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I SÉRIE — NÚMERO 76

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A Sr.ª Cecília Honório (BE): — Sr.ª Presidente, Sr. Deputado Mendes Bota, estamos habituados e

habituadas a vê-lo nas últimas filas, vimo-lo hoje fazer aqui uma deslocação no espaço, sentar-se na fila da

frente e…

Protestos do PSD.

… subir ao palanque. Enfim, é uma deslocação que terá a sua pertinência.

A primeira questão que quero colocar, a partir da declaração que fez — e, se os seus coleguinhas fizerem

menos ruído, o Sr. Deputado poderá ouvir melhor —, é a de saber se a intervenção de fatalismo que aqui fez,

o «não há alternativa», o «está tudo bem, está tudo certo, o caminho é este», é o tipo de intervenção que o Sr.

Deputado costuma levar à sua região.

O Sr. Deputado conhece bem o Algarve, como muitos não conhecem, sabe perfeitamente que é uma

região esmagada pelo desemprego, por injustiças tão brutais como a das portagens, pelo empobrecimento

rápido, pelo que pergunto se mantém o discurso que, muitas vezes, faz lá em baixo, na sua região, quando

põe em causa algumas das orientações da política deste Governo, ou se o que tem a dizer, hoje, à sua região

é que não há alternativas senão a política de austeridade, o esmagamento do País, o adiamento de qualquer

futuro.

Fez ainda um convite um pouco estranho, fez um «pedido de namoro» ao Partido Socialista, uma «dança»

em torno do Partido Socialista e, ao mesmo tempo, trouxe um «aperitivo» político, que foi a homenagem

comovida a Thatcher. Ó Sr. Deputado Mendes Bota, é interessante que a direita abrace esta memória com

tanta força, hoje, quando Margaret Thatcher é conhecida, como bem sabemos, pelo projeto destrutivo do

Estado social e pelas perseguições políticas descontroladas. Percebo que o Sr. Deputado tenha querido trazer

aqui esta memória e até lhe faço uma pergunta: está a compará-la com quem? Quando se comove perante

este passado, está a comparar a Sr.ª Ministra Thatcher, agora falecida, com quem? Com o Sr. Ministro das

Finanças, Vítor Gaspar, que resolveu encerrar o País, ou com o Sr. Presidente da República, que resolveu

interpelar o Tribunal Constitucional, e bem, mas, hoje, põe uma mãozinha por baixo do Governo?

Sr. Deputado, vamos falar claro e, sobretudo, dizer que este espírito de «não há nada a fazer», este

espírito de que, enfim, não há futuro, a não ser a política violentíssima deste Governo, cuja morte está

anunciada há muito tempo, não serve a sua responsabilidade política, nomeadamente perante os seus

eleitores, que querem respostas rápidas relativamente à justiça, à economia e a todas as exigências que o

País, hoje, impõe.

Aplausos do BE.

A Sr.ª Presidente: — Também para pedir esclarecimentos, tem a palavra o Sr. Deputado João Oliveira.

O Sr. João Oliveira (PCP): — Sr.ª Presidente, Sr. Deputado Mendes Bota, é significativo que o CDS, que

já foi partido do contribuinte e que, até hoje, era partido da coligação, tenha passado a partido do aparte,

porque, hoje, o CDS não se vai fazer ouvir nesta Assembleia da República, a não ser nos apartes dos Srs.

Deputados, porque não querem assumir responsabilidade rigorosamente nenhuma por aquilo que estão a

fazer no Governo, o que é significativo.

Aplausos do PCP.

Mas, Sr. Deputado Mendes Bota, também é significativo que tenha falado, do alto da tribuna, durante 7

minutos e meio, e não tenha tido uma única palavra para o despacho com que o Ministro das Finanças

sequestrou o País e tomou como reféns as vidas de milhões de portugueses, nas escolas, nos hospitais, na

segurança social, em todo o País, de norte a sul.

Aplausos do PCP.