa zona restrita do País, sublima a inexistência de um programa urgente de reforma agrícola, onde o emparcelamento aparece nos discursos mas não na acção, onde o rejuvenescimento dos agricultores é excepção e não regra, onde, em suma, o mundo agrícola permanece desarmado para enfrentar a dura competitividade imposta pela política agrícola comum.

Vozes do PS: - Muito bem!

O Orador: - É a apatia nas pescas e na agricultura derivada de uma burocracia estiolante e desorientada.
São as promessas não cumpridas na educação, é o retrocesso na saúde, é a paralisação da justiça, o mal-estar nas forças armadas e no corpo diplomático, é a imprevidência, a arrogância e a ineptidão tecnocrática na política dos eixos rodoviários, é o esbracejar penoso da política do ambiente, entalada entre o eucalipto, os campos de Alcochete e o crude de Porto Santo, de Sines.

Aplausos do PS.

É o apego ao centralismo burocrático, a recusar a prometida e devida regionalização. O trabalho infantil, as injustiças sociais agravadas, a expropriação de centenas de milhões de contos à classe média, que o Governo empurrou para a bolsa e onde, friamente, lhe preparou uma emboscada a favor de meia dúzia de novas grandes fortunas, é o descalabro na inflação e na balança comercial.
A par de todos esses fracassos, confiado na sua obediente maioria e no controlo da RTP, o Governo vai apimentando a política do dia-a-dia com uns quantos casos exemplares, sejam eles as habilidades fiscais de um ministro das Finanças, seja o peculiar modo de contratar do Ministério da Saúde, seja ainda a explicação do insólito caso Drexel.

Risos do PS.

Paralelamente, por coincidência, enquanto os restantes partidos parlamentares sofrem penúria financeira, o PPD/PSD prospera: o partido apoiante do Governo exibe largueza de meios nas suas campanhas, constrói em Lisboa e em outras localidades do País caríssimas e apetrechadíssimas sedes e ainda se orgulha de acumular centenas de milhares de contos em contas bancárias.

Vozes do PS: - Muito bem!

O Orador: - No dizer de insuspeito cronista, entre a politique d'abord e a politique d'affaires o Governo PSD optou pela segunda. No meio dos seus novos barões muitos são os capazes - salvo seja - de matar pai e mãe para pragmaticamente poderem ir ao baile dos órfãos.

Aplausos do PS.

Perante este quadro modesto, e longe de ser exaustivo, compreende-se o pânico do PPD/PSD.
As eleições de 1989 para o Parlamento Europeu e para as autarquias demonstram que a composição actual desta Assembleia já não corresponde à vontade do País. Um número crescente de portugueses constata diariamente que o Governo vai nu.