26 | I Série - Número: 007 | 4 de Outubro de 2007
O Sr. Presidente: — Para uma declaração política, tem a palavra o Sr. Deputado Henrique Rocha de Freitas.
O Sr. Henrique Rocha de Freitas (PSD): — Sr. Presidente, Sr.as e Srs. Deputados: O que terão em comum Rui Pereira, Manuel Pinho e Silva Pereira? O facto de serem Ministros deste Governo? Essa é a resposta óbvia e politicamente correcta.
Mas esta semana, num compreensível esforço de solidariedade governativa, foi possível identificar um outro traço em comum, um mesmíssimo tique socialista: e eis que vemos os três, e ao mesmo tempo, a praticar a arte da «escapadela».
Um, o mais erudito porventura, escapou à manifestação dos polícias. Refugiou-se no Museu Nacional dos Coches…
Risos do Deputado do PCP António Filipe.
… e, segundo o próprio, «para assistir a um pequeno momento musical». Trocou, assim, as palavras de ordem dos milhares de agentes, não sei se para ouvir Bizet, Massenet ou Gounod, viajando pelo mundo da ópera e da opereta, porque isso o Ministro já não soube explicar, nem sei se sabe.
Soube-se, sim, que seguia depois para um jantar nos Jerónimos e que o comentário mais artístico que se lhe conseguiu arrancar sobre a manifestação foi a frase, já menos afinada, «Muito obrigado e boa tarde!».
Para rentrée musical o Governo não podia ter tido pior começo de temporada.
Outro, o mais «algaraviado» dos Ministros, escapou aos jornalistas economizando nas palavras, como aliás sempre faz. E sobre o crescimento da taxa de desemprego em Portugal ouvimos, com grande sapiência (sublinho, com grande sapiência), a seguinte frase: «Vão-me deixar entrar no carro?». E o Ministro lá entrou no carro. E entrou como saiu: em silêncio.
Mas pode um Ministro da Economia ficar em silêncio e não comentar o flagelo social do desemprego?
O Sr. Luís Marques Guedes (PSD): — Muito bem!
O Sr. Henrique Rocha de Freitas (PSD): — Mas pode um Ministro da Economia ficar insensível a uma taxa de desemprego de 8,3%? Mas pode um Ministro da Economia ignorar a triste realidade de termos a quinta mais alta taxa de desemprego da União Europeia? E pode um Ministro de Portugal (sublinho, pode um Ministro de Portugal) não reagir quando, pela primeira vez em quase três décadas, temos uma taxa de desemprego superior à da nossa vizinha Espanha? Pelos vistos, um Ministro socialista pode. Tal como Dom Quixote, em La Mancha, também no socialismo lusitano há quem queira viver numa ficção: a uns os seus «moinhos de vento», a outros os seus 150 000 novos postos de trabalho.
Resta-nos, deste trio governamental, Silva Pereira, que ontem, e pouco desportivamente, tudo fez também por escapar às questões dos jornalistas. Este, aliás, deve ser mesmo o único Governo que, num acto eminentemente desportivo – a tomada de posse dos membros do Conselho Nacional do Desporto –, evita que os seus ministros consigam ter fair play. E lá saiu o Ministro cabisbaixo, fintando as colunas de som para que nada se ouvisse, para que nada dissesse.
Aqui têm o mesmo tique, a mesma arte – a escapadela –, pedra de toque deste mesmo Governo, que a tudo quer escapar.
Mas como pode este Governo escapar à responsabilidade dos maus resultados alcançados na acção governativa?
O Sr. Luís Marques Guedes (PSD): — Muito bem!
O Sr. Henrique Rocha de Freitas (PSD): — Como pode este Governo olhar para o passado e só ver o PSD? Nós não temos má consciência do nosso passado, é o PS que não quer reconhecer a sua própria «sombra». Envergonha-se dela? Quem governou o País em 1995, 1996, 1997, 1998, 1999, 2000, 2001, 2002, 2005, 2006 e 2007? Foi o PS. Que marca deixaram os governos socialistas? Que desígnio lançaram? Que resultados produziram? O do crescimento económico? Não. O da competitividade? Também não. O da reforma da Administração Pública? Muito menos. Mas o centralismo sim; o estatismo sim; o desemprego sim.
O «pântano», afinal de contas.
O Sr. Luís Marques Guedes (PSD): — Muito bem!
O Sr. Henrique Rocha de Freitas (PSD): — E tudo isto, se bem se lembram, numa envolvência nacional e internacional muito positivas.