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1093 | I Série - Número 28 | 09 de Dezembro de 2000

 

acumulam todos os dias. Surgem em cada momento novos elementos, surgem a cada hora novas e preocupantes notícias. Penso mesmo, Sr. Presidente e Srs. Deputados, que estamos a chegar a um momento único na história da vida política do nosso país.
Devo confessar, em relação àquilo de que vou falar agora, que quando a primeira indicação surgiu, eu tive uma reacção instintiva: não queria acreditar.

O Sr. Luís Marques Guedes (PSD): - Nem nenhum de nós!

O Orador: - Esperei, então, que chegassem as confirmações autênticas, prudentemente aguardei algum tempo, e essas confirmações autênticas chegaram. A nota do Director de Informação da Rádio Renascença - tenho-a aqui - foi elucidativa: o Sr. Ministro Vara, preocupado certamente, e com boas razões, com as notícias daquilo a que já se chama, na gíria corrente, a fundação Patrão/Vara, confirmou a dois jornalistas da Rádio Renascença que estava a ponderar a demissão.
O mesmo Ministro Vara, preocupado certamente, e com razão, com o rumo que as coisas estavam a tomar, decidiu que devia fazer um desmentido público à notícia que tinha lançado.
Foi tão grave o procedimento do Sr. Ministro Vara que o mesmo Director de Informação da Rádio Renascença, depois de ter consultado o Sindicato dos Jornalistas e devidamente por ele autorizado, esclareceu que a fonte da notícia inicial era o próprio Ministro Vara.

Vozes do PSD: - É muito grave!

O Orador: - Isto é, o Sr. Ministro Vara canaliza para os jornalistas informações falsas, brinca com os profissionais e manipula a comunicação social para e em seu próprio benefício.

O Sr. António Capucho (PSD): - É um escândalo!

O Orador: - É o comportamento ético, Sr. Presidente, que está aqui em causa. Compreende-se que o Sr. Ministro Vara não queira abandonar o lugar. O Sr. Ministro Vara quis fingir que saía, quis imitar o Ministro da Justiça: «Eu sou tão bom como ele», terá dito o Sr. Ministro Vara. «Então por que é que não devo também pressionar o Sr. Primeiro-Ministro, por que é que eu não hei-de encostá-lo à parede?»

Aplausos do PSD.

Devo confessar que já não me importo com aquilo que o Sr. Primeiro-Ministro possa pensar disto tudo - o mais natural é não pensar coisa nenhuma, vem-nos habituando a isso -, o que me preocupa, Sr. Presidente e Srs. Deputados, é o que pensarão os portugueses de tudo isto. Há ministros que se despedem do pessoal dos ministérios com lágrimas nos olhos e há ministros que voltam atrás no mesmo dia. É uma cena trágico-cómica, própria de um espectáculo de opereta.
Mas há mais: há ministros que anunciam a sua própria morte política, como aquela história de quem colocou uma notícia falsa a dizer que tinha falecido só para depois a desmentir. É este o caso do Sr. Ministro Vara.
E perante isto, Sr. Presidente e Srs. Deputados, coisa inusitada, coisa nunca vista, história de bradar aos céus, pormenor gritante e repugnante daquilo que é a manipulação da comunicação social, do que é a utilização do poder, do que é a utilização do seu poder de ministro, do que é a utilização do seu poder de ministro em relação ao seu Primeiro-Ministro, fraco,…

O Sr. Rosado Fernandes (CDS-PP): - Isso é «varejar»!

O Orador: - … os portugueses podem dizer - e com razão - que nunca terão razões para estarem mais preocupados.
Aquilo que se passa, Sr. Presidente e Srs. Deputados, é a verdadeira vergonha da democracia, construída e escrita pelos próprios membros do poder.

O Sr. Osvaldo Castro (PS): - Olha que grande escândalo!… O vosso Ministro Dias Loureiro fazia isto todos os dias!

Protestos do PSD.

O Sr. Presidente: - Srs. Deputados, agradeço que não entrem em diálogo directo.

O Orador: - Eu compreendo que o Sr. Deputado Osvaldo Castro, perante a passividade do Sr. Secretário de Estado dos Assuntos Parlamentares, que já ontem a teve e não interveio para defender o Governo, queira defendê-lo.

O Sr. Secretário de Estado dos Assuntos Parlamentares (José Magalhães): - Sr. Deputado!…

O Orador: - V. Ex.ª vai ter, certamente, oportunidade de o fazer, vai ter, certamente, a oportunidade de dizer que isto que eu estou a afirmar é mentira, vai ter a oportunidade de me contestar. A não ser que seja verdade e, então, V. Ex.ª ficará calado.

Risos do PSD, do PCP e do CDS-PP.

Mas como eu sei que V. Ex.ª é um homem sério e que é incapaz de estar a argumentar falsamente, V. Ex.ª vai, quando eu acabar de dizer, telefonar ao Sr. Secretário de Estado e dizer-lhe assim: Sr. Secretário de Estado, não se meta nisto!…
Por isso compreendo, Sr. Presidente, Sr. Secretário de Estado e Srs. Deputados, que VV. Ex.as estejam perante o momento mais difícil da vossa vida. As complicações são tantas!…
Não está aqui o Sr. Deputado que ontem dizia que há pequenas dificuldades políticas. É que há vários critérios: eu creio que as pequenas dificuldades políticas serão porventura estas; as grandes dificuldades políticas serão certamente as demissões que se anunciam.
VV. Ex.as esperarão por essa altura para, então, afirmarem aqui que têm grandes complicações políticas. Mas como penso que isso está a caminho e deve estar tão breve quanto aquilo que penso dever ser um dever de responsabilidade do Primeiro-Ministro, porque, se não, ele é conivente com tudo isto que se está a passar,…

O Sr. Luís Marques Guedes (PSD):- Muito bem!