I SÉRIE — NÚMERO 95
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Passamos ao quarto e último ponto, que consiste na apreciação do Decreto-Lei n.º 26/2013, de 19 de
fevereiro, que procede à primeira alteração à Lei n.º 11/2011, de 26 de abril, que estabelece o regime jurídico
de acesso e de permanência na atividade de inspeção técnica de veículos a motor e seus reboques e o regime
de funcionamento dos centros de inspeção [apreciação parlamentar n.º 49/XII (2.ª) (PCP)].
Para uma intervenção, tem a palavra o Sr. Deputado João Ramos, do PCP.
O Sr. João Ramos (PCP): — Sr. Presidente, Srs. Membros do Governo, Srs. Deputados: O Decreto-Lei n.º
26/2013 vem alterar a Lei n.º 11/2011, surgida a partir de um longo processo de discussão e que, no final,
obteve o consenso entre os partidos da maioria — PSD e CDS — e o PS.
Estamos no âmbito da legislação reguladora do setor da inspeção de veículos e dos respetivos centros de
inspeção.
Estamos, agora, perante uma situação em que o PCP, que alertou para os riscos e consequências
decorrentes da opção política de intensificar a liberalização do setor, promovendo a concentração e não
garantindo uma rede de centros dispersos pelo País, se vê forçado, através desta apreciação parlamentar, a
denunciar esta decisão do Governo de alterar, a meio do jogo, as regras definidas pela própria maioria.
Para além de intensificar o processo de liberalização, este projeto de lei que altera a lei da Assembleia da
República apresenta como grave a suspensão de um processo de concurso para a abertura de novos centros
de inspeção de veículos. Para este concurso, muitos pequenos e médios empresários prepararam, tiveram
custos na preparação dos processos e, agora, veem o processo suspenso, sem qualquer explicação.
Isto, Srs. Deputados, «cheira a esturro», é quase um «rabo escondido, com o gato de fora»!
Depois de ter iniciado um processo de atribuição de licenças para a abertura de novos centros de inspeção
e depois de conhecer as candidaturas e aqueles que estão em melhores e em piores situações para acederem
às licenças, o Governo suspende o processo. Será que o Governo não ficou agradado com os candidatos
melhor posicionados para acederem às licenças? Há muito que explicar neste processo!
O decreto-lei que hoje apreciamos não resolve, pelo contrário, agrava o problema criado pelas últimas
alterações legislativas, ao permitir mais centros nas áreas mais densamente povoadas ao sabor dos
interesses do mercado — cria pressão para a degradação da qualidade do serviço, face à pressão para atrair
clientes; promove a degradação da rentabilidade das pequenas empresas, proprietárias de centros de
inspeção, face aos grupos económicos que gerem redes desses mesmos centros.
A estes aspetos negativos soma-se ainda um outro: fazer depender a abertura de novos centros de
inspeção das regras de mercado determinará que o interior do País pouco povoado continuará carente destes
centros. E assim, sem uma cobertura adequada no território nacional, o interior do País continuará privado de
um serviço público e obrigatório de proximidade, uma desadequação com implicações na vida das populações
e das empresas, que são obrigadas a deslocações de centenas de quilómetros para acederem a este serviço.
Estamos em crer que os Deputados que se envolveram intensamente na preparação da Lei n.º 11/2011
estão desconfortados com esta sobreposição do órgão de Governo sobre o órgão deliberativo. Se assim for,
não aceitarão esta ingerência e terão, através da aprovação da suspensão de vigência proposta pelo PCP, a
oportunidade de mostrar ao Governo que deve respeito à Assembleia da República.
Aplausos do PCP.
O Sr. Presidente (Ferro Rodrigues): — Para uma intervenção, tem a palavra o Sr. Deputado Jorge Fão, do
PS.
O Sr. Jorge Fão (PS): — Sr. Presidente, Sr.as
e Srs. Deputados: Apreciamos hoje o decreto-lei que
introduziu alterações no regime de exercício de atividade e permanência dos centros de inspeção automóvel,
por iniciativa do Partido Comunista.
Ainda temos presente a história recente da definição de um regime jurídico de exercício de atividade neste
setor, que culminou, em 2011, com a aprovação desse mesmo regime: em 2010, o Governo da
responsabilidade do Partido Socialista constatou que havia 161 concelhos neste País que não tinham o
serviço de centros de inspeção automóvel; Portugal tinha sido condenado, em 2009, pelo Tribunal de Justiça
europeu por não garantir a liberdade de acesso ao exercício desta atividade e a liberdade de exercício de