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600 I SÉRIE-NÚMERO 18

O Sr. Silva Marques (PSD):-É mesmo bom de mais!

Risos do PSD e do CDS.

O Orador: - Diz que a candidatura do Dr. Mário Soares está cada vez mais no dedo do PSD. Julguei que o «dedo» estava nas sondagens, que chegaram a 70% e 80% e naquelas pessoas que, aos milhares, o apoiam aí pelas ruas, pelas vilas, pelas aldeias e que dizem que ele é formidável! É que mal estava o Dr. Mário Soares se estivesse no «dedo» do Dr. Cavaco Silva! Não tenho a menor dúvida a esse respeito.
O Dr. Cavaco Silva limitou-se a constatar o apoio que o Dr. Mário Soares, irrecusavelmente, tem, e foi inteligentemente por aí. Eu próprio lhe tiro o chapéu pela habilidade que teve em fugir a uma derrota! Mas não se trata de um apoio convicto, do coração; é um apoio politicamente interesseiro, e em política isso conta! Não estou a condenar isso. O que eu fiz foi dar-lhe a minha própria explicação e tenho a minha própria convicção: entre a sinceridade com que o meu partido apoia o Dr. Mário Soares e a sinceridade com que o PSD o apoia, há um abismo, como é óbvio!

O Sr. Silva Marques (PSD):-É uma convicção de Estado! É uma convicção de natureza diferente!

O Orador: - De um lado, está um amor de velha data e, de outro, está um interesse político de oportunidade.

Protestos do PSD.

Agora, diz-me assim: «Se nós reduzimos o apoio que nós próprios damos ao PSD, fazendo-lhe crítica, e se o PSD reduz o apoio ao Dr. Mário Soares, aí, o Dr. Mário Soares começa a ler que pensar sete vezes sobre o que é que lhe vai acontecer». Mas não lhe vai acontecer nada, pela razão simples de que nem eles aram esse apoio nem, se o tirassem, conseguiam tirá-lo tanto como se julga. É que o apoio é genuíno nas próprias hostes do PSD; é um apoio real!

Protestos do PSD.

Pergunta o Sr. Deputado se pode ser eleito, quando se lhe tapa a cara. Bom, o Dr. Mário Soares foi eleito quando se lhe tapou a cara. Como calcula, agora, ele vai ser duas vezes eleito, porque ninguém lhe quer tapar a cara. Aliás, ele próprio deu-a, durante cinco anos. Deu a cara em todas as circunstâncias, andou pelo Pais, não foi, de modo algum, estátua, como diz o Carlos Carvalhas. Foi o mais dinâmico e deambulante dos presidentes. E a cara foi dada ao povo, não sendo já possível tapar-lha. Todos sabem que aquela cara bolachuda é a cara do melhor Presidente da República dos últimos tempos da nova República Portuguesa. Talvez até de sempre!...

Aplausos do PS e do PSD.

O Orador:-Disse-me, depois, que estou a ouvir mal relativamente às críticas que lhe fiz. Ora, até admiti que, em relação a uma das críticas, só vendo, porque não acreditei que alguém tivesse dito isso. Há-de ter dito qualquer coisa parecida! Há-de ter dito qualquer coisa parecida! Há-de! Há-de!...

Risos do PS.

Não foi bem aquilo que disse, ou seja, «não dou posse a um governo PCP» -porque sabe que isso era inconstitucional, era um golpe de Estado-, mas terá dito «sou contra um governo PS/PCP» - se calhar, até há mais quem seja contra... Mas o problema não é esse! O problema é que não há votos bons e maus e o Presidente da República, qualquer que ele seja, por mais que odeie a coligação PS/PCP, tem de lhe dar posse.

O Sr. Basílio Horta (CDS): - Nem disse isso!

O Orador: - Muito bem! Então, eu próprio acautelei na minha intervenção que pudesse não ser assim, mas, mesmo não o tendo dito, é preciso que as coisas fiquem claras.
Nunca pensei que a monarquia viesse aí pela sua mão, porque não há nenhuma mão que possa trazer a monarquia. Nem a sua, nem nenhuma outra! Não! O que estranhei, e continuo a estranhar, é a ligeireza com que o meu amigo promete tantas coisas que sabe agradarem a quem se está a dirigir. Quer dizer: o senhor vai falar com os monárquicos, que, naturalmente, querem instaurar a monarquia, embora, se fossem lúcidos, como eu desejava que fossem, soubessem que não vale a pena. A posição deles, de fidelidade ao último dos Braganças, é bonita, mas nem o Salazar se atreveu a tirar-nos a República!...

O Sr. Basílio Horta (CDS): -Ele não era democrata!

O Orador: - O que quis dizer foi o seguinte: em primeiro lugar, o Presidente da República não tem nada a ver com a revisão da Constituição. Oiça, Dr. Basílio Horta: o Presidente da República não tem, nem deve ter, nada a ver com a revisão da Constituição. Como é que o meu amigo vai prometer influenciar a próxima revisão da Constituição, no sentido de tirar de lá um limite material, que, por acaso, até faz parte da Constituição material, tanto fazendo que esteja escrito, ou não! E, em relação ao que me perguntou há pouco, a minha resposta é: «Não!» Não é hoje possível, sem uma revolução, instaurar a monarquia em Portugal! E disse-me: «E se a maioria do povo português...». Mas nós nunca poderemos saber isso, porque não há meio institucional de saber se essa maioria existe e, portanto, só por via revolucionária é que isso é possível. Nós, republicanos (os meus avós), também fizemos a Revolução de 5 de Outubro; os monárquicos que façam outra e eu aceito o resultado dessa revolução, se lhes for favorável.

Risos do PS.

Não há problema algum!
É que há valores consagrados na Constituição que só por ruptura constitucional e não por revisão constitucional-e esse ponto é um deles! Temos de nos entender sobre isso!
O meu amigo sabe perfeitamente que nós retirámos dois limites materiais, uma vez que eles não sito eternos. O que acontece é que ainda ninguém se atreveu a propor a eliminação desse limite e, quando se atrevesse, provavelmente, em vez de uma votação, tinha uma gargalhada...!
Diz ainda o Sr. Deputado que é muito serio o problema da Europa. Pois é! É sério para mim, é sério para o Dr. Mano Soares, é sério para todos os europeístas. Como diz o Dr. Lucas Pires, num prefácio a um livro do