I SÉRIE — NÚMERO 40
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Mas, enfim, Sr. Deputado, para lá disso, penso que é importante, quer gostemos quer não, recordar
algumas partes de um diagnóstico, que até nem é feito por esta bancada mas pela União Europeia, em
relação ao nosso sistema tecnológico e científico.
Sr. Deputado, tem toda razão, somos cimeiros num dos indicadores importantes, que é o número de
investigadores ou doutorados — os dois andam par a par —, em proporção da nossa população. Neste
indicador, estamos à frente da média europeia e no top 5 dos países analisados pela OCDE, o que é uma boa
notícia.
Infelizmente, Sr. Deputado, no que diz respeito ao indicador da Comissão Europeia de excelência, não das
pessoas, mas da investigação produzida, o Sr. Deputado disse que éramos o melhor país do Sul da Europa
mas não é verdade, estamos bem abaixo da média europeia, atrás, por exemplo, do Chipre, da Espanha e da
Itália.
Protestos do PS.
É o número da Comissão Europeia, constante no seu boletim Economic Analysis Unit, o DG Research and
Innovation.
Os países que estão à frente, em excelência, são aqueles em que grande parte do investimento público é
feito em projetos e instituições e não em bolsas individuais, como é o caso da Dinamarca, da Holanda, da
Alemanha ou da Finlândia.
Por isso, o que lhe quero perguntar é se fazemos bem ou não em seguir uma receita que, noutros países,
funcionou para aumentar a excelência na investigação, uma vez que já temos recursos humanos excelentes,
graças à política de vários governos anteriores. Fazemos bem ou não em fazer isto, recordando ao Sr.
Deputado que a execução da FCT, quer para projetos, quer para instituições, sobe, sem parar, desde o ano de
2011?!
Aplausos do CDS-PP.
O Sr. Presidente (Guilherme Silva): — Para responder, tem a palavra o Sr. Deputado Carlos Zorrinho.
O Sr. Carlos Zorrinho (PS): — Sr. Presidente, Sr. Deputado Michael Seufert, tenho muito gosto em fazer-
lhe chegar, oportunamente, um dossier com dezenas de relatórios em que a aposta na ciência e na inovação
em Portugal é considerada, pelas instâncias internacionais, uma aposta-modelo, uma aposta excecional. E a
verdade é que os resultados mostravam-no, mas, agora, desde que os senhores tomaram posse e começaram
a aplicar as vossas políticas, Portugal começou a decrescer em todos os rankings.
Mas, perante a sua intervenção e o facto de o PSD, com toda a legitimidade, não me fazer qualquer
pergunta, gostaria, sobretudo, de retirar uma ilação política que me parece evidente: a austeridade ganhou ao
novo ciclo, a austeridade matou o novo ciclo, o grande derrotado desta política científica chama-se Pires de
Lima, ou, eventualmente, Paulo Portas, na perspetiva de procurar aumentar as exportações e a dinâmica da
economia em Portugal.
Aplausos do PS.
Pires de Lima considerou que o IVA da restauração devia baixar, que o IVA e os preços da energia deviam
baixar para termos uma economia mais competitiva, mas a austeridade venceu o novo ciclo.
Pires de Lima considerou que o salário mínimo devia ser ajustado, devia seguir-se aquilo que, aliás, está
feito em concertação social e aceite pelos patrões e pelos sindicatos, mas a austeridade venceu o novo ciclo.
Ouvi, ontem, Pires de Lima a falar da competitividade, em Espanha, a prometer uma economia portuguesa
inovadora, a prometer uma economia portuguesa de valor acrescentado, mas, ao mesmo tempo que o
promete, está aqui a ser atraiçoado pela austeridade. Mais uma vez, o novo ciclo é morto pela austeridade, por
uma austeridade sem sentido e sem critério.
Aplausos do PS.