1 DE JUNHO DE 2012
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exatamente sobre a privatização do setor da água, o Governo acabou por anunciar a sua intenção de proceder
à privatização do Grupo Águas de Portugal.
Ora, para além do que de mau representa o conjunto de privatizações que o Governo pretende levar por
diante, importa ainda assim referir que o setor da água se destaca dos demais setores pela vitalidade do bem
que está em causa, pela importância que este recurso representa para todos nós.
Estamos a falar de um bem que é essencial à vida e que não pode ser gerido em função de critérios de
lucro e de distribuição de dividendos por acionistas mas, sim, numa lógica que atenda às necessidades das
populações, dado que se trata, ainda por cima, de um bem escasso.
Casos mundialmente conhecidos de privatização do setor da água demonstram que a gestão privada da
água tem gerado privações muito graves e condicionalismos muito preocupantes para as populações. Existem
estudos que fazem um relato verdadeiramente avassalador sobre o impacto da privatização massiva de bens
públicos como a energia ou a água.
Aliás, as preocupações em torno da questão ligada a este bem fundamental à vida atingem setores e
quadrantes muito diversos. Veja-se o caso da carta aberta dirigida aos Estados que negoceiam o documento
final da Cimeira Rio+20, por parte da relatora especial das Nações Unidas, sobre o direito humano à água e ao
saneamento. Esta carta aberta surge exatamente na sequência de várias tentativas protagonizadas por países
e empresas para retirarem de um documento que vai estar em discussão nessa importante Cimeira qualquer
referência explícita ao direito à água e ao saneamento consagrado pelas Nações Unidas.
Para Os Verdes, a luta pelo reconhecimento e implementação do direito à água e saneamento para todos
faz parte do combate pela defesa de sociedades sustentáveis e mais justas, sociedades nas quais os recursos
naturais têm que ser protegidos e geridos em função do bem comum. É isto que nos move e nos leva a exigir
do Governo que abandone a intenção de privatizar a água.
A nosso ver, a concretização deste propósito representará uma grave ameaça ao acesso universal à água
e ao saneamento, ao controlo democrático e à preservação de um bem público comum vital não só para o
presente mas também para o futuro.
Todos sabemos que a eventual privatização da água, para além de outros aspetos gravíssimos do ponto de
vista ambiental, vai trazer aumentos brutais na fatura da água bem como a eliminação de alternativas, como
sejam fontanários ou captações próprias. É por isso que as intenções do Governo ganham, nesta altura,
contornos ainda mais preocupantes, tendo em conta a situação das famílias portuguesas, cujo rendimento
disponível emagreceu substancialmente na sequência das medidas de austeridade impostas por este
Governo.
Ninguém duvida que a fatura da água subirá de forma insuportável com a privatização, com a preparação
do negócio para a subordinação ao objetivo do lucro. Ou seja, é um caminho que vem agravar a pobreza e
promover a desigualdade social. Uma percentagem cada vez maior da população deixará certamente de poder
pagar a fatura da água e, assim sendo, ser-lhe-á cortado o respetivo fornecimento. É este o jogo e são estas
as regras do setor privado.
Por isso, nunca será demais afirmar que a água é um bem comum, parte integrante e fundamental do
constante movimento e evolução da natureza, determinante da composição atmosférica, do clima, da
morfologia, das transformações químicas e biológicas, das condições de toda a vida na terra.
A água não pode ser produzida, é móvel e reutilizável. As interferências no seu percurso, as formas de
utilização e a poluição podem prejudicar, limitar ou mesmo inviabilizar a sua reutilização.
As funções ecológicas, sociais e económicas da água são essenciais, por isso têm de ser protegidas e
asseguradas pelo Estado, garantindo a sua fruição comum e equitativa não só à presente população mas
também às gerações futuras.
O direito à água, reconhecido pelas Nações Unidas como um direito fundamental, faz parte do direito à
vida. Todas as pessoas têm direito ao abastecimento de água e ao saneamento no seu local de residência, de
trabalho e de permanência habitual, com a proximidade, quantidade e qualidade adequadas à sua segurança
sanitária e ao seu conforto.
É por isso que Os Verdes entendem que a água e os respetivos serviços são património comum, não
podendo ser alienados, assim como não pode ser lícita a privatização da água, nem qualquer atribuição de
privilégios ou concessões de direitos exclusivos sobre as águas ou sobre os serviços de água.