I SÉRIE — NÚMERO 23
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Quando se ouve um capitão de Abril dizer que «O Governo se arrisca a sair à paulada», onde está o
respeito pela democracia que Abril instalou?
Ou quando vemos um ex-Primeiro Ministro dirigir-se, numa entrevista pública, ao Ministro das Finanças
alemão com o epíteto de «estupor», onde estão a distinção e a urbanidade que devem caracterizar os agentes
políticos?
Quando vemos alguns sindicalistas, alguns em particular, queimar o Orçamento do Estado e dizer «só é
pena não estar cá quem o aprovou», onde está o respeito institucional?
Não, não é esse o Portugal que vimos a construir!
Aplausos do PSD e do CDS-PP.
Quando vemos tudo isto e ouvimos os incitamentos que parecem ser à insubordinação por parte das
mesmas personagens que alinham numa esquerda reacionária renascida, devemos todos, nesta Casa, com
igual firmeza e com determinação repudiar este tipo de afirmações e de comportamentos.
É em defesa do Estado de direito democrático que todos — todos, sem exceção — estamos convocados e
deste consenso ninguém, mas ninguém, se deve eximir.
Mas será que tudo isto é por acaso? Será que é isto que desejam os milhões de portugueses que, com o
seu esfoço e sacrifício (repito: com o seu esforço e sacrifício) colocaram Portugal a crescer nos últimos dois
trimestres?
Risos do Deputado do PS António Gameiro.
Será que é isto que desejam os mais de 100 000 portugueses que encontraram trabalho nos últimos dois
trimestres?
Ou, ainda, será que é isto que desejam os empresários portugueses que criam emprego e exportam e que
com isso alavancam a nossa economia?
Sr.as
e Srs. Deputados, há portugueses a passar dificuldades? Há. Há portugueses a fazer sacrifícios? Há.
Mas não se politize nem instrumentalize aqueles para quem a nossa atenção deve ser prioritária!
Aplausos do PSD e do CDS-PP.
O Sr. João Oliveira (PCP): — Isso queriam os senhores! Que os portugueses comessem e calassem!
Desenganem-se!
O Sr. Hugo Lopes Soares (PSD): — Esses, os que precisam de nós, não são certamente os que
defendem as violações contantes, que alguns querem fazer e incitar, do Estado de direito democrático.
Os que defendem esses caminhos fazem-no por duas razões diferentes: uns, por afirmação ideológica — é
o Portugal advindo da anarquia que quiseram sempre construir; outros, porque nunca aceitam a ideia de que
foi um partido de esquerda que levou o País às portas da bancarrota e que pediu ajuda externa e que é este
Governo que vai libertar o País da dependência externa e que está a empreender as mudanças estruturais
que há muito se reclamavam.
Mas, Sr.as
e Srs. Deputados, não confundamos. Não estamos aqui a falar dos pensionistas que, no
exercício de um direito pleno, se manifestam; também não estamos a falar dos professores que fazem greve
legitimamente, nem dos sindicalistas ou de outros parceiros sociais que puxam por Portugal, estamos a falar
dos de sempre: dos que às sextas violam a lei nas galerias da Assembleia da República e que nos restantes
dias da semana se dizem representantes sindicais.
Aplausos do PSD e do CDS-PP.
Estamos a falar dos mesmos que vão para as portas dos ministérios como se se tratassem de cidadãos
anónimos e que depois, nos congressos partidários, de punho no ar, gritam pela revolução.