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1986 | I Série - Número 49 | 15 de Fevereiro de 2001

 

O Artur Semedo, de facto, é uma personagem a que nos podemos referir - ele, certamente, gostaria - com algum sentido de humor, porque foi algo que marcou profundamente toda a sua vida.
Portanto, não querendo abusar, num voto de pesar, desse mesmo sentido de humor, diria, no entanto, que se o Artur pudesse ouvir este nosso voto de pesar talvez registasse, com curiosidade, que a unanimidade da Câmara foi tanta que até Os Verdes se associaram a um voto tão encarnado.

Risos do CDS-PP e da Deputada de Os Verdes Heloísa Apolónia.

Até Os Verdes, neste caso, se juntaram a um voto sobre uma personalidade tão encarnada - digo encarnada e não vermelha! -, como era o Artur Semedo.

Vozes do CDS-PP: - Muito bem!

O Orador: - A homenagem que fica ao Artur Semedo é, como aqui foi dito, a uma personalidade frontal, irreverente e que tinha duas grandes qualidades, que são aquelas que queremos homenagear agora. Tinha sentido de humor, algo que entendemos fundamental - pena que nunca tenha sido Deputado -, que era uma qualidade extraordinária e fantástica, e tinha uma enorme paixão por tudo aquilo que fazia. Ouvi, ainda agora, aquele que considero ser um dos grandes humoristas portugueses, o Herman José, assumir a sua quase filiação em relação ao Artur Semedo, o que é simbólico também, e ouvimos aqui, hoje, um benfiquista como o Fernando Seara assumir a sua ligação a essa personagem. De facto, essa paixão e esse sentido de humor, expressos por um alfacinha de gema, merecem que expressemos também as nossas condolências e a nossa associação a este mesmo voto de pesar.

Vozes do CDS-PP: - Muito bem!

O Sr. Presidente: - Tem a palavra, para uma intervenção, o Sr. Deputado Luís Fazenda.

O Sr. Luís Fazenda (BE): - Sr. Presidente, Sr.as e Srs. Deputados: Em nome do Bloco de Esquerda, associo-me também a este voto de pesar. Nesta ocasião, relembramos, da imagem e da figura de Artur Semedo, o seu riso de heresia, o seu estar contra a corrente, o seu estar, aparentemente, absurdo. Pessoas assim fazem muita falta nas sociedades. Por vezes, têm o humor antes do tempo; por vezes, também acertam nas ideias antes do tempo. Mas sem isso, certamente, as sociedades seriam bem mais pobres e bem menos verdadeiras.
Exprimimos as condolências. Reconhecemos o respeito.

O Sr. Presidente: - Para uma intervenção, tem a palavra o Sr. Deputado Octávio Teixeira.

O Sr. Octávio Teixeira (PCP): - Sr. Presidente, Srs. Deputados: Quase que me sentiria obrigado a dizer - e certamente que o Artur Semedo não levará a mal que, nesta altura, depois daquilo que aqui ouvimos, se possa fazer esta afirmação - que, apesar de o Artur Semedo ser benfiquista, sempre o apreciei em toda a sua vida. Não apenas na vida enquanto actor mas, fundamentalmente, na forma como ele sempre se comportou perante a sociedade e na sociedade.
Assim, Sr. Presidente, em nome do meu grupo parlamentar, associamo-nos claramente a este voto, que, aliás, subscrevemos.
Gostaria de recordar apenas aquilo que talvez tenha sido os traços característicos fundamentais da personalidade de Artur Semedo: a sua irreverência, o seu humor, muitas vezes corrosivo, e a forma provocatória e cáustica com que encarava a sociedade e sobre ela se pronunciava. Aliás, tivemos oportunidade de ver uma destas facetas ou, se quiser, estas facetas todas em conjunto num programa televisivo em que ele desempenhava o papel do Presidente da Assembleia.

O Sr. Presidente: - Tem a palavra, para uma intervenção, o Sr. Secretário de Estado dos Assuntos Parlamentares.

O Sr. Secretário de Estado dos Assuntos Parlamentares: - Sr. Presidente, Srs. Deputados: Julgo que esta homenagem que a Câmara hoje presta a Artur Semedo é inteiramente justa.
Quem o conheceu guarda, certamente, momentos de memória tão ricos como aqueles de que foram testemunha alguns dos Srs. Deputados que tiveram ocasião de intervir neste debate e quem teve o privilégio de o ter por amigo pode fazê-lo com redobrada legitimidade, mas sem dúvida com o mesmo sentido de maravilhamento pela imprevisível capacidade de surpreender, de fustigar e de, com corrosiva ironia, ferir interesses instalados e despertar as pessoas para questões importantes.
Destaca-se, quando pensamos em Artur Semedo, essa ironia, não surpreendentemente invocada, o humor certeiríssimo e essa maneira cáustica de fustigar os espíritos fechados, não por não serem encarnados, mas por não saberem viver. Ele soube viver e merece a homenagem de todos nós.
Assim, gostaria de, em nome do Governo, me associar não apenas ao pesar genuinamente mas às condolências endereçadas a todos aqueles que o estimaram.

O Sr. Presidente: - Srs. Deputados, não conheci muito de perto o Artur Semedo, mas ele não deixava que o desconhecêssemos, porque aparecia com frequência na comunicação social, no teatro, na televisão. Era uma presença constante nas nossas vidas. Por menos que quiséssemos não dar por ele era impossível não o conhecer.
Guardo dele a ideia de um iconoclasta, de um irreverente e eu continuo a não ser insensível, quer à irreverência quer à iconoclastia.
Acho que ele viveu bem a vida, hedonisticamente, com uma filosofia assumida de quem tira da vida o desfruto possível.
De facto, o único defeito que lhe reconheço é o de a paixão dele, que justamente aqui exaltámos - e tenhamos consciência de que exaltámos uma paixão! -, não ser pela Académica. Mas que hei-de fazer? Ninguém é perfeito…! Nem o Artur Semedo conseguiu sê-lo!
Tenho muita pena por termos perdido o seu convívio, a sua ironia, a sua boa disposição. Mas a vida é assim. Quem vive tem de morrer. Ele morreu um pouco mais cedo do que nós esperávamos.