I SÉRIE — NÚMERO 27
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Por último, quero dizer também — essa já é uma realidade — que 3% da faturação dessa barragem serão
para a biodiversidade. Espero que desses 3% uma larga percentagem (a agência e os autarcas pedem 75%)
seja para investir na região.
Aplausos do PS.
A Sr.ª Presidente (Teresa Caeiro): — Para uma intervenção, tem, agora, a palavra o Sr. Deputado Luís
Leite Ramos, do PSD.
O Sr. Luís Leite Ramos (PSD): — Sr.ª Presidente, Sr.as
e Srs. Deputados: O projeto de resolução que V.
Ex.ª, Sr. Deputado Mota Andrade, veio aqui apresentar em nome do Partido Socialista é, no mínimo, — e vou
procurar não adjetivar em demasia — curioso. É curioso porque é um projeto de resolução que visa continuar
as obras e o Sr. Deputado vem fazer aqui uma defesa do programa nacional de barragens do Partido
Socialista.
Protestos do Deputado do PS Mota Andrade.
Mas é também curioso pelo momento em que foi apresentado, Sr. Deputado. Nesse preciso momento, em
outubro de 2012, a UNESCO levantava sérias dúvidas sobre a compatibilidade deste projeto com a
classificação do Douro a Património Mundial.
O ICOMOS (Conselho Internacional de Monumentos e Sítios) tinha vindo a Portugal, tinha produzido um
relatório, o qual levantou as mais sérias dúvidas sobre a sua compatibilidade. Aliás, nesse momento, as
ameaças sobre a manutenção da classificação do Douro a Património Mundial eram enormes.
O Partido Socialista entendeu que este facto não era relevante e, no meio da discussão, num meio em que
era preciso, pelo contrário, negociar com a UNESCO,…
O Sr. Mota Andrade (PS): — Negociar com a UNESCO?!
O Sr. Luís Leite Ramos (PSD): — … que era preciso justificar o projeto, que era preciso justificar a
decisão, veio dizer a esta Câmara: «Não, senhor, deixem-se de conversas, avancem com as obras que o
importante é o betão».
O Sr. Mota Andrade (PS): — Não percebeu nada!
O Sr. Luís Leite Ramos (PSD): — Mas a segunda nota, Sr. Deputado, ainda é mais curiosa: é que o
argumento do Partido Socialista para continuar com as obras era o seguinte: a firme convicção do Grupo
Parlamentar do PS de que as obras eram compatíveis com o Douro a Património Mundial. O que nunca
ocorreu ao Grupo Parlamentar do Partido Socialista, ao Partido Socialista e ao Governo do Partido Socialista
foi trocar umas meras impressões, umas meras ideias, com a UNESCO,…
Vozes do PSD: — Muito bem!
O Sr. Luís Leite Ramos (PSD): — … porque a UNESCO não sabia absolutamente nada sobre este
projeto.
O Partido Socialista, no momento da aprovação do programa nacional de barragens, teve oportunidade de
comunicar à UNESCO este projeto; no momento da avaliação ambiental estratégica, teve oportunidade de
manifestar, junto da UNESCO, o interesse estratégico nacional deste projeto; e no estudo de impacte
ambiental, a mesma coisa. E o Partido Socialista resolveu ignorar completamente a UNESCO, bem como os
alertas do Ministério da Cultura de então, a Direção Regional de Cultura do Norte, que produziu um parecer o
qual levantava sérias reservas sobre a compatibilidade deste projeto com a manutenção do estatuto do Douro
Património Mundial. A própria APA, a Agência Portuguesa do Ambiente, decidiu fazer um parecer em que
punha muitas reservas relativamente à sua compatibilização.