18 DE OUTUBRO DE 2012
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As vítimas são mantidas em situação de total dependência económica e em medo constante. O agressor
torna-se omnipotente, destruindo assim o sentido de autonomia da vítima.
A natureza clandestina do crime, a invisibilidade das vítimas e a falta de investimento dificulta a
apresentação de estatísticas sólidas sobre o tráfico de seres humanos, sendo contudo possível apresentar
estatísticas relevantes.
A exploração sexual é de longe a finalidade mais comum do tráfico de seres humanos, representando 79%,
seguindo-se o trabalho forçado em 18%, sendo que as mulheres constituem dois terços das vítimas reportadas
de tráfico humano, constituindo estas 98% das vítimas de tráfico para exploração sexual e 55% para trabalho
forçado.
Portugal é país de destino, trânsito e fonte de adultos e crianças sujeitos a exploração sexual e trabalhos
forçados. O perfil das vítimas: mulheres, com uma idade média de 29 anos, estrangeiras, vítimas de tráfico
para exploração sexual, de acordo com o relatório anual sobre o tráfico de seres humanos de 2009.
Vivemos tempos de grave crise económica e social no qual as mulheres e crianças são as primeiras a
sentir na pele as consequências mais devastadoras da degradação do nível de vida. Tempos de regresso de
velhas formas de exploração, de desrespeito e de desprezo pelas pessoas, de aumento da vulnerabilidade dos
mais pobres e carenciados, da cruel ideia de que tudo se compra e tudo se vende, mesmo o amor, mesmo a
vida, mesmo a dignidade humana.
É neste quadro que surgem pressões visando a regulamentação ou legalização, por exemplo, da
prostituição, promovendo-a a um negócio legítimo ou a uma profissão aceitável para as mulheres.
Sr.as
e Srs. Deputados: Porque este é ainda um fenómeno oculto na nossa sociedade, que se alimenta do
silêncio e da mais profunda clandestinidade, porque é necessário desconstruir estereótipos associados
particularmente à natureza do crime e às suas vítimas, porque é fundamental aprofundar o conhecimento, o
debate e o combate ao tráfico de seres humanos também na sua relação com o estudo sobre as causas e as
consequências da prostituição, e porque urge atuar a todos os níveis, combatendo essa forma de violência
sobre as mulheres, é preciso, então, como nos disse hoje o MDM, romper silêncios, e nós temos, aqui, na
Assembleia da República, também a obrigação de procurar soluções para este gravíssimo problema.
Por isso, Os Verdes comprometem-se a trazer iniciativas legislativas ao Parlamento sobre a matéria.
Aplausos do PCP, do BE e de Deputados do PSD.
O Sr. Presidente (António Filipe): — Para pedir esclarecimentos, inscreveram-se as Sr.as
Deputadas
Francisca Almeida e Rita Rato.
Tem a palavra a Sr.ª Deputada Francisca Almeida.
A Sr.ª Francisca Almeida (PSD). — Sr. Presidente, Sr.ª Deputada Heloísa Apolónia, em primeiro lugar,
gostava de a saudar pelo tema que trouxe hoje ao Plenário da Assembleia da República, que é, de facto,
extraordinariamente importante.
O tráfico de seres humanos é uma realidade que põe em causa a dignidade e os mais básicos direitos
humanos e direitos fundamentais.
Estima-se — e é preciso que isto seja dito, até para, como disse e bem, se romperem silêncios — que a
dimensão do tráfico de seres humanos seja, neste momento, já comparável ao tráfico de armas e ao tráfico de
droga.
É uma realidade que, como disse e bem, coabita com a clandestinidade e, por isso, os dados que temos
são, muitas vezes, sub-representativos da realidade de facto, da realidade dos nossos dias e da realidade no
nosso País.
Mas, deixe-me dizer-lhe, Sr.ª Deputada, que o Governo está, como sempre tem estado, muito empenhado
em combater esta realidade e em conhecer os contornos reais desta realidade. De resto, em todos os
documentos estratégicos deste Governo, desde o Programa do Governo até aos relatórios do Orçamento do
Estado, esta questão vem referida e com medidas concretas, designadamente com o cumprimento, que
decorre neste momento a bom ritmo, do segundo Plano Nacional Contra o Tráfico de Seres Humanos.
Também gostaria de lhe dar nota de que, na sequência de um conjunto de casos sinalizados, nos últimos
dois anos, de exploração laboral, o Governo promoveu junto do ACT um conjunto de formações para os