O texto apresentado é obtido de forma automática, não levando em conta elementos gráficos e podendo conter erros. Se encontrar algum erro, por favor informe os serviços através da página de contactos.
Não foi possivel carregar a página pretendida. Reportar Erro

20 DE NOVEMBRO DE 1997 561

Orlando Ribeiro ensinou-nos que devemos pensar e devemos «pensar-nos» com os pés bem assentes na terra, e nesta terra e no povo que a habita. Daí a nossa inevitável homenagem.

Vozes do PCP: - Muito bem!

O Sr. Presidente: - Tem a palavra o Sr. Deputado Fernando Pereira Marques.

O Sr. Fernando Pereira Marques (PS): - Sr. Presidente, Srs. Deputados: Orlando Ribeiro doutorou-se aos 25 anos com uma tese sobre a Arrábida e a sua geografia e prosseguiu esta brilhante carreira universitária, logo assim iniciada, fundando, em 1943, a primeira instituição nacional de investigação em Geografia. o Centro de Estudos Geográficos, que passou a editar a primeira publicação regular do País sobre Geografia e que temo muito que ainda seja uma das únicas, senão a única, publicação regular sobre esta disciplina.
Em 1949, organizou em Lisboa, o XVII Congresso Internacional de Geografia, o único até hoje realizado em Portugal, facto que ilustra, desde logo a projecção internacional do professor e da obra, já publicada em várias línguas.
Orlando Ribeiro ensinou, assim, na Sorbonne, no Collège de France, no Rio de Janeiro, no Quebeque e nas universidades de Salamanca, Valladolid e Sevilha e entrou para a Academia das Ciências italiana antes de ser admitido na Academia das Ciências portuguesa, assim como também pertenceu às Academias de Ciências de Madrid e de Bordéus.
Não era um geógrafo de gabinete de calculadora e algo burocrático, mas um homem que percorria os territórios que estudava com botas de montanhês, um «andarilho» de uma curiosidade intelectual inesgotável que cultivava uma visão humanista da Geografia, que se cruzava com a História, a Antropologia, a Arqueologia. Ainda há pouco, a minha colega Helena Roseta sublinhava o contributo de Orlando Ribeiro para a formação de toda uma nova geração de arquitectos que passou a olhar a arquitectura com «novos olhos».
Deixou-nos, numa prosa luminosa e apaixonada, através de muitas obras, uma reflexão sobre Portugal e os portugueses liberta de clichés e mitologias várias, para além de outras obras que escreveu sobre a expansão portuguesa, sobre o Mediterrâneo enquanto zona terrestre e domínio de civilização. sobre a colonização ou, até, sobre as erupções na ilha do Fogo.
Portugal perdeu uma grande figura da sua cultura. Pena é que, apesar do esforço de Orlando Ribeiro e da sua obra, a Geografia continue a não encontrar o lugar que merece nessa mesma cultura e na Universidade portuguesa e...

Vozes do PS: - Muito bem!

O Orador: - ... a ser considerada um género da disciplina menor, isto num país que tanto gosta dos floreados retóricos e comemorativistas sobre a epopeia dos Descobrimentos.
Sr. Presidente. Srs. Deputados: O Grupo Parlamentar do PS associa-se, naturalmente, a este voto de pesar e transmite os seus pêsames à família enlutada.

Vozes do PS: - Muito bem!

O Sr. Presidente: - Tem a palavra a Sr.ª Deputada Isabel Castro.

A Sr.ª Isabel Castro (Os Verdes): - Sr. Presidente, Srs. Deputados: O Grupo Parlamentar de Os Verdes associa-se a este voto pelo falecimento do Professor Orlando Ribeiro.
O Professor Orlando Ribeiro, tal como ficou sublinhado, foi alguém que teve um papel marcante no conhecimento e na divulgação da Geografia como ciência, marcou uma geração e é autor de diversas obras de referência que todos os estudantes das nossas universidades deveriam conhecer.
No momento da sua perda, em que a Assembleia da República se associa a esta homenagem através deste voto, julgo que a maior homenagem que esta Assembleia pode dar a alguém como Orlando Ribeiro, numa perspectiva de futuro, é divulgar a sua obra e acima de tudo colher nas suas decisões e na sua prática aquilo que ele nos ensinou nos seus livros. Refiro-me às questões que são hoje cruciais para o desenvolvimento. Não pode haver desenvolvimento se o ordenamento do território e o ambiente viverem «divorciados» e se nossa diversidade, do ponto de vista da fauna, da flora e também, cultural, domínio que está intimamente ligado a estes aspectos, não for considerada.
Vale, sobretudo, a actualidade de uma mensagem que, embora datada, continua sem ser hoje uma prática do nosso quotidiano, designadamente quando os decisores políticos continuam a ignorar que o nosso progresso, em termos de equilíbrio com a natureza e o homem, implica ter em conta uma diversidade e uma identidade que nos são próprias e singulares. É precisamente o reconhecimento dessa singularidade que nos diferencia que tem de actuar como matriz do desenvolvimento.
Homenagear Orlando Ribeiro é trazer para o debate os seus ensinamentos, é trazer para a decisão política o que as suas obras nos ensinaram.

Vozes de Os Verdes e do PS - Muito bem!

O Sr. Presidente: - Tem a palavra o Sr. Deputado Nuno Abecasis.

O Sr. Nuno Abecasis (CDS-PP): - Sr. Presidente. Srs. Deputados: Nada melhor para homenagear a grandeza de Orlando Ribeiro do que a simplicidade das palavras. Aliás, Orlando Ribeiro, como muitos grandes homens da sua geração, foi um homem simples.
Conheceu e estudou Portugal, correndo o País e falando com os portugueses - penso que quando o fazia não dizia para si próprio que era um professor universitário mas, sim, um homem curioso que levava a sua curiosidade aos limites e alguém que estava a abrir caminhos.
Todos os que se preocupam com o urbanismo neste país sabem qual foi a força pioneira de Orlando Ribeiro que atraiu a atenção de quem se preocupa com a cidade, com os aspectos mais humanos, mais do nosso dia-a-dia.
Orlando Ribeiro, como Vitorino Nemésio, foi um homem simples que soube conter na sua simplicidade uma grandeza ímpar.
Sr. Presidente, Portugal está mais pobre e esta Assembleia deve reflectir sobre isso. Felizmente, Orlando Ribeiro deixou muitos discípulos. Fervorosamente desejo que eles sejam capazes de continuar a sua obra e que nós sejamos legítimos e bons herdeiro, de tudo aquilo que ele nos ensinou.