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1985 | I Série - Número 49 | 15 de Fevereiro de 2001

 

Parlamento se associou unanimemente neste voto de pesar pela sua morte. Por mim, continuarei a recordar a sua vizinha de baixo, que o avisava dos golos do Benfica com o toque da vassoura e ele, escondido debaixo da cama, levantava a sua mão e, de punho fechado e com a sua luva preta, sorria uma sua íntima alegria. A mesma que nos proporcionava sempre que nos aparecia nos diferentes palcos da vida.
É essa alegria imensa que me obriga a dizer, aqui: «Até já Artur. Bem hajas!»

Aplausos do PSD.

O Sr. Presidente: - Tem a palavra, para uma intervenção, o Sr. Deputado Manuel dos Santos.

O Sr. Manuel dos Santos (PS): - Sr. Presidente, vou começar exactamente pela parte final da intervenção do Sr. Deputado Fernando Seara.
Não sendo um íntimo do Artur Semedo - e já explico em que circunstâncias o conheci -, também partilhei a deliciosa história, que foi agora contada, a propósito dos golos do Benfica. E estávamos numa fase em que os golos eram fartura ali para o Estádio da Luz. Mas a paixão dele e o receio de que não se viessem a concretizar esses golos eram tão grandes que se escondia, efectivamente, debaixo da cama e só era avisado pelos toques da vassoura da sua vizinha de baixo e, então, saltava esfuziante e contente com esses golos.
Quanto tempo passaria ele, agora, debaixo da cama, se não tivesse morrido, dado que, infelizmente, como sabemos - e os benfiquistas, como eu, o lamentam profundamente -, os golos são cada vez mais raros ali para os lados da segunda circular?!
Como disse, não fui um íntimo do Artur Semedo, apesar de ser benfiquista apaixonado e «doente». Aliás, é a única coisa em que sou «doente» e não sou imparcial. Mesmo na política, mesmo no socialismo, que tanto amo, sou, ou procuro ser, imparcial. Mas no benfiquismo…

Vozes do CDS-PP: - Vê-se!

O Orador:- … não consigo ser. Sou, realmente, muito parcial.
No entanto, não foi nessa condição que conheci o Artur Semedo. Conheci-o, porque ele escrevia crónicas num jornal muito importante da nossa vida quotidiana. Era eu, aliás, vice-presidente de V. Ex.ª, Sr. Presidente da Assembleia da República, quando desempenhou o cargo de Presidente do Grupo Parlamentar do Partido Socialista, e fiquei impressionado com uma crónica em que ele fazia um elogio, que me tocou profundamente, a uma figura que, juntamente com V. Ex.ª, marcou a minha vida política, a minha vida cultural e a minha vida intelectual: Francisco Salgado Zenha. Ele referia-se a Francisco Salgado Zenha com tanta ternura, tanto amor e tanta admiração que senti um impulso de o convidar para almoçar comigo, no restaurante da Assembleia da República.
Foi, aliás, o único contacto que tive com Artur Semedo. Tivemos uma conversa muito interessante, em que, curioso, lhe perguntei a razão de ser da luva preta, que, aliás, não é tão esquisita quanto isso. Resultou, apenas, de um acidente que ele teve e de uma necessidade médica em ter permanentemente aquela mão aquecida, porque um determinado tendão foi cortado e, se não fosse protegida, poderia, rapidamente, ter uma grande decrepitude.
Mas foi nesse almoço que tive oportunidade de conhecer o homem, o intelectual, o artista e ficar a admirá-lo profundamente. Claro que também falámos do Benfica, mas isso não foi, nesse momento, o mais importante. O mais importante foi verificar que o Artur Semedo tinha princípios e valores, que convergiam, em certo ponto, com os meus, e, a partir daí, passámos a ser amigos e, julgo eu, admiradores mútuos. Pelo menos, passei a admirá-lo profundamente.
O Artur Semedo não precisa de uma sentida homenagem, porque a concepção que ele tinha da vida e daquilo que fica, se é que fica, para além da vida era suficientemente alegre e prazenteira. Provavelmente, se nos está a ouvir, está a divertir-se profundamente com esta nossa cerimónia. Aliás, o exemplo mais acabado da forma com que ele encarava a vida e a morte esteve na exigência que fez - e que terá sido cumprida - de que o seu caixão desse uma volta ao Estádio da Luz e de que todas as pessoas que o acompanhassem para a última morada fossem vestidas de encarnado ou, pelo menos, com um símbolo que, de algum modo, lembrasse o seu bem-amado Benfica.
Portanto, tal qual como o Fernando Seara disse: «Até um dia destes Artur. Temos-te no coração.»

O Sr. Presidente: - Para uma intervenção, tem a palavra a Sr.ª Deputada Heloísa Apolónia.

A Sr.ª Heloísa Apolónia (Os Verdes): - Sr. Presidente, quero, em nome do Grupo Parlamentar «Os Verdes», associar-me à homenagem que a Assembleia da República presta, neste momento, a Artur Semedo.
No teatro, na televisão deu mostras contínuas do seu talento inegável na arte de representar e no cinema, também como realizador, mas creio que, fundamentalmente, como actor.
Benfiquista ferrenho, Artur Semedo era daqueles que entendia que uma pessoa pode mudar de tudo, de partido, de religião, mas de clube nunca. Do «homem da luva preta», que, de um acidente, transformou o resultado numa característica única, sabendo alimentar dúvidas e curiosidades sobre aquela mão direita, do actor, do realizador, do crítico, do humorista, ficam as nossas profundas saudades e dirigimos, naturalmente, as nossas mais sentidas condolências a todos aqueles que lhe eram próximos.

O Sr. Presidente: - Tem a palavra, para uma intervenção, o Sr. Deputado Telmo Correia.

O Sr. Telmo Correia (CDS-PP): - Sr. Presidente, quero também, em nome do CDS-PP, juntar-me às palavras de todos os oradores que me antecederam.
Quero ainda registar, com excepção da Sr.ª Deputada Heloísa Apolónia, cuja filiação clubista não conheço, que partilho, quer com o Prof. Fernando Seara quer com o Dr. Manuel dos Santos, a mesma paixão clubista, que era a mesma da do Artur Semedo.
Só não lhe conhecia, Sr. Deputado Manuel dos Santos, a imparcialidade, como uma das principais características pessoais. Devo dizer-lhe que, se calhar, o que nos separa é que o Sr. Deputado Manuel dos Santos será «doente» e eu sou só faccioso. Não chego a ser «doente» em relação ao meu clube.