7 DE FEVEREIRO DE 2013
17
jornais alemães —, é pressionado por Portugal para regressar aos mercados. Percebe-se porquê. A
austeridade e os sacrifícios feitos em Portugal não chegam para agradar aos mercados, nada contam, nada
significam. Se não houver uma ação do Banco Central Europeu, esses sacrifícios de nada significam para o
regresso de Portugal aos mercados.
Por isso, este debate enferma de um problema essencial: a austeridade não é sinónimo de regresso aos
mercados, a austeridade é apenas chantagem para ir buscar às pessoas o que, de facto, lhes faz falta, isto é,
os salários, as pensões e os direitos.
Não aceito que se tente dar — como, com certeza, a maioria tentará fazer — lições sobre contas públicas
ao Bloco de Esquerda, sobre a sua consistência e a necessidade do seu equilíbrio. O Bloco de Esquerda
propôs um diploma nesta Assembleia, que foi aprovado também com os votos da maioria, no sentido da
existência de um orçamento de base zero, o qual, no segundo ano deste Governo, continua na gaveta, sem
ser executado.
Não aceitamos que, depois da aprovação de algo essencial — e o orçamento de base zero é essencial—,
nos venham dizer que a lei de enquadramento orçamental tem de ser alterada para valores exorbitantes,
absurdos e inalcançáveis no nosso País, em nome das contas públicas.
O Sr. Ministro não consegue explicar — e não compreendo como é que os Deputados da maioria não lho
perguntem — como é que se poderá alcançar aquilo que propõe que seja letra de lei. Como é que Portugal vai
conseguir alcançar, até 2020, aquilo que nunca fez desde meados dos anos 70 do século passado? Chegar a
excedentes orçamentais de 4% é impossível!
Mas a pergunta é: se é impossível, por que é que isso é colocado na lei? Então, se é impossível por que é
a maioria e o Governo insistem nisso? A resposta é simples e está à vista de todos: é mais uma chantagem
sobre os serviços públicos, sobre os salários e sobre as pensões, a somar àquelas que já conhecemos, com o
regresso aos mercados, com a ideia de que não há dinheiro para pagar salários e que, por isso, temos de
chamar a troica.
Ora, todos percebemos que havia mais impostos pagos do que aquilo que era necessário para pagar
salários. Todos percebemos que havia mais contribuições na segurança social, no momento em que troica
entrou no nosso País, do que aquilo que era a necessidade de dinheiro para pagar pensões. Ora, se havia
dinheiro para pagar salários, se havia dinheiro para pagar pensões, por que é que chamámos a troica? Porque
era necessário salvar os bancos, porque era necessário salvar os credores e era necessário garantir que os
interesses dos credores não eram beliscados.
Esta é a realidade que está em causa com esta lei. O que esta lei nos diz é que o corte de 4 mil milhões de
euros no Estado social é um primeiro avanço de tudo o que aí vem e, sobre isto, o Sr. Ministro das Finanças
nada disse.
Esta lei, antes de o ser enquanto matéria legislativa, já estava a ser materializada no corte de 4000 milhões
de euros. Afinal, esta lei traduz o corte no Estado social. Não se corta nos juros, não se corta nos pagamentos
aos credores. Não! Esta lei é a tradução da garantia de um País submisso aos interesses dos credores, aos
interesses da banca. É exatamente por isto que não pactuamos com ela.
Com esta lei, há menos educação pública; com esta lei, há menos serviços de saúde; com esta lei, há
menos pensões; com esta lei, há menos salários; com esta lei, o que há a mais são os pagamentos aos
credores. Afinal, o que o Governo nos diz — sendo a voz de Merkel em Portugal — é que os pagamentos aos
bancos alemães, aos bancos franceses e também aos bancos nacionais são garantidos à custa do que custar
aos serviços públicos e à custa do que custar aos salários e às pensões. Afinal, com esta lei, o «aguenta,
aguenta» de Fernando Ulrich vai «bater às portas» do costume, porque «à porta» dele não «bate» de certeza!
Aplausos do BE.
A Sr.ª Presidente: — Também não se registaram perguntas ao Sr. Deputado, pelo que tem a palavra, para
uma intervenção, o Sr. Deputado João Pinho de Almeida.
O Sr. João Pinho de Almeida (CDS-PP): — Sr.ª Presidente, Sr. Ministro, Srs. Secretários de Estado, já
aqui foi dito e é indesmentível, que o histórico de Portugal, no que diz respeito às suas finanças públicas e aos
saldos apresentados ao longo dos anos, está muito longe de ser positivo, na nossa democracia.