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I SÉRIE — NÚMERO 36

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Deste modo, o Governo, despudoradamente, coloca os dinheiros públicos — o dinheiro de todos nós — ao

serviço dos grandes interesses privados.

Esta operação de injeção de dinheiros públicos no Banif segue-se a outras semelhantes realizadas em

2012 com o BCP e o BPI, tendo o Governo usado, para o efeito, 5600 milhões de euros dos 12 000 milhões

reservados no pacto de agressão para a banca privada. A isto poderíamos somar os milhares de milhões de

euros enterrados no BPN e no BPP, os 35 000 milhões de euros de garantias estatais à banca, bem como os

8000 milhões de euros de juros agiotas pagos anualmente por uma dívida pública externa que não para de

crescer.

A política de direita garante que não falta dinheiro para a satisfazer o apetite dos banqueiros e demais

parasitas do sistema do capitalista em que vivemos. Mas este apetite é insaciável. Querem mais! Querem

também a «refundação» do Estado, que nada mais é do que uma profunda redução das funções sociais do

Estado, na educação, na saúde e na segurança social, liquidando aquilo que foi arduamente conquistado pelo

povo português com a Revolução de Abril.

O rio de dinheiro que corre abundantemente dos cofres do Estado para o setor financeiro é dinheiro

roubado aos portugueses por via da imposição de brutais medidas de austeridade, contidas no Orçamento do

Estado para 2013,…

O Sr. Bernardino Soares (PCP): — Exatamente!

O Sr. Paulo Sá (PCP): — … que o Governo preparou, a maioria PSD e CDS aprovou e o Presidente da

República promulgou.

São estes os responsáveis — sem esquecer o PS, que também subscreveu o pacto de agressão da troica

— pelas tremendas dificuldades que o povo português irá sentir durante o novo ano. São estes os

responsáveis pelo empobrecimento da esmagadora maioria dos portugueses, pelo afundamento da economia

nacional, pelo crescimento galopante do desemprego e pelas falências de inúmeras pequenas empresas. São

estes que, para bem servir os interesses dos grupos económicos e financeiros, querem roubar aos

portugueses a esperança de um futuro melhor.

Para tentar justificar o injustificável, o Governo e os partidos que o suportam, acolitados pelos habituais

comentadores de serviço, repetem até à exaustão que os portugueses viveram acima das suas possibilidades

e, por isso, são os únicos responsáveis pela situação difícil que o País atravessa. Esta vergonhosa tentativa

de transferir a culpa da crise para os trabalhadores e para o povo português não encontra qualquer

sustentação na realidade dos factos.

Lembramos que a crise financeira que deflagrou nos Estados Unidos da América em 2008, e rapidamente

se espalhou por todo o mundo, é o culminar de um processo de globalização financeira, que desmantelou

todas as estruturas e mecanismos de regulação e de controlo da atividade financeira e de movimento de

capitais, permitindo uma vaga, sem precedentes, de concentrações, fusões e aquisições de empresas

financeiras e a subalternização das empresas não financeiras ligadas à economia real.

A aceleração do processo de «financeirização» do sistema capitalista acabou por desembocar numa crise

financeira devastadora, que rapidamente degenerou em crise económica e social.

Para salvar os lucros do sistema financeiro e as suas atividades especulativas, os Estados montaram

operações de salvamento com o dinheiro dos contribuintes, que tiveram como consequência imediata o

agravamento dos défices orçamentais e das dívidas públicas.

Em Portugal, por exemplo, o défice saltou de 3,2%, em 2007, para 10,2%, em 2009, enquanto a dívida

pública cresceu, no mesmo período, de 68% para 83% do PIB. Mordendo a mão de quem os salvou, as

instituições financeiras especularam contra as dívidas soberanas, para imporem, logo a seguir, programas

draconianos destinados a confiscar os direitos e os rendimentos dos trabalhadores.

A fatura da crise não está a ser paga por quem a provocou e com ela lucrou, está a ser paga pelos

trabalhadores, com a redução dos salários e das pensões, com o roubo dos subsídios, com o aumento brutal

de impostos, com a redução das prestações e apoios sociais e os cortes na saúde e na educação.

Cada euro entregue pelo Governo à banca é um euro que sai dos bolsos dos trabalhadores e do povo

português.