18 DE SETEMBRO DE 2013
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Começo com um exemplo: a Sr.ª Deputada Mariana Aiveca, ao apresentar o projeto de lei do Bloco de
Esquerda, anunciou pomposamente — desculpe a expressão — o seguinte: «O Bloco de Esquerda traz
soluções para o desemprego». Estas foram as suas palavras ipsis verbis.
Mas que soluções trouxe o Bloco de Esquerda para o desemprego, do ponto de vista económico, do ponto
de vista da melhoria da produção, do ponto de vista da melhoria do mercado laboral? Zero! O Bloco de
Esquerda trouxe soluções de subsidiação de quem está no desemprego, não trouxe uma única solução para
combater o flagelo, como vocês dizem, do desemprego. E é, de facto, um flagelo.
Este é um tipo de discurso autista.
Protestos do BE.
Por outro lado, temos o discurso do Partido Socialista. Com todo o respeito que o Sr. Deputado Mário
Ruivo me merece, vou ler-lhe duas ou três passagens, não do Memorando que está em vigor mas do original,
na versão negociada e contratualizada pelo Partido Socialista, enquanto Governo, com a troica.
No Memorando, podemos ler: reduzir a duração máxima do subsídio de desemprego para não mais do que
18 meses; limitar os subsídios de desemprego a 2,5 vezes o indexante de apoios sociais (IAS) e introduzir um
perfil decrescente de prestações no longo período de desemprego após seis meses de desemprego. Estas
são algumas das «pérolas» que lá estão.
Sr. Deputado, como é que o Partido Socialista, que assinou este Memorando — e assinou porque tinha de
ser assinado, dada a situação de endividamento em que o País se encontrava, conduzido pelo Partido
Socialista, dada a situação de paralisia da nossa economia e dos nossos setores produtivos —, como é que o
Partido Socialista, repito, tendo consciência disso e tendo assinado o Memorando, pode ter aqui esse
discurso? Não pode. Não é sério!
Fazer um e outro discurso é estar, precisamente, a enganar as tais centenas de milhares de
desempregados que os senhores dizem que vêm defender com o vosso discurso.
Defender essas centenas de milhares de desempregados é fazer o que este Governo fez. Ou seja, do lado
da proteção dos mesmos, tentar, para além dos condicionamentos do Memorando, fazer o que nem sequer lá
estava previsto: descongelar as pensões; majorar o subsídio de desemprego dos casais desempregados;
atribuir o direito ao subsídio de desemprego àqueles jovens que, sendo trabalhadores subordinados, estão
contratados com um falso recibo verde, desde que provem que 80% dos mesmos são para a mesma entidade
patronal.
Tomámos todas estas e muitas outras medidas para minorar o que podia ser minorado. E, Srs. Deputados,
não é verdade que este Governo ignore o tal meio milhão de desempregados de longa duração. Pelo
contrário, nós herdámo-los, assim como herdámos a situação do País. Há mais de uma década que vínhamos
alertando, antes de sermos Governo e enquanto oposição, que Portugal tinha uma economia estagnada e o
sintoma dessa crise e dessa recessão era o de que, há mais de uma década, tínhamos, sistematicamente,
entre 450 000 a 500 000 pessoas no desemprego — sistematicamente! Tal era sintoma de que a nossa
economia estava mal
Não enganamos ninguém, queremos fazer o melhor, mas o melhor é apoiar dentro da medida do que é
possível e fazer o que este Governo fez, que foi lançar estímulos à economia. Aliás, nos últimos dias, todos
temos tido notícia dos sinais de retoma da economia em diversos setores, inclusive uma ligeira, mas constante
e sustentada, descida da taxa de desemprego.
Se tudo correr bem, se continuarmos por este caminho, iremos conseguir levar o barco a bom porto. Mas é
com seriedade e não com demagogia.
Aplausos do CDS-PP e do PSD.
A Sr.ª Presidente: — Para intervir, de novo, tem a palavra a Sr.ª Deputada Mariana Aiveca, do BE.
A Sr.ª Mariana Aiveca (BE): — Sr.ª Presidente e Srs. Deputados, é nos momentos de maior dificuldade
que tem de existir a maior solidariedade.