I SÉRIE — NÚMERO 56
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O Sr. Pedro Filipe Soares (BE): — Separadamente, Sr.ª Presidente.
A Sr.ª Presidente: — Tem, então, a palavra o Sr. Deputado Pedro Jesus Marques.
O Sr. Pedro Jesus Marques (PS): — Sr.ª Presidente, Sr. Deputado Pedro Filipe Soares, certamente
concorda comigo quando digo que, hoje, o mundo de Vítor Gaspar mudou, como disse, aliás, hoje de manhã,
e bem, o Deputado João Galamba.
Não há nenhum português que não perceba que Vítor Gaspar e este Governo, porque é todo o Governo,
deram hoje a maior pirueta na sua proposta de política, desde que tomaram posse, há ano e meio.
Aplausos do PS.
Agora, é vê-lo falar da prioridade ao crescimento e ao investimento e até em ciclos económicos — imagine-
se!
Vítor Gaspar deu o dito por não dito em demasiadas matérias, mas, como veremos, demasiado tarde,
infelizmente, para demasiados portugueses.
Deu o dito por não dito no cenário macroeconómico. Ainda há menos de seis meses, no País, todos diziam
que o cenário macroeconómico era irrealista, era otimista. O Governo dizia que não, que era um bom cenário.
Pois, viu-se, hoje mesmo, que a recessão duplicou.
Deu o dito por não dito no ritmo de ajustamento, quer em 2013 quer nos anos seguintes.
Deu o dito por não dito no corte dos 4000 milhões de euros, que, afinal — e isto foi, agora, reforçado pelo
CDS-PP —, é para suavizar.
Deu o dito por não dito em relação a mais tempo — pasme-se! — e, afinal, sem ser preciso a troica ficar
mais anos em Portugal. Até há pouco tempo, mais tempo significava apenas que a troica manteria, durante
mais anos, a soberania sobre o País. Deu o dito por não dito também nesta matéria.
O Sr. José Junqueiro (PS): — Uma vergonha!
O Sr. Pedro Jesus Marques (PS): — Infelizmente, fê-lo tarde demais para demasiados portugueses, tarde
demais para os mais de 200 000 portugueses que perderam o emprego, para as dezenas de milhares de
empresas que ficaram pelo caminho, neste processo infamemente qualificado pelo Primeiro-Ministro como de
«seleção natural». Aqueles que eram como que um cancro da sociedade portuguesa, os desempregados e as
empresas,…
O Sr. João Galamba (PS): — Eram as gorduras!
O Sr. Pedro Jesus Marques (PS): — … ficaram pelo caminho, na «seleção natural» de Passos Coelho.
Para estes, chegou tarde demais esta mudança de política!
Para o Governo, a «seleção natural», provavelmente, estará feita. Já extirparam os cancros, já deixaram
200 000 portugueses pelo caminho.
Mas este é um momento para não ficar a meio da ponte, Sr. Deputado Pedro Filipe Soares, e este é o repto
que lhe deixo. Este é o momento de dar prioridade aos mais pobres, àqueles que estão, certamente, em
situação de incumprimento no crédito à habitação — e, como sabe, há também propostas do PS neste
sentido, como, aliás, hoje aqui referiu —, mas não de ficar a meio da ponte. Não podemos adotar, a partir de
agora, mais medidas pró-cíclicas, do ponto de vista orçamental, nem mais nenhuma medida de austeridade
adicional até se estabilizar a economia e o desemprego em Portugal.
Aplausos do PS.
Não vale a pena ficar agora a meio da ponte. Seria o maior erro que poderíamos cometer!