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938 I SÉRIE - NÚMERO 25

rogéneas; que se deu a missionação de vários continentes com a transmissão daquilo que julgávamos possuir de melhor - a mensagem de Cristo; que, no contacto com outros povos e outras raças, se verificou a ausência, se não total, pelo menos acentuada de preconceitos raciais, em contraste nítido com outros povos que nos seguiram no encalço pelas rotas do globo.»
Sem pretender entrar nos meandros da filosofia da Historia, não deixarei de lembrar factos importantes que ocorreram de quinhentos em quinhentos anos e deixaram marcas indeléveis no caminhar do Homem através dos tempos.
Lembro o século v antes de Cristo, o século de Péricles, que, após a vitória contra os persas, se traduziu numa esplêndida florescência de todas as artes na Grécia e, sobretudo, em Atenas.
Quinhentos anos volvidos surge o século primeiro da nossa era. Reinando em Roma Augusto, fundador do Império, nasceu na Judeia Jesus Cristo, a quem nós, os cristãos, adoramos como filho de Deus e a quem os agnósticos, como Renan, consideram ser a honra de quem tem um coração humano.
Foi ele quem legou à Humanidade um conjunto de princípios e valores imperecíveis que impregnam a nossa civilização ocidental.
No século v depois de Cristo, em 476, o Império Romano ocidental caiu em poder dos invasores germânicos.
No segundo milénio, em 1095, surge a primeira cruzada, a que se seguirão mais sete. E foi, nessa altura, em 1143, que o reino de Portugal foi fundado.
No século XV, com o Renascimento, surge a renovação do conhecimento da antiguidade greco-romana, que imprime uma nova direcção aos estudos e à cultura europeia.
Os descobrimentos geográficos que ocorrem neste século e em que Portugal levou a palma relativamente a outras nações, nomeadamente aos reinos de Leão e de Castela, constituem uma das maiores aventuras do espírito humano.
Encontramo-nos, agora, a caminho do ano 2000. Neste final de século ocorrem na Humanidade mudanças inesperadas e imprevisíveis: no plano internacional, assistimos à queda do comunismo e ao desmoronamento da ex-URSS, no plano interno, optamos pela integração europeia.
Dois factos irão, assim, dominar a minha intervenção: os quinhentos anos dos descobrimentos e a nossa integração na Europa Comunitária.
Os descobrimentos feitos no século XV foram tanto ou mais importantes para o mundo de então quanto a descida do homem na Lua e as viagens interplanetárias, no nosso século.
Luís de Camões imortalizou em Os Lusíadas toda a epopeia dos descobrimentos e todo um povo: «Eu canto o peito ilustre lusitano...»
A epopeia vale, desta forma, como o poema de uma raça que, dominada pelo espírito de cruzada, tudo sacrificou à dilatação da fé e do império.
Muito se tem falado dos descobrimentos geográficos, daqueles que deram novos mundos ao mundo; pouco ou quase nada se tem falado, neste Parlamento, acerca daqueles que difundiram a nossa cultura e contribuíram para o encontro da nossa civilização com outros povos. Refiro-me à meritória obra dos missionários.
É certo que a evangelização não se deu de maneira uniforme. Houve episódios edificantes de autêntico amor evangélico, de promoção humana e de respeito pelo próximo, mas também houve momentos menos felizes, sobretudo na América Latina.
Ocupemo-nos, porém, da acção daqueles que partiram em naus portuguesas e que foram o cimento da nossa, maneira de estar no mundo em contacto com novas gentes e os principais transmissores do nosso espírito ecuménico e universalista.
A este propósito, Eduardo Lourenço, num artigo intitulado «Portugal e os Jesuítas», que escreve em memória do Padre Manuel Antunes, na revista Oceanos, diz o seguinte: «Partindo à conquista do mundo - e nisto seguindo a injunção evangélica-, os Jesuítas em parte o conquistaram, mas o seu maior prodígio foi o de serem conquistados por ele. Não foram os únicos que em presença do «outro» se esforçaram por compreendê-lo para melhor o evangelizar ou dialogar com ele... mas ninguém como eles, com aplicada consciência e persistência, se extraiu da matriz europeia e se fez outro para que, segundo o seu desígnio, o mesmo do apóstolo das gentes, «Deus fosse todo em todos».
«Neste confronto ou encontro com o «outro», os companheiros de Inácio de Loiola -de Francisco Xavier a Manuel da Nóbrega, a Anchieta, a Matteo Ricci - serviram-se da barca portuguesa e, objectivamente, serviram o que eram então os interesses de Portugal como Nação conquistadora e missionária e como povo cristão...»
E tomando como referência este texto, que salienta uma das características do ecumenismo português e do sentido da universalidade que está inscrito na nossa história, desde a Idade Média, pois já então formávamos o desígnio de ir à procura de espaços desconhecidos, não poderei deixar de lembrar alguns nomes que foram arautos desta missão.
Não esquecendo a valiosa obra missionária de todas as ordens religiosas, por todos, vou recordar o nome de Francisco Xavier e de António Vieira.
O papa Paulo III, a pedido de D. João III, enviou Francisco Xavier, em 1540, para a evangelização da índia. É o apóstolo do Oriente e do Japão.
Ò Padre António Vieira, a quem Fernando Pessoa apelida de imperador da língua, personifica os modelos de intervenção da companhia com o universo lusíada.
Homem de Deus e homem do mundo, a sua figura domina o século XVII português: pregador, escritor, político de visão, conselheiro de reis, diplomata, missionário...
É lugar comum dizer-se que o estudo do passado serve para compreendermos o presente e prepararmos o futuro. Volvidos cinco séculos sobre os descobrimentos, preparamos a nossa integração na Comunidade Europeia.
Eduardo Lourenço, no artigo citado, detende que os Portugueses, a título de cristãos, possuíam no século XV tudo o que bastava para serem ecuménicos nas suas acções através do mundo.
O Padre Manuel Antunes, um dos mais lúcidos pensadores da segunda metade do século XX, e perante cuja memória me curvo, ao proceder a uma análise histórico-
filosófica do povo português, num texto recolhido no livro Repensar Portugal, publicado em 1979, defende a nossa integração na Europa como consentânea com o nosso destino a cumprir: a universalidade.
Vale a pena lembrar parte daquele texto, como pequena homenagem aquele ilustre pensador, que muitas vezes ouvi e de quem tive o privilégio de ser amigo: «Qualquer que seja a explicação para esse sentido da universalidade
- posição geográfica frente a África e as Américas como cais 'natural' de embarque e desembarque de três continentes, constituição étnica de heterogéneos elementos amalgamados ou, sobretudo, a linha cultural dominante, forma-