I SÉRIE — NÚMERO 105
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parte de grandes potências, promove o emprego em países como Portugal? Não, Sr. Primeiro-Ministro! O
importante é atacar este cancro que é o desemprego juvenil, mas não é com propaganda, nem com medidas
para favorecer particularmente o grande capital e as grandes potências.
O Sr. Bernardino Soares (PCP): — Muito bem!
O Sr. Jerónimo de Sousa (PCP): — Não é aceitável, Sr. Primeiro-Ministro, que, relativamente aos nossos
jovens, jovens qualificados que amam o seu País, que aqui querem trabalhar, desenvolver as suas
capacidades, a sua inteligência e os seus saberes, estejam a ser criadas as condições para a abertura de
centros de recrutamento que os leve, ficando o nosso País mais pobre e cada vez mais dependente do
estrangeiro.
É por isso que nós discordamos. E sabemos que o Governo vai apoiar tudo isto nesta reunião do Conselho.
O Sr. Bruno Dias (PCP): — Fervorosamente!
O Sr. Jerónimo de Sousa (PCP): — Mas não venha, mais tarde, Sr. Primeiro-Ministro, com a política de
«passa-culpas», tentar sacudir responsabilidades que são daqueles que votam a favor destas medidas que
estão previstas.
Aplausos do PCP.
A Sr.ª Presidente: — A próxima intervenção é do Bloco de Esquerda.
Tem a palavra a Sr.ª Deputada Catarina Martins.
A Sr.ª Catarina Martins (BE): — Sr.ª Presidente, Sr. Primeiro-Ministro: Nos últimos tempos, temos
assistido a um espetáculo lamentável de «passa-culpas» entre o FMI, a Comissão Europeia e o Banco Central
Europeu. Todos se culpam mutuamente do desastre das políticas de austeridade, embora, de facto, todos
mantenham políticas de austeridade. É cinismo! E é um cinismo que reescreve o ditado popular agora em
relação à troica que «tira o pão, todos ralham e nenhum tem razão».
E, Sr. Primeiro-Ministro, o cinismo desta troica é um cinismo que se estende ao Governo, aos responsáveis
portugueses. É que nós lembramo-nos do que disseram. Lembramo-nos de Paulo Portas assegurar que não
se devia diabolizar o FMI. Lembramo-nos de o Sr. Primeiro-Ministro afirmar: «O programa da troica é o meu
programa». Lembramo-nos do orgulho de Vítor Gaspar com o «ir além da troica».
Sabemos o que disseram, sabemos o que têm feito e o que fazem ao País e percebemos o que está em
curso.
O programa de ajustamento falhou, como só podia falhar. O País está mais pobre, o desemprego é
colossal, a dívida pública está em 127% do PIB e o FMI admite que chegue facilmente aos 140% do PIB.
Quando o Sr. Primeiro-Ministro diz que é o Bloco de Esquerda que não quer pagar a dívida, não tenhamos
dúvidas de que é o seu Governo que está a levar o País para a bancarrota.
Vozes do BE: — Muito bem!
A Sr.ª Catarina Martins (BE): — E está a levar o País para a bancarrota porque não tira as conclusões em
relação ao caminho a que levaram as políticas de austeridade, o rumo de destruição do País e o aumento da
dívida. O Governo não faz a restruturação necessária da dívida, aprofunda o caminho e insiste em mais
austeridade.
Com este Governo, não haverá, ao contrário do que dizem PSD e CDS, qualquer regresso à soberania em
2014. Na verdade, está já a ser negociado um segundo resgate, versão «faz-de-conta que não é resgate»,
«faz-de-conta que não é perda de soberania», «faz-de-conta que não é austeridade», «faz-de-conta que não é
FMI». Mas é! Podia chamar-se segundo resgate, Maria Albertina ou outra coisa qualquer. Optaram por
chamar-lhe «programa cautelar».
Vamos, então, ver o que sabemos deste programa.