5 DE ABRIL DE 2013
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O Sr. João Oliveira (PCP): — Exatamente!
O Sr. Paulo Sá (PCP): — Entre as muitas medidas do Memorando da troica — verdadeiro pacto de
agressão contra Portugal e os portugueses — conta-se o aumento da taxa do IVA na eletricidade e no gás,
prevista para 2012, mas que o Governo, diligentemente, resolveu antecipar para o último trimestre de 2011.
De uma penada, os custos destes bens essenciais — eletricidade e gás — aumentaram cerca de 16%. Como
se não bastasse, a este aumento de preços somaram-se aqueles que resultam da liberalização do mercado de
energia e da progressiva extinção das tarifas reguladas. Em termos gerais, a eletricidade e o gás natural
aumentaram cerca de 25%, desde 2011 até ao início de 2013.
As consequências destes brutais aumentos de bens essenciais foram — e continuam a ser — dramáticas,
contribuindo para o aumento da degradação das condições de vida das famílias portuguesas. Muitas famílias
deixaram de conseguir pagar as suas faturas mensais de eletricidade e de gás, assistindo impotentes ao corte
de fornecimento por parte de empresas que registam centenas de milhões de euros de lucros anuais. As
micro, pequenas e médias empresas foram afetadas muito negativamente na sua estrutura de custos e
competitividade, tendo de suportar preços de eletricidade e gás significativamente superiores aos preços
médios praticados na generalidade dos países da União Europeia.
É neste quadro que os representantes da troica, em Portugal, vêm publicamente manifestar agora a sua
preocupação com o facto de os preços da eletricidade e do gás natural não terem sofrido uma contração
durante 2012. Estas são declarações profundamente hipócritas, já que a troica sabe perfeitamente que da
liberalização do mercado de energia, decidida pelo Governo PS/Sócrates e implementada pelo atual Governo
PSD/CDS, só seria de esperar aumentos de preços, tal como ocorreu noutros mercados recentemente
liberalizados, como, por exemplo, o dos combustíveis.
Estes aumentos de preços ocorrem com a total complacência da Entidade Reguladora dos Serviços
Energéticos (ERSE), uma entidade dita independente, mas que, na realidade, está ao serviço dos grandes
interesses económicos do setor energético.
Urge aliviar as famílias e as pequenas empresas deste fardo imposto pelo Governo e pela troica.
O PCP, aquando da discussão do Orçamento do Estado para 2013, já havia apresentado uma proposta
que, infelizmente, foi rejeitada pela maioria parlamentar, visando reduzir a taxa do IVA da eletricidade e do gás
natural de 23% para 6%. Hoje, voltamos a apresentar esta proposta, a qual, se for aprovada, reduzirá, de
forma muito significativa, os encargos energéticos das famílias e das pequenas empresas, aliviando-as do rolo
compressor da política da troica.
Aplausos do PCP.
A Sr.ª Presidente (Teresa Caeiro): — Para uma intervenção, tem agora a palavra a Sr.ª Deputada
Hortense Martins.
A Sr.ª Hortense Martins (PS): — Sr.ª Presidente, Sr.as
e Srs. Deputados: A decisão do Governo de
aumentar o IVA de 6% para 23% foi a de «ir para além da troica» e representou mais um sacrifício
inadmissível para os portugueses, numa opção da exclusiva responsabilidade deste Executivo. Não é possível
que venham refugiar-se no Memorando da troica, porque isso não corresponde à verdade — basta ler o que lá
estava escrito quando foi assinado em maio de 2011. O Governo assumiu ainda a antecipação desta medida
penalizadora para 2011.
O PS desde sempre se opôs — inclusive, apresentámos uma iniciativa na Assembleia da República, que a
maioria chumbou — a esta antecipação e a esta medida excessivamente penalizadora. Até a própria troica o
reconheceu — imagine-se! — quando se deu conta de que, afinal, a descida dos preços da energia, da
eletricidade e do gás não estavam a ter uma repercussão positiva.
Lembro que, no contexto europeu, Portugal tinha, quanto ao gás natural, a segunda taxa de IVA mais baixa
da Europa e que agora tem o quinto lugar mais alto. Portanto, somos quase campeões. Os senhores, aliás,
têm a virtude de, em questões fiscais, optarem sempre pelas taxas máximas para fazerem boas figuras —
veja-se o IVA da restauração. Portanto, escolhem a taxa máxima e aí vamos nós, porque assim é que vamos
bem, mesmo que isso resulte em receitas mais baixas e que o vosso objetivo não seja cumprido…