I SÉRIE — NÚMERO 42
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A Sr.ª Presidente: — Queira terminar, Sr. Deputado.
O Sr. Pedro Delgado Alves (PS): — Vou terminar, Sr.ª Presidente.
De facto, há um debate ao qual não devemos ficar alheios, mas também não devemos confundir as origens
do problema e não devemos, por vezes, procurar uma intervenção pressionados pelo momento, pela
dificuldade do momento e pelo contexto em que hoje somos chamados a pronunciar-nos. Devemos, sim, olhar
de forma estruturada para um problema que já é antigo.
Aplausos do PS.
A Sr.ª Presidente: — Sr. Deputado, o tempo para cada pedido de esclarecimento é de 2 minutos, mas
houve uma distração da Mesa. Não foi generosidade, foi tão-só distração.
Para responder, tem a palavra o Sr. Deputado Luís Fazenda.
O Sr. Luís Fazenda (BE): — Sr.ª Presidente, Sr. Deputado Pedro Delgado Alves, afirmei, em nome do
Bloco de Esquerda, que não há necessidade de uma legislação extraordinária acerca daquilo que são
violências e abusos que já são punidos por lei, quer em termos de Direito Penal quer em termos disciplinares.
Tudo isso já está contido na legislação atual e em vários mecanismos. Não se trata disso.
Não há uma medida de bom senso para resolver uma coisa que não tem senso. As praxes não têm senso.
As praxes, elas próprias, mesmo quando não são violentas, não são inócuas. Qual é a ideia da praxe? A ideia
da praxe é a de que há uma submissão dos mais novos àqueles que já se encontram na instituição, há uma
hierarquia, há sanções, à partida, para os participantes na comunidade escolar.
Portanto, o que há é uma desigualdade, há um ataque a direitos de cidadania e há uma integração
académica que é opressiva. Ora, nada disto tem senso. Tendencialmente, a praxe académica é um abuso, é
uma denegação de direitos fundamentais, é uma constrição sobre direitos de personalidade. E isso é
inaceitável.
Portanto, a escola pública e as escolas em geral devem intervir neste processo. Mas não devem intervir
para corrigir abusos, devem intervir para combater culturalmente aquilo que, à partida, é um abuso. A escola
não pode ser neutra. Os reitores e os presidentes dos politécnicos não podem «lavar as mãos». O Sr.
Secretário de Estado do Ensino Superior não pode ser um Pilatos, o Ministro da Educação não pode
acompanhar essa atitude.
Assim, a escola tem de dizer aos novos e às novas estudantes que é normal não participar em praxes, é
normal ter outras atividades, ter formas de integração cidadãs e combater uma cultura que não é uma cultura
democrática. Não tem de proibir esse tipo de manifestações culturais, isso não se faz assim num jogo
democrático. Mas essas manifestações culturais têm de ser reduzidas à sua insignificância e ao seu caráter
reacionário e retrógrado.
Portanto, as autoridades académicas têm a obrigação de tomar partido nesta questão; não têm a obrigação
de olhar para o lado e só atuar em situações extremas.
É por isso que dizemos que não é meramente uma questão de bom senso, é uma questão política, é uma
questão cultural e uma questão de respeito profundo pelos valores constitucionais que alimentam a escola
pública e o direito a ensinar, em Portugal.
Aplausos do BE.
A Sr.ª Presidente: — Para pedir esclarecimentos, tem a palavra o Sr. Deputado Hélder Amaral.
O Sr. Hélder Amaral (CDS-PP): — Sr.ª Presidente, Sr. Deputado Luís Fazenda, quero começar por dizer,
em nome da bancada do CDS, que a nossa disponibilidade é total, no sentido de fazer tudo o que for possível
para que, em Portugal, não haja praxes «estúpidas» (usando um termo já aqui utilizado), perigosas ou que,
até, no limite, configurem ilícitos criminais.