17 DE OUTUBRO DE 2013
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A Sr.ª Carla Cruz (PCP): — Sr. Presidente, quero, em primeiro lugar, agradecer ao Sr. Deputado Pedro
Delgado Alves as questões que colocou.
Gostaria de dizer que este contrato de concessão de serviço público mostra uma certeza: a certeza de que
este Governo pretendia desmantelar o serviço público de rádio e televisão e também desmantelar o
importantíssimo serviço público que é prestado pela agência Lusa. A única coisa de que não tínhamos a
certeza era o modo, era como é que esse desmantelamento iria acontecer, ora pela privatização, ora pela
concessão.
A certeza que temos — e hoje confirma-se isso — é, de facto, a da vontade do Governo do PSD de
desmantelar um serviço público de rádio e televisão com todas as implicações que isso tem para a
democracia, para a informação, para os trabalhadores do serviço público de rádio e televisão e, no concreto,
também para os trabalhadores da Lusa.
É preciso aqui dizer, claramente, que a Lusa presta um serviço público essencial à população portuguesa e
às comunidades que estão no estrangeiro, mas, em contrapartida, aquilo que tem vindo a ser feito, por
redução orçamental, por não resolução de um problema, que é a introdução no contrato para 2013-2015 de
um fator de correção que roubou à Lusa cerca de um milhão de euros — problema que o ministro Miguel
Poiares Maduro tende a não resolver —, é que se está a destruir um serviço que é fundamental, que é
essencial e a verdade é que os trabalhadores da Lusa, os trabalhadores da RTP, os trabalhadores da rádio
pública portuguesa estão hoje em piores condições.
É este, de facto, o caminho que o Governo tem prosseguido com todos os trabalhadores e também com os
que estão na área da comunicação social.
Relativamente à manobra do financiamento, da transferência, do pagamento através da CAV, ficou claro
para o Partido Comunista Português que este não é o financiamento sustentável, que não cumpre as funções
do serviço público. E isto é tão claro que o próprio presidente do conselho de administração disse na 12.ª
Comissão que a forma de financiamento, quer pela publicidade quer pela CAV, era insuficiente para o serviço
público de rádio e televisão. Apenas será possível se, efetivamente, se cumprirem estes serviços mínimos
para o serviço de rádio e televisão portuguesa.
Aplausos do PCP.
O Sr. Presidente (António Filipe): — Para pedir esclarecimentos, tem a palavra a Sr.ª Deputada Cecília
Honório.
A Sr.ª Cecília Honório (BE): — Sr. Presidente, Sr.ª Deputada Carla Cruz, quero cumprimentá-la pela sua
declaração política e pelas preocupações que aqui nos trouxe.
Deixe-me que sublinhe o apelo que aqui deixou no sentido de que é mesmo urgente que todos nós, que a
sociedade, que as forças democráticas deste País se mobilizem em torno da defesa do serviço público de
rádio e televisão e da defesa do serviço público da Lusa. Trata-se de um apelo determinante, porque os riscos
são evidentes, e são os que apontou.
A dívida do Estado para com a Lusa ultrapassa em muito o milhão de euros, cerca de 1,6 milhões de euros,
e nem o fator de correção vai ser reposto, como é exigência mínima, para resolver problemas do imediato.
Quanto ao fim da indemnização compensatória em relação à RTP é o Estado que diz: «Bom, acabou o
nosso compromisso e a nossa responsabilidade de financiamento do serviço público.»
Havia a expectativa de que este Orçamento do Estado trouxesse alguma pequena novidade — não sei se a
Sr.ª Deputada já teve oportunidade de ver. Uma delas, já aqui a apontou, é a do aumento da contribuição para
o audiovisual, há umas maroscas também previstas com as receitas comerciais — vamos ver como é que isto
se articula com o próprio contrato de concessão que o Sr. Ministro aqui trouxe sob a forma de projeto — e, ao
mesmo tempo, há a garantia dos cortes com o pessoal. A dúvida é mesmo esta, Sr.ª Deputada: há um
Governo que se desresponsabiliza da possibilidade de viabilizar o serviço público de informação, o serviço
público de rádio, o serviço público de televisão.
Tem sido um processo de agonia. E queremos saudar os trabalhadores e as trabalhadoras — como a Sr.ª
Deputada também o fez —, porque é preciso muita resistência, é preciso «vestir a camisola» para conseguir
trabalhar nas condições em que estes profissionais trabalham diariamente. São diariamente ameaçados pelo