4 DE JANEIRO DE 2012
29
Tem a palavra o Sr. Deputado Basílio Horta.
O Sr. Basílio Horta (PS): — Sr.ª Presidente, através de V. Ex.ª, desejo a todos os seus e à Câmara um
excelente 2013, se for possível essa excelência.
Sr. Deputado Pedro Filipe Soares, ouvi com atenção a sua intervenção e ainda bem que trouxe esse tema
a esta Assembleia, porque é um tema verdadeiramente importante.
O Partido Socialista encarou a recapitalização da banca não como um fim em si mesmo mas como um
instrumento que tinha três grandes objetivos: liquidez, capital e alavancagem. Pois bem, se em relação ao
capital e à liquidez determinados rácios podem dar-nos alguma tranquilidade, no que toca ao crédito à
economia estamos profundamente dececionados e extremamente intranquilos.
A verdade é que o instrumento e a justificação de se pedir aos portugueses um esforço de tal maneira
grande para capitalizar a banca era a de que a banca financiasse a economia, financiasse o investimento e
criasse emprego, ou seja, que a finalidade social da recapitalização pudesse ser atingida.
Nada disto está a acontecer.
Saiu no dia 4 de dezembro um estudo da Universidade Nova, chamado Banking and Financial Systems,
com a colaboração, entre outros, do Professor Pita Barros (que vem na sequência, aliás, de outros estudos),
que demonstra que o crédito à economia está a descer e que o único setor onde está ligeiramente a aumentar
é no exportador, mas, ainda aí, nas grandes empresas, pois as PME exportadoras não estão a ter crédito, por
isso o crédito malparado do setor exportador aumenta de 330 milhões para mais de 640 milhões de euros.
É esta a realidade que temos perante os nossos olhos. Ou seja, o grande objetivo da recapitalização, que
devia ser instrumental do crescimento económico e do emprego, não está a ser atingido. Logo, este é um
esforço inglório que está a ser pedido aos portugueses.
Daí o que é que vai resultar? Daí resultam falências em série, cada vez maiores! A tal «espiral recessiva»
de que falava o Sr. Presidente da República, recessão essa que gera o crédito malparado, que é hoje o
grande problema da banca…
Vozes do PS: — Muito bem!
O Sr. Basílio Horta (PS): — … e que, se continua a aumentar da maneira como está a aumentar, vai afetar
os rácios de capital e de liquidez, necessariamente. E nós temos um problema de uma seriedade enorme em
relação à própria estrutura do sistema financeiro português.
Portanto, o que está em causa é de uma gravidade enorme. Aliás, quando o Sr. Presidente da República
falou na «espiral recessiva», creio — é a minha opinião pessoal, que só me vincula a mim — que fez o maior
ataque que até hoje foi feito à política económica e financeira do Governo.
Creio mais ainda: se bem conheci dois ex-Primeiros-Ministros, com quem tive a honra de trabalhar, o Dr.
Mário Soares e o saudoso Dr. Francisco Sá Carneiro, não demoraria muito a terem o pedido de demissão em
cima da mesa se esta fosse a intervenção do Sr. Presidente da República.
Vozes do PS: — Muito bem!
O Sr. Basílio Horta (PS): — É de uma gravidade enorme o que é dito, embora certo! Porque o caminho
que está a ser seguido, neste momento, é um caminho da ruína e da destruição da economia, do tecido
produtivo português e do emprego em Portugal.
É, realmente, verdade que é uma insustentável situação social a que este caminho está a trilhar.
Aplausos do PS.
A Sr.ª Presidente: — Queira fazer o favor de terminar, Sr. Deputado.
O Sr. Basílio Horta (PS): — Termino já, Sr.ª Presidente.