43 | I Série - Número: 061 | 17 de Março de 2007
jovens.
Foi anunciado, inclusivamente, que a partir de agora, como o incentivo ao arrendamento por jovens não cumpre o seu papel fundamental, que é — pasme-se! — o de dinamizar o segmento comercial do arrendamento (portanto, segundo o Governo, não é um instrumento de apoio aos jovens, mas um instrumento para dinamizar o segmento comercial do arrendamento), vai ser extinto e vão incluir os jovens nos regimes de habitação social e do tão afamado programa Porta 65.
Deixo aqui, obviamente, esta preocupação, porque são milhares os jovens que têm neste incentivo a única oportunidade para arrendar uma habitação e para dar esse passo de saída da casa dos pais e que, agora, com estas notícias, ficam confrontados com esta situação.
O Sr. Presidente (António Filipe): — Tem de concluir, Sr. Deputado.
O Orador: — Sr. Secretário de Estado, deixo-lhe, muito brevemente, duas perguntas.
Como é que justifica que os rendimentos dos pais sejam, agora, um factor de ponderação? Ou seja, o adulto é obrigado a pagar a sua habitação e a do seu filho?! Qual o estudo em que se baseia o Governo para o fim deste incentivo?
Vozes do PCP: — Muito bem!
O Sr. Presidente (António Filipe): — Tem a palavra, para responder, o Sr. Secretário de Estado do Ordenamento do Território e das Cidades.
O Sr. Secretário de Estado do Ordenamento do Território e das Cidades (João Ferrão): — Sr. Presidente, Sr. Deputado Miguel Tiago, uma primeira palavra para agradecer a pergunta colocada, porque vai permitir esclarecer aquilo que é preciso ser esclarecido.
Não se vai extinguir o incentivo ao arrendamento juvenil. Vai extinguir-se o instrumento que, neste momento, tem a designação incentivo ao arrendamento por jovens (IAJ). É isso que gostaria de explicar.
O Sr. João Oliveira (PCP): — É um eufemismo!
O Orador: — Não, não! O instrumento IAJ existe, como sabem, desde 1992. Quando entrámos para o Governo, em 2005, confrontámo-nos com esta situação: por um lado, o instrumento nunca tinha sido avaliado, ou seja, não tinha havido uma única avaliação externa independente sobre os resultados obtidos; e, por outro lado, verificámos a existência de um sistema de gestão e de fiscalização completamente desactualizado, pouco eficaz, incapaz de garantir o rigor que é necessário.
Por isso, o Instituto Nacional de Habitação abriu um concurso, convidou nove entidades, das quais responderam três, tendo o trabalho de avaliação externa sido adjudicado a uma delas.
O Sr. Bernardino Soares (PCP): — Devem ter gasto mais dinheiro nesse concurso do que o que havia para o IAJ!
O Orador: — Gostava de salientar, porque é importante, que a avaliação desenvolvida baseou-se na análise da informação existente do Instituto Nacional de Habitação: em cerca de 110 000 beneficiários abrangidos pelo programa durante 14 anos; nos dados referentes a 30 000 senhorios, isto é, aqueles que foram envolvidos entre Junho de 2001 e Junho de 2006; e ainda houve um inquérito directo aos senhorios e aos beneficiários, dos quais tivemos, como respostas validadas, 79 em relação aos senhorios e 443 em relação aos beneficiários. Trata-se dos resultados de uma avaliação externa, independente e rigorosa.
O que é que o estudo nos diz? Diz várias coisas, duas delas extremamente preocupantes, porque afectam o centro daquilo que é o instrumento que hoje existe, chamado IAJ.
O IAJ foi criado, primeiro, para ser um estímulo à autonomização dos jovens e também, em segundo lugar, para ser um estímulo à dinamização do mercado do arrendamento, nomeadamente na sua componente de vocação social.
O que é que os resultados da avaliação nos dizem, do ponto de vista do estimulo à autonomização dos jovens? Na verdade, aquilo que aconteceu foi que o montante disponibilizado traduziu-se mais num apoio social do que num factor efectivo de autonomização dos jovens. Gostaria de dar dois exemplos, que me parecem importantes e que, depois, na segunda resposta, explicarei mais em pormenor. 65% dos beneficiários com a renda que pagavam tinham uma taxa de esforço superior a 50%, isto é, aquilo que pagavam de renda correspondia a mais de 50% do seu rendimento;…
O Sr. Miguel Tiago (PCP): — Estavam em situação ilegal!