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3224 I SÉRIE - NÚMERO 95

O Sr. José Pacheco Pereira (PSD): - Sr." Presidente, Srs. Deputados: Nesta Casa, ainda são os deputados quem decidem do sítio de onde desejam falar.
Sr. Deputado António Guterres, ouvi com muita atenção a sua intervenção e penso que haverá muita coisa para discutir, e seriamente, retirado o nível retórico que há sempre nas intervenções deste tipo e o carácter abstracto do discurso do Partido Socialista, porque o Partido Socialista faz um discurso cuja relação não só com a sua própria acção como com a realidade é inteiramente abstracta não só naquilo que foi a sua responsabilidade como naquilo que são as soluções possíveis na realidade presente.
Mas, deixando isso, porque não lenho tempo para analisar esse aspecto de disfunção que existe no discurso socialista, gostaria de colocar um problema que, penso, é de fundo e que tem a ver com a linguagem política do Partido Socialista. Esse problema é o da enorme diferença entre a análise, a descrição e o retraio que o Partido Socialista faz do País e a percepção que o País tem de si próprio. £ se há, o problema que existe hoje, na actividade política do Partido Socialista, ele tem a ver com a enorme diferença de percepção que o País tem dos problemas que as pessoas sentem existir e aquilo que o País reconhece na descrição e no discurso político do Partido Socialista.

O Sr. Domingos Duarte Lima (PSD): - Muito bem!

O Orador: - Sr. Deputado António Guterres, até admito que, no inventário casuístico que faz das questões, possa ter razão numa ou noutra, mas não tem razão de certo na análise global e na extrapolação dos casos individuais para uma análise globalizada da situação do País.

Vozes do PSD: - Muito bem!

O Orador: - Desse ponto de vista, o Partido Socialista coloca-se na situação de falar sozinho - e nem sequer me refiro às sondagens, deixemo-las de parte e vamos ver os estudos de opinião, os estudos sociológicos, a percepção que os Portugueses têm, no discurso sobre si próprios, da situação do País!
É difícil, neste momento, convencer os Portugueses de que se vive num período de grande conflitualidade social, porque se as centrais sindicais não se convencem dessa conflitualidade, muito menos o cidadão comum, que assiste a um ano, em grande parte, sem greves.

Protestos do PS.

Não é uma andorinha que faz a Primavera!
Mais: os senhores querem discutir este assunto seriamente, portanto presumo que têm consciência de que as greves diminuíram consideravelmente. E não se pode andar a «bater com a cabeça nas paredes» para tentar encontrar uma realidade social que não existe!...

Vozes do PSD: - Muito bem!

O Orador: - Quanto às «injustiças sociais», os Srs. Deputados do PS falam, e com razão, do aparecimento de fenómenos da nova pobreza; mas esquecem-se de que o que caracterizava o País era a velha pobreza, fenómeno não circunscrito à realidade urbana, mas espalhado por quase todo o País, que, em grande parte, desapareceu do mapa social.

Vozes do PSD: - Muito bem!

O Orador: - A nova pobreza é um fenómeno do próprio desenvolvimento, que surge em todos os países que fazem a transição do subdesenvolvimento para o desenvolvimento e que, se merece atenção social, evidentemente, não pode ser transformada no mesmo tipo de bandeira política que era a pobreza do País, em sentido lato, das pessoas que andavam descalças nos anos 30, o que justificava, no tempo do salazarismo, fazer campanhas contra o «pé descalço».
Essa realidade tem vindo a desaparecer e não há habilidades retóricas nem discursivas que convençam a maioria dos portugueses de que nos encontramos numa situação pior que a do passado.
Srs. Deputados do Partido Socialista, as pessoas não são parvas sobre a sua própria situação! Podem querer mais, podem ter mais expectativas, mas têm consciência de que a situação se alterou!
Os Srs. Deputados do Partido Socialista falam no «descalabro económico», mas como é que os senhores, como portugueses que respondem aos estudos sociológicos e às sondagens, que têm mais expectativas de vida, que são optimistas em relação ao seu futuro, que têm confiança económica real, mostrando-a na aplicação do vosso dinheiro - e esta é a «prova dos nove» daquilo que, no fundo, é a relação das pessoas com as poucas posses que têm -, como é que os senhores nos querem convencer, no vosso discurso, que existe uma sensação geral de «descalabro económico»?
O problema do Partido Socialista é o de que o seu discurso político é autista em relação à percepção que os Portugueses têm do seu discurso económico. Até posso admitir que o Partido Socialista queira prevenir os Portugueses, só que faz um discurso sobre a realidade que está a milhas da percepção dos portugueses comuns sobre essa realidade!
Com isso, Sr. Deputado António Guterres, bem pode falar para os políticos, para os jornais, mas dificilmente falará para o País!

Aplausos do PSD.

A Sr.ª Presidente: -Para pedir esclarecimentos, tem a palavra o Sr. Deputado Nogueira de Brito.

Vozes do PSD: - Ah! Também vai falar da tribuna!

O Sr. Nogueira de Brito (CDS): - Sr.ª Presidente, Srs. Membros do Governo, Srs. Deputados: Embora não sendo o intérprete privilegiado da opinião do povo português, como é o Sr. Deputado José Pacheco Pereira, entendo que, por razões mediáticas, também tenho que falar da tribuna. Confesso-o humildemente.

Risos

E também digo, Sr. Deputado José Pacheco Pereira, que começo por pedir ao Sr. Deputado António Guterres e ao Partido Socialista que não modifiquem este seu discurso, porque, devo dizê-lo, gosto dele.

Risos do PS.

Não é bem o discurso habitual do PS, não é o discurso palavroso, de abuso de dados estatísticos; combina uma certa ideia de desenvolvimento com a informação, a preci-