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I SÉRIE — NÚMERO 36

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O Sr. Paulo Sá (PCP): — Sr.ª Presidente, Sr. Deputado Pedro Filipe Soares, permita-me que faça um

primeiro comentário para assinalar o facto de os partidos da política de direita — PS, PSD e CDS — terem

optado por não participar neste debate. Devem ter a consciência pesada com o que se tem estado a passar

com a banca e com os sacrifícios que exigem aos portugueses para poderem continuar a ajudar a banca desta

maneira.

O Sr. Honório Novo (PCP): — Bem pesada! Bem pesada!

A Sr.ª Rita Rato (PCP): — Exatamente!

O Sr. Paulo Sá (PCP): — O Sr. Deputado Pedro Filipe Soares manifestou a sua estupefação e nós

partilhamos dela.

Vou referir uns números interessantes relativamente aos lucros da banca privada em Portugal: apenas os

quatro principais bancos, desde 2004 a 2011, inclusive (portanto, durante 8 anos), tiveram lucros superiores a

10 000 milhões de euros, dos quais 4560 milhões foram distribuídos aos acionistas na forma de dividendos.

A pergunta natural que se coloca é esta: por que razão não são os acionistas privados destes bancos —

BCP, BPI e Banif (e outros se seguirão) — que, tendo recebido mais de 4500 milhões de euros de dividendos

nos últimos 8 anos, a recapitalizar os seus bancos?

A Sr.ª Rita Rato (PCP): — Exatamente!

O Sr. Paulo Sá (PCP): — Na realidade, em Portugal temos um banco público — a Caixa Geral de

Depósitos —, que também distribuiu dividendos pelo seu acionista, o Estado, no valor de cerca de 1300

milhões de euros nos últimos 8 anos. E, quando for necessário recapitalizar esse banco público, é o seu

acionista, acionista que recebeu os dividendos, que vai fazer a operação de recapitalização.

O Sr. Bernardino Soares (PCP): — Ora bem!

O Sr. Paulo Sá (PCP): — Por que é que isto não se aplica também à banca privada?

A Sr.ª Rita Rato (PCP): — Claro! Bela pergunta!

O Sr. Paulo Sá (PCP): — Por que é que, tendo a banca privada obtido lucros milionários nos últimos anos,

tendo os seus acionistas recebido mais de 4500 milhões de euros, não são eles a fazer a recapitalização? A

resposta é simples: não querem correr riscos.

Como já referi na minha intervenção, o Banif apresenta garantias que são ativos de elevado risco e,

portanto, a coisa pode correr mal, e se correr mal é o Estado, ou seja, somos nós, os contribuintes, que vamos

ter de pagar o buraco que se criar no Banif, da mesma forma que foram os contribuintes que tiveram de pagar

o buraco do BPN.

No BPN foram enterrados milhares de milhões de euros! Recordo os Srs. Deputados do PS, do PSD e do

CDS, que não quiseram fazer este debate, que, em 2010, o défice foi agravado em 1800 milhões de euros só

por conta do buraco do BPN.

Estamos perante a possibilidade de o mesmo acontecer no caso do Banif e os acionistas privados sabem

isto muito bem e, portanto, não querem pôr lá o seu dinheiro, preferem que seja o Estado, os contribuintes,

todos nós a pormos o nosso dinheiro. Se correr mal, somos nós a pagar; se correr bem, está tudo planeado

para que o Estado se retire do banco e o devolva aos seus acionistas privados.

É esta a realidade que temos perante a situação da chamada «ajuda aos bancos». Um verdadeiro

escândalo!

Para terminar, queria referir um aspeto muito importante: estes três bancos — BCP, BPN e BPI — que

receberam a ajuda do Estado, no montante de 5600 milhões de euros, têm estado a despedir trabalhadores e

a encerrar balcões, perante a passividade dos administradores nomeados pelo Estado. O Estado injeta nestes