I SÉRIE — NÚMERO 10
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despedimento — sou eu, és tu, é o outro… —, são diariamente ameaçados pela suspeita. É, de facto, preciso
reconhecer que estes homens e estas mulheres vivem numa situação tão indigna que esta Assembleia só
pode reconhecer o seu valor para além do profissionalismo, que não precisa, evidentemente, do nosso
reconhecimento.
O que lhe pergunto é o seguinte, Sr.ª Deputada: como é que entende este «filme» de se permanecer em
agonia, de não se encontrar qualquer resposta sustentável do ponto de vista do modelo de financiamento? É
que, de facto, não há nenhum debate sério, não há nenhum debate credível que não tenha a ver exatamente
com o modelo de financiamento.
É uma agonia que vem desde há dois anos e que se vai prolongar através do próximo Orçamento do
Estado, na procura de uma morte lenta do serviço público, na procura de uma pressão constante para o
despedimento, neste abdicar de um compromisso determinante, que é a própria produção interna, no caso da
RTP! Trata-se de sucatear o serviço público de rádio e televisão, de uma forma cínica, porque, ao mesmo
tempo que se prescindiu da privatização parcial que estava sobre a mesa, há a permanência de um processo
de agonia, de desprezo pelo serviço público de rádio e televisão e de uma pressão constante de uma política
de despedimentos.
Aplausos do BE.
O Sr. Presidente (António Filipe): — Para responder, tem a palavra a Sr.ª Deputada Carla Cruz.
A Sr.ª Carla Cruz (PCP): — Sr. Presidente, Sr.ª Deputada Cecília Honório, agradeço as questões que
colocou e, sobretudo, a reflexão que fez em torno do serviço público de rádio e televisão.
Para o PCP é claro que não há serviço público de rádio e televisão sem produção interna, sem produção
própria. A produção própria é uma marca do serviço público de rádio e televisão, mas só é possível fazer esse
serviço público, essa produção, com trabalhadores, trabalhadores que este contrato de concessão de serviço
público delapida. É isto que está em jogo! É isto que está em causa!
Se me permitem a expressão, à laia daquilo que o Ministro Poiares Maduro diz, de apoiar a produção
independente, aquilo que se está, de facto, a fazer é uma delapidação de um património que é o serviço
público de rádio e televisão, um património de qualidade do serviço, um património dos trabalhadores, um
património que tem a ver com o arquivo, com os canais… É importante salvaguardar tudo isso, mas isso só é
salvaguardado com um financiamento adequado.
Para o PCP, voltamos a reafirmá-lo aqui, só é possível a prestação desse serviço com a indemnização
compensatória. O Estado tem de assegurar um serviço público de rádio e televisão e tem de o fazer dando os
meios, nomeadamente os meios financeiros, à concessionária, à RTP. Para isso, de facto, não basta a CAV,
não basta a publicidade, porque no contrato de concessão que foi celebrado não está previsto o aumento das
dotações da publicidade. Portanto, é preciso resolver essa dicotomia. Mas também já estamos habituados a
que este Governo apresente leis que não cumpre e que faça contratos que, depois, não são cumpridos.
Quanto à ideia de que a publicidade vai aumentar, é preciso não nos enganarmos, porque os últimos dados
mostram que, efetivamente, o mercado da publicidade tem diminuído e não aumentado.
Aplausos do PCP.
O Sr. Presidente (António Filipe): — Ainda para pedir esclarecimentos, tem a palavra a Sr.ª Deputada
Francisca Almeida.
A Sr.ª Francisca Almeida (PSD): — Sr. Presidente, Sr.ª Deputada Carla Cruz, deixe-me dizer-lhe que
fiquei surpreendida ao vê-la trazer a RTP, esta semana, ao Plenário. E fiquei surpreendida não pela
circunstância de estarmos em semana de apresentação do Orçamento do Estado, fiquei verdadeiramente
surpreendida porque quando o Sr. Ministro esteve na Comissão, justamente para apresentar o contrato de
concessão, o Partido Comunista Português não o quis discutir,…
A Sr.ª Carla Cruz (PCP): — Não é verdade!