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210 I SÉRIE - NÚMERO 7

que o tempo corre mais propício a estas do que aquelas. Os jovens de hoje tendem a ser o que já Sócrates dizia ser: cidadãos do Mundo. Realizações como a Expo 98 são, por isso, preciosas para nos ajudarem a retomar o sentimento de pertença a um Povo que fez coisas de espantar, que foi grande e não pode ter perdido a capacidade de voltar a sê-lo.
Éramos, quando fomos maiores, um milhão apenas. Não é fácil imaginar o sentido de desígnio colectivo e a coragem que foram precisos para ir cada vez mais além, vencendo obstáculos e medos. O que havia pare lá da linha do horizonte? Que mostrengos, que precipícios, que fundões?
Pois bem: somos o mesmo Povo. Que derrotismo nos poderia levar a admitir que perdemos todas as passadas virtudes?

O Sr. José Magalhães (PS): - Muito bem!

O Sr. Presidente: - De tempos a tempos, demos sinais de as não termos perdido: na reconstrução de Lisboa, após o terramoto de 1755; nas batalhas pela preservação das fronteiras do Brasil, ou contra os invasores dos seus portos; na defesa, nessa então legítima, das nossas possessões ultramarinas; nas batalhas - comuns à época - pela chamada pacificação dos povos colonizados; no levantamento nacional contra o Ultimatum da Inglaterra; na resistência aos apetites coloniais alemães durante a l.ª Grande Guerra; na resistência indomada à longa noite fascista; na determinação de sermos uma democracia pluralista europeia e um Estado de direito; enfim, na capacidade revelada na concepção e execução da Exposição Mundial de Lisboa, que hoje concelebramos, fomos de novo grandes.

O Sr. Luís Marques Guedes (PSD): - Muito bem!

O Sr. Presidente: - E este é, para mim, o mais importante dividendo retirável deste nosso último e tão significativo cometimento: o pretexto que nos deu para rectificarmos tentações de desânimo ou de descrença nas capacidades do povo português.
Ouvi esta afirmação da boca de muitos populares que visitaram a Expo 98: «Caramba! Fomos de novo capazes!».
Capazes de quê, afinal? De conceber com imaginação e arrojo, de organizar com regras, de executar bem e em tempo recorde.
O segundo dividendo há-de consistir na chamada de atenção que a Exposição foi para o nosso passado de navegantes. Tematicamente centrada nos «Oceanos, um Património para o Futuro»; cronologicamente enquadrada nas comemorações do Ano Internacional dos Oceanos, a cuja Comissão presidiu, com inteiro êxito, um grande português - Mário Soares; localizada à beira d'água, ali onde o Tejo é tão largo que toma o nome de mar; e concebida com imaginação e espírito de modernidade, por recurso a imagens e valores carregados de simbologia marítima, a Exposição Mundial de Lisboa acabou por converter-se numa dupla consagração: do mar e do seu significado para o futuro da Humanidade, do povo que o desuno lado para o desvendar, o percorrer e, por um século, o dominar.
A Exposição veio, assim, a constituir também, da parte dos portugueses que a conceberam c executaram, um acto de gratidão e um acto de amor. Ligam-nos no mar lamas alegrias: tantas tristezas, tantas lágrimas choradas e tantas vidas perdidas que, como disse o genial Pessoa, «o mar sem fim é português».
Que esplêndida vitrina do Portugal de hoje! Que rutilante negação do Portugal de há 25 anos apenas! Desse Portugal, mas não do Portugal de quinhentos. Nesse, então, estávamos na vanguarda tecnológica da arte de marear. Não só de arrojo se fez o nosso feito, também de estudo, apuro técnico e experimentação programada. A Escola de Sagres não foi um devaneio do Infante e as expedições exploratórias do grande João  não foram nunca geridas peto acaso. Bartolomeu Dias - o nosso maior navegador - e o próprio Vasco da Gama - grande diplomata e grande capitão - agiram sempre por objectivos, a que presidia uma ambição: ir mais além, na superfície das águas e na profundeza dos conhecimentos. Dizem alguns que também na dilatação da fé cristã - quero crer que sim.
Pois bem: após séculos de atraso tecnológico, resultante, entre outras razões, da expulsão dos judeus, da perda da independência, do obscurantismo da Inquisição e da censura do salazarismo, a Exposição de Lisboa documenta uma evolução tecnológica desconhecida antes dela, e inimaginável sem ela.
E como sempre se aprende com os erros dos outros, também nós pudemos beneficiar do conhecimento de alguns erros cometidos pelos nossos vizinhos, na concepção da sua, aliás, também maravilhosa Exposição de Sevilha.
O maior desses erros terá sido a não previsão do ulterior aproveitamento das construções do certame. Hoje, a feira de Sevilha é pouco menos do que um espaço morto e inaproveitado.
Não o será o espaço da Exposição de Lisboa: foi esta concebida com escopo também utilitário, com conjugação do provisório e do definitivo. Desde logo, pela localização: foi-se ao horrível e fez-se o belo; foi-se ao antigo e degradado; fez-se o moderno e perfeito. Restituiu-se a Lisboa Oriental à Lisboa dos outros pontos cardeais. Era lixo; é requinte, também segundo um critério de salutar estratégia urbanística. Com o tempo, a cidade, que foi ribeirinha, virou as costas ao rio. Volta-se agora de novo para ele e, em breve, o beijará em toda a extensão dos seus lábios, quero dizer, das suas margens.

Aplausos do PS.

Esta revolução e requalificação urbanística fica a dever-se, quanto à faixa oriental da cidade, à inspirada localização da nossa Exposição Mundial.
Mas a preocupação de construir obra durável foi levada até mais longe. Não só muitos dos edifícios construídos são para ficar - o oceanário, o pavilhão da utopia (a que prosaicamente se há-de chamar «multiusos», com pena minha) a gare do Oriente, o teatro Camões, o pavilhão do conhecimento dos mares, o pavilhão de Portugal, a área internacional norte, destinada às novas instalações da Feira Internacional de Lisboa, a nova marina de Lisboa, o pavilhão da realidade virtual, o vídeo-estádio, o centro comercial Vasco da Gama, etc. - como foram e vão ser construídas habitações para 25 000 habitantes. A área habitacional cobrirá 53% da área total edificada, esta da ordem dos 2,5 milhões de metros quadrados.
E não se julgue que esta é uma realidade apenas virtual. A verdade é, antes, que 40% dos terrenos destinados à construção urbana já, neste momento, se encontram vendidos.