I SÉRIE — NÚMERO 36
54
Relativamente aos argumentos do Partido Socialista, gostaria de realçar um aspeto que me parece
importante. Este diploma legal é importante não só no ato da privatização, mas, sobretudo, no
acompanhamento e na intervenção que o Governo tem de fazer, depois, no escrutínio de eventuais alterações
de posições ou de serviços prestados. E esta dimensão é essencial. Ignorá-la ou pensar que ela não é
importante para o acompanhamento deste processo é ignorar a real dimensão deste problema.
Vozes do PSD: — Exatamente!
O Sr. Luís Leite Ramos (PSD): — Naturalmente que o Governo, no processo das privatizações, tem feito o
escrutínio necessário, como, aliás, foi demonstrado ainda há pouco no debate anterior. O Deputado Duarte
Pacheco teve oportunidade de explicar como é que este escrutínio foi feito nos processos de privatização que
aconteceram e a forma como o Governo garantiu o interesse nacional e que os ativos estratégicos essenciais
fossem defendidos nesse âmbito.
Aliás, a melhor prova de que o Governo defendeu esse interesse foi o processo de privatização da TAP.
Quando entendeu que não estavam garantidas as necessárias condições para esse fim, o Governo travou o
processo, porque considerou que o interesse nacional não estava defendido neste processo.
Relativamente à inclusão do setor das águas neste dossier, eu estava à espera que os Srs. Deputados da
oposição dessem os parabéns ao Governo pela sua não inclusão,…
O Sr. Luís Menezes (PSD): — Claro!
O Sr. Luís Leite Ramos (PSD): — … porque essa é a prova mais evidente de que o Governo não tem
intenção de privatizar o setor da água.
Vozes do PSD: — Exatamente!
O Sr. Luís Leite Ramos (PSD): — No momento em que o Governo anuncia, demonstra factualmente que
não quer privatizar o setor, os Srs. Deputados, que tanto reclamaram contra a privatização, dizem: «Não.
Afinal, não está!»
Naturalmente que nós, Sr. Deputado Rui Paulo Figueiredo, estamos disponíveis para discutir esta inclusão
durante a discussão em sede de especialidade, sobretudo para prevermos tentações e preocupações para
futuros governos. Há um dever de precaução futura que é fundamental assegurar. Mas, relativamente a este
domínio e neste momento — aliás, o Governo já o disse várias vezes e o Sr. Ministro, por ocasião do debate
do Orçamento, já teve ocasião de o assegurar —, o Governo não equaciona, não pondera, não quer, não é
sua intenção privatizar o setor da água.
O Sr. João Oliveira (PCP): — Só no discurso, porque na prática não é assim!
O Sr. Luís Leite Ramos (PSD): — Nesse sentido, julgo que é um falso debate.
Aplausos do PSD e do CDS-PP.
O Sr. Presidente (Ferro Rodrigues): — Para uma intervenção, tem a palavra a Sr.ª Deputada Mariana
Mortágua.
A Sr.ª Mariana Mortágua (BE): — Sr. Presidente, Srs. Membros do Governo, Sr.as
e Srs. Deputados:
Tenho alguma dificuldade em saber por onde começar, se por aquilo que a proposta diz e não devia, se por
aquilo que não diz e devia ou se pelo momento em que a proposta é apresentada.
A verdade é que a combinação destes fatores torna esta proposta num caso de eficácia quase nula, isto é,
temos um título com muito pouco conteúdo, na verdade.
Comecemos por aquilo que a proposta diz. Entende que o interesse estratégico do Estado se deve garantir
limitando o acesso de empresas de países terceiros às empresas portuguesas.