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O Orador: - Fazem-no, aliás, ora um, ora outro, ora em conjunto, com uma linguagem crescentemente agressiva - tivemos hoje um bom exemplo - e radical e, por isso, cada vez mais afastada da situação real do País. País que tem as suas dificuldades, mas que apresenta também inúmeros aspectos positivos e oportunidades que nos galvanizam.
Os dois partidos não têm sequer uma alternativa política comum para enfrentar os problemas nacionais. A sua lógica é meramente destrutiva, mesmo com o risco de tornar o País ingovernável. O PP e o PSD ora se entendem, ora se desentendem, num interminável jogo de zangas e reconciliações, de aproximações e afastamentos que revelam um único verdadeiro ponto de contacto, o «apetite» pelo poder.

Aplausos do PS.

Vozes do PSD: - Fala do PS!

O Orador: - A relação entre PSD e o PP faz-me lembrar a famosa vichyssoise, que tão depressa entra como sai da ementa do jantar.

Risos do PS.

Vozes do PSD: - Fale de Portugal!

O Orador: - Sr. Presidente, Sr.as e Srs. Deputados: Esta moção de censura é, aliás, politicamente absurda. Começou com um ultimato e, como todos os ultimatos em política, tinha como objectivo evitar o que pedia, ou seja, uma remodelação do Governo. Rejeitei naturalmente o ultimato, mas não fechei os olhos ao País,…

Risos do PSD.

… procurando não só entender as preocupações dos portugueses, como sobretudo encontrar as melhores formas de organização governativa para dar respostas às suas preocupações e anseios. Sempre pensei que agindo assim teria de pagar o preço político de ver o PSD reclamar uma qualquer vitória, ainda que fictícia. Nem isso! Ao PSD só interessa dizer mal. Desaparecido um pretexto, arranjam-se outros: a moção de censura aí está!

Protestos do PSD.

Apetece perguntar: para quê?

Protestos do PSD.

Srs. Deputados, estejam calmos, porque o pior está para vir!

Aplausos do PS.

Protestos do PSD e do CDS-PP.

O Sr. Presidente: - Srs. Deputados, peço-vos que façam silêncio, para que o Sr. Primeiro-Ministro possa ser ouvido.
Faça favor de prosseguir, Sr. Primeiro-Ministro.

O Orador: - Cada um de nós tem o seu estilo e, em conformidade, é sempre possível exprimir as mesmas ideias com maior ou menor agressividade, elegância ou clareza. Embora em estilo diverso do meu, permito-me responder à pergunta «moção de censura para quê?», utilizando a doutrina aqui expressa pelo anterior Primeiro-Ministro, líder do PSD, quando confrontado, em Outubro de 1994, com uma moção de censura contra o seu próprio governo, passo a citar: «Sejamos claros, sejamos muito claros: se o partido censurante apresenta, convictamente, uma moção de censura, é porque deseja derrubar o Governo. É esta a implicação constitucional necessária de uma moção de censura: lançar o País numa crise política, com todas as consequências graves que daí advêm para o bem-estar dos portugueses e para a defesa dos interesses de Portugal». E continuo a citar o Professor Cavaco Silva: «Se o partido censurante, ao invés, apresenta, com ligeireza, uma moção de censura mas não quer o derrube do Governo, então, temos de denunciar veementemente perante os portugueses a sua leviandade e falta de sentido de Estado, a sua apetência pela baixa política e, tal como sucede com outros, o seu total distanciamento dos requisitos da verdade, da nobreza de princípios e do espírito de responsabilidade».
Peço aos Srs. Deputados do PSD que não levem a mal exageros de linguagem que obviamente não são meus.

Risos do PS.

Seria, aliás, uma boa oportunidade para relembrar, a quem tem a obsessão de se reencontrar com a história, que é conveniente ter cuidado com a forma como se dizem as coisas.
Mas, Srs. Deputados do PSD, terão de reconhecer que, quanto ao fundo da questão, a citação é inteiramente adequada. A estabilidade não é um fim absoluto - é, no entanto, condição essencial para que haja governabilidade, confiança no futuro e respeito por todos os cidadãos. Quem apostar num salto no escuro ou em interromper o ciclo normal de vida democrática terá de assumir as responsabilidades por isso.
Num momento decisivo da nossa vida colectiva não podemos dar-nos ao luxo de apostar na instabilidade e na incerteza em nome de ambições futuras que esquecem o dia-a-dia do País.
Sr. Presidente, Sr.as e Srs. Deputados: Dir-se-á que esta moção de censura tem muito poucas hipóteses de ser aprovada. É verdade. Mas, ela é apenas um passo numa estratégia de desestabilização, de que o PSD é crescentemente intérprete com o objectivo cada vez mais claro de «chumbar» o Orçamento do Estado.
Não os parece demover sequer a limitação constitucional decorrente das eleições presidenciais. Não havendo as condições mínimas de governabilidade, que só um Orçamento do Estado proporciona, não poderemos ter eleições antes de Junho, nem Orçamento, por muito absurdo que pareça, na melhor das hipóteses, antes de Outubro. Os prejuízos que esse longo período de incerteza causaria ao País e à vida concreta das pessoas e das famílias são incalculáveis e não deixa de ser patético o esforço de alguns elementos do PSD, tentando explicar que o Orçamento não faz falta, porque se podem viver 9 ou 10 meses com os duodécimos do ano anterior.