I SÉRIE — NÚMERO 2
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Compreendemos que estas questões levantem algum ruído, principalmente numa altura pré-eleitoral como
agora. Julgo que o sistema educativo português está a adaptar-se a uma realidade com muito menos
estudantes — infelizmente — da melhor maneira possível e nós continuaremos a prestar contas, a ter cá o
Governo a prestar essas contas, tendo a certeza de que, independentemente do que queiram colocar na
nossa boca, continuaremos a bater-nos por uma escola pública em que haja qualidade para todos e em que
haja uma igualdade de circunstâncias em que todos possam escolher o máximo possível o seu projeto
educativo.
Aplausos do CDS-PP e do PSD.
A Sr.ª Presidente: — Para uma segunda intervenção, uma vez que ainda dispõe de tempo, tem a palavra a
Sr.ª Deputada Rita Rato.
A Sr.ª Rita Rato (PCP): — Sr.ª Presidente e Srs. Deputados, muitas vezes, quando vamos às escolas,
ouvimos os professores e as associações de pais dizerem que é preciso conhecer a realidade no terreno, é
preciso ir às escolas ver o que se passa. Mas temos o exemplo, hoje, na intervenção do PSD, de que não é só
falta de conhecimento da realidade. A Sr.ª Deputada Maria José Castelo Branco é professora na escola
pública, conhece a realidade da escola pública, percebe que tudo o que aqui disse é desmascarado pela
realidade da escola, pela realidade do dia-a-dia de turmas sobrelotadas, de professores que têm mais de 400
alunos, da incapacidade de trabalhar e incluir os alunos com necessidades especiais.
O Sr. João Oliveira (PCP): — Exatamente!
A Sr.ª Rita Rato (PCP): — Pode ser professora numa escola, mas como deve andar distraída com o seu
distrito,…
Protestos do PSD.
… vou dar-lhe um exemplo de uma tomada de posição que o Agrupamento de Escolas Eugénio de
Andrade, do Porto, enviou a todos os grupos parlamentares — e enviou também a si, Sr.ª Deputada. Diz a
associação de pais desta escola que faltam funcionários, que são necessários 37 e estão 28, que 10% dos
alunos têm necessidades especiais e que, de técnicos especializados, não foi autorizada a contratação de
terapeutas de fala, de formadores de língua gestual portuguesa e de intérpretes de língua gestual portuguesa,
isto numa escola de referência de surdos, que tem 90 alunos surdos.
O Sr. João Oliveira (PCP): — É este o vosso trabalho!…
A Sr.ª Rita Rato (PCP): — Na mesma escola, sendo necessários sete docentes para dar apoio a estes
alunos surdos, foram contratados quatro e não há funcionários para assegurar o acompanhamento e as
tarefas básicas do funcionamento de uma escola. Mas os Srs. Deputados — perdoem-me, mas tenho de usar
esta expressão — têm a «lata» de vir dizer que está a correr tudo bem, mas só se estão a enganar a vocês,
Srs. Deputados!
O PS diz que este Governo é incompetente. Mas não é incompetente, porque este Governo sabia onde
queria cortar, sabe o que quer destruir e o que está em curso é um projeto político de destruição da escola
pública,…
Vozes do PCP: — Exatamente!
A Sr.ª Rita Rato (PCP): — … de criação de uma escola pública para os indigentes e de criação de uma
escola de elite. É um retrocesso que vai para lá do 25 de Abril, que permitiu a conquista da escola pública de
qualidade enquanto pilar fundamental do regime de direito democrático.