18 DE OUTUBRO DE 2012
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É isso que qualquer partido responsável de esquerda, seja o Partido Socialista seja o Bloco de Esquerda —
infelizmente, o PCP, não, pois já se percebeu que continua a insistir em fantasias que só existem na sua
própria cabeça —, tem o dever de apresentar aos portugueses.
Aplausos do PS.
O Sr. Honório Novo (PCP). — Vai fazer como o Hollande! Diz não ao Tratado Orçamental e depois vota a
proposta!
O Sr. Presidente (António Filipe): — Tem a palavra a Sr.ª Deputada Ana Drago.
A Sr.ª Ana Drago (BE): — Sr. Presidente, não há Deputados do CDS que se tenham inscrito para formular
uma pergunta ao Bloco de Esquerda? Nem o Deputado João Almeida, nem o Deputado Adolfo Mesquita
Nunes…
O Sr. Telmo Correia (CDS-PP): — A si?! Para quê? Não vale isso!
A Sr.ª Ana Drago (BE): — Nesse caso, perante o silêncio da direita, deixe-me dizer, Sr. Deputado, que a
aplicação do atual Orçamento do Estado e todos os seus resultados, a que se seguiu a apresentação da
proposta orçamental para 2013, mostra algo preocupante. Mostra ou que o Governo tem uma absoluta
incapacidade de compreender o que está a acontecer ou que temos um governo absolutamente cego, de
acordo com o seu entendimento ideológico do que deve ser a condução da política económica e orçamental
do País, ou temos governantes que estão numa posição de servilismo em relação à Europa, nomeadamente à
Sr.ª Merkel e que, portanto, não estão dispostos — jamais! — a levantarem-se e lutarem pelo povo português.
Aliás, é certo que todas as críticas que têm sido feitas à proposta orçamental vêm da esquerda, mas
também das próprias fileiras das bancadas do Governo: a Dr.ª Manuela Ferreira Leite, que foi líder do PSD e
Ministra das Finanças de governos do PSD, veio dizer que este Orçamento não é aplicável, que as suas metas
não são alcançáveis, que estamos no domínio do delírio. É isto o que diz uma ex-Ministra das Finanças.
Um ex-Ministro do CDS-PP, que também foi Ministro das Finanças e Ministro do Trabalho, Bagão Feliz,
também veio dizer que isto é «napalm fiscal»,…
O Sr. João Pinho de Almeida (CDS-PP): — Mais ou menos como o orçamento que ele fez!
A Sr.ª Ana Drago (BE): — Isto é inaplicável, isto é uma total loucura e é nesta situação que estamos.
Temos membros do Governo sozinhos, sem estratégia, sem uma única ideia para o País.
Diz-nos o Sr. Deputado que é preciso que, na esquerda, nos possamos levantar e desenhar uma estratégia
de salvação do País. Nada menos do que isto.
Vejo que o Sr. Deputado tem alguma preocupação em discutir o passado. Porém, penso que o Partido
Socialista não está certamente na melhor posição para fazer uma discussão alongada e profunda sobre as
questões do passado. Mas deixe-me dizer que fomos à primeira reunião com a troica, fomos às reuniões
seguintes. Temo-nos batido pelos interesses dos portugueses e por aquilo que entendemos que deve ser a
política seguida e temos encontrado do lado da troica, Sr. Deputado, a mesma cegueira ideológica e a mesma
ideia de que é necessário punir o País por ter feito um esforço de investimento na qualificação dos
portugueses, na requalificação das infraestruturas e uma aposta nas políticas sociais.
Portanto, nesse combate moral com a troica, desculpe, Sr. Deputado, não vamos estar do lado da troica.
Vozes do BE: — Exatamente!
A Sr.ª Ana Drago (BE): — Entendamo-nos bem: o que a esquerda tem de fazer é negociar os termos da
dívida, não é olhar para o Memorando e entender que ele pode ser um bocadinho diferente se lhe
desenharmos uma flor ou um coração numa das páginas… Não! Ele não serve!