I SÉRIE — NÚMERO 50
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O Sr. Duarte Pacheco (PSD): — É que, hoje, todos sentimos o sacrifício resultante de ter de pagar
despesas do passado, e, porque devemos sempre tirar lições da História, saúdo o Governo por ter
apresentado a presente proposta de lei, que introduz no quadro jurídico nacional a «regra de ouro» do saldo
orçamental e as regras de limitação e de redução da dívida pública, através de uma alteração à lei de
enquadramento orçamental.
Na realidade, o Governo propõe à Assembleia a transposição das regras previstas no pacto orçamental,
cujo tratado foi aprovado neste Parlamento por 90% dos Deputados, em abril de 2012.
Sr.ª Presidente, Sr.as
e Srs. Deputados: Em democracia, desde 1974, Portugal já necessitou, por três
vezes, de pedir auxílio internacional. Em consequência dessas intervenções, o País perdeu parte da sua
soberania económica e financeira e os portugueses viveram inúmeros sacrifícios.
Hoje mesmo, estamos a viver sob intervenção externa. De três em três meses, temos que apresentar
contas aos nossos credores.
Mês após mês, são muitas as medidas difíceis aprovadas pelo Governo que afetam a vida dos
portugueses, em consequência de erros do passado.
Felizmente, há resultados à vista. Os sacrifícios dos portugueses não foram em vão. Os credores estão a
voltar a acreditar no nosso País. A credibilidade perdida está a ser recuperada. Os desequilíbrios
macroeconómicos estão a ser superados.
Mas é necessário garantir — e não é aos mercados, é a cada português — que, depois da casa arrumada,
após a saída da troica, não voltaremos a repetir comportamentos do passado, não voltaremos a hipotecar o
futuro, não surgirão quaisquer recaídas nos nossos comportamentos.
O Sr. João Oliveira (PCP): — Estão a fazê-lo agora!
O Sr. Duarte Pacheco (PSD): — As regras agora apresentadas, limitando o valor do défice e impondo uma
redução do défice estrutural em 0,5 pontos percentuais nos próximos anos, limitando o volume da dívida e
impondo a sua correção, prevendo naturalmente casos excecionais (como uma recessão profunda ou uma
catástrofe natural), ou as regras que estabelecem ainda critérios para a evolução da despesa (sobre a qual o
próprio tratado europeu poderia e deveria ir mais longe), podem não ser regras perfeitas, pois nada é perfeito,
mas são um passo decisivo no caminho da nossa credibilização externa.
Assim, apesar de a proposta do Governo poder ser alvo de melhorias no âmbito da especialidade, o próprio
Tribunal de Contas considerou esta iniciativa legislativa como «(…) positiva, sendo os motivos bem delineados
no seu preâmbulo indispensáveis à solidez, ao equilíbrio e à sustentabilidade das finanças públicas (…)».
O importante, Srs. Deputados, é que, na sociedade portuguesa e também nesta Câmara, se encontre um
consenso alargado quanto à necessidade de introduzir estas regras na nossa legislação, numa lei de valor
reforçado, e, sobretudo, na nossa maneira de atuar, nos procedimentos do dia-a-dia, independentemente de
quem tenha a confiança dos portugueses para governar.
Sr.ª Presidente, Sr.as
e Srs. Deputados: Há momentos especiais, momentos em que estamos a legislar não
só para os nossos compatriotas que estão a acompanhar este debate mas especialmente para as futuras
gerações, para muitos que ainda não nasceram sequer mas que têm o direito de vir a ter uma palavra sobre o
seu próprio futuro.
Após as dificuldades sentidas, em 2011, após a aplicação de um programa duríssimo,…
O Sr. João Oliveira (PCP): — Duro para quem?! Para o Sr. Ulrich ou para o Sr. Salgado?!
O Sr. Duarte Pacheco (PSD): — … os portugueses podem agora acreditar que, após 2014, com esta lei e
com o compromisso das principais forças políticas da sociedade portuguesa, os princípios da responsabilidade
e da sustentabilidade das finanças públicas poderão estar salvaguardados.
Quem agradece é Portugal.
Aplausos do PSD e do CDS-PP.