I SÉRIE — NÚMERO 12
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O Sr. João Pinho de Almeida (CDS-PP): — Sabe lá o que está a dizer!
A Sr.ª Ana Drago (BE): — Por fim, termino dizendo ao Sr. Deputado que é absolutamente determinante
para o futuro do País iniciar um processo de renegociação da dívida que permita recuperar a economia
nacional, a produção nacional e criar emprego e riqueza.
Não temos outro futuro se não fizermos o caminho da renegociação da dívida.
Aplausos do BE.
O Sr. Presidente (António Filipe): — Tem a palavra o Sr. Deputado João Galamba.
O Sr. João Galamba (PS): — Sr. Presidente, Sr.ª Deputada Ana Drago, este Orçamento é, de facto, a
marca da incompetência e do radicalismo ideológico desta maioria que nos governa.
Trata-se de um Governo que apostou em ir radicalmente para além da troica e temos, hoje, no País, os
resultados dessa escolha, uma escolha trágica que destruiu a economia, fez disparar o desemprego e falhou
nos seus próprios termos, porque já é hoje evidente que é impossível atingir quaisquer metas orçamentais
este ano ou no próximo.
Perante este falhanço, este Governo decidiu fechar os olhos e atirar-se para a frente.
O problema deste Orçamento não é a sua injustiça, não são os sacrifícios que ele acarreta, é o seu
absoluto absurdo, a impossibilidade da sua execução.
O País, neste momento, chegou a um consenso em que se diz que não se pode aumentar impostos e a
Sr.ª Deputada Ana Drago disse — e bem — que esse é um consenso incompleto, porque para o consenso ser
verdadeiro é preciso que, de uma vez por todas, a despesa do Estado não seja o logro que esta maioria andou
a dizer durante dois anos. Não são gorduras, não são desperdícios, não são mordomias, não são telefonemas,
flores, carros e motoristas…
Protestos do PSD e do CDS-PP.
São rendimentos sobretudo dos pobres deste País.
O Estado tem como função principal redistribuir riqueza e a despesa pública são bens e serviços das
pessoas. Cortar na despesa, Srs. Deputados do PSD e do CDS, é subir os impostos aos pobres, e se não
podemos subir mais impostos para todos os portugueses, não podemos, certamente, cortar mais a despesa.
Perante isto, estamos confrontados com uma impossibilidade, que só tem uma saída, e o Bloco de
Esquerda tem uma oportunidade e um dever perante os portugueses: foi de uma enorme irresponsabilidade o
Bloco de Esquerda não ter feito uma coisa aquando da assinatura do primeiro Memorando, que foi, junto da
troica, defender os interesses do País o melhor que podia, de acordo com a vossa perspetiva.
Vozes do PS: — Muito bem!
O Sr. João Galamba (PS): — Não o fizeram e essa foi uma enorme irresponsabilidade do vosso partido.
Mas essa irresponsabilidade pode hoje ser corrigida ao dizerem aos portugueses que dizer «não» a este
Orçamento, rejeitar este Orçamento, denunciar este Orçamento no absurdo que ele encerra e na destruição
que ele acarreta, se for implementado, só pode ter uma consequência: não é rasgar o Memorando, não é
«despachar» a troica do País, é fazer aquela que é a única opção se Portugal se quiser ficar dentro da zona
europa e na Europa, ou seja, é defender, competentemente, uma solução negociada com os nossos parceiros
junto da troica, sim, porque a troica foi a solução que os nossos parceiros encontraram para a situação atual.
Não gosto da troica mas é o que existe, e um partido responsável que queira mais do que dizer «não» e
queira verdadeiramente apresentar-se aos portugueses com uma solução credível para os problemas do
nosso país tem o dever, tem a obrigação de propor apenas e só uma coisa: a renegociação. Uma
renegociação firme, uma renegociação competente, exatamente o contrário do que este Governo tem feito e
que já mostrou não ser capaz de fazer.